Evolução
Análise do DNA do lobo das Malvinas permitiu descobrir como o animal fez a travessia de 480 quilômetros entre o continente e as isoladas Ilhas Malvinas
Pintura mostra o lobo das Malvinas, único mamífero nativo das Ilhas Malvinas, extinto por caçadores em 1876
(Michael Rothman, Ace Coinage Inc)
Pesquisadores da Universidade de Adelaide, na Austrália, resolveram um
mistério que há 320 anos deixava estudiosos perplexos: como o lobo das
Ilhas Malvinas (Dusicyon australis) teria chegado a essas
isoladas ilhas, a cerca de 480 quilômetros de distância da Argentina, e
se tornado o único mamífero terrestre a habitar a região. O estudo que
descreve essa conclusão foi publicado nesta terça-feira, no periódico Nature Communications.
Conheça a pesquisa
TÍTULO ORIGINAL: The origins of the enigmatic Falkland Islands wolfONDE FOI DIVULGADA: periódico Nature Communications
QUEM FEZ: Jeremy J. Austin, Julien Soubrier, Francisco J. Prevosti, Luciano Prates, Valentina Trejo, Francisco Mena e Alan Cooper
INSTITUIÇÃO: Universidade de Adelaide, Austrália
RESULTADO: O lobo das Malvinas se diferenciou de seus ancestrais e teria colonizado as ilhas Malvinas há 16.000 anos, não 330.000, como estudos anteriores mostravam. Ele realizou a travessia do continente para o arquipélago por meio de um estreito, possível devido ao baixo nível do mar e seu congelamento.
Teorias anteriores sugeriram que o animal poderia ter flutuado sobre
vegetação ou blocos de gelo, atravessado por alguma ponte que atualmente
estaria submersa ou mesmo ter sido transportado por humanos do
continente até o arquipélago.
A questão foi levantada em 1690, por exploradores britânicos, e já
intrigou até Charles Darwin, quando encontrou o animal pela primeira vez
durante uma viagem na embarcação Beagle, em 1834. A caça provocou a extinção do lobo das Malvinas em 1876.
Para a realização desse estudo, os pesquisadores extraíram amostras do
crânio de um espécime do lobo das Malvinas coletado por Darwin e outro
exposto no Museu Otago, na Nova Zelândia.
Parente extinto — Estudos anteriores mostravam que o lobo das Malvinas teria divergido geneticamente do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) há cerca de sete milhões de anos e estimavam que o lobo das Malvinas teria colonizado o arquipélago há cerca de 330.000 anos.
De acordo com Jeremy Austin, integrante do grupo de pesquisadores, os
estudos anteriores não incluíam um parente extinto do lobo das Malvinas,
o Dusicyon avus, que habitava a América do Sul. "Nós extraímos o DNA de seis exemplares de Dusicyon avus coletadas
no Chile e na Argentina e o comparamos com um grande grupo de espécies
extintas ou não da mesma família", disse Austin.
As análises mostraram que o Dusicyon avus era o parente mais próximo do lobo das Malvinas e eles se distanciaram há apenas 16.000 anos.
Porém ainda restava saber como o animal teria realizado a travessia. "O
momento de descoberta foi quando encontramos evidências de planaltos
submarinos na costa da Argentina", afirmou Alan Cooper, integrante do
estudo.
Os pesquisadores concluíram que durante o último máximo glacial
(ocorrido entre 25.000 e 18.000 anos atrás) o nível do mar desceu
drasticamente na região, permitindo que um estreito ligasse o
arquipélago ao continente. O lobo teria atravessado esse estreito quando
o mar estava congelado.
A ausência de outros mamíferos na região pode ser explicada pelo fato
de que animais menores, como ratos, não são capazes de atravessar o
gelo.
FONTE: Revista Veja/Ciência
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