Paleontologia
Fósseis achados na China têm mais de 190 milhões de anos e preservam material orgânico em seu interior
Segundo os cientistas, os dinossauros se moviam dentro dos ovos, do mesmo modo como fazem as aves modernas
(Ilustração por D. Mazierski)
Um grupo de pesquisadores encontrou, na província de Yunnan, na China,
ossos de embriões de dinossauros com mais de 190 milhões de anos — são
os vestígios mais antigos de embriões desses animais já encontrados.
Foram desencavados mais de 200 ossos, pertencendo a 20 indivíduos em
estados diferentes de desenvolvimento, o que possibilitou aos
pesquisadores estudarem, de modo inédito, o crescimento dos dinossauros
ainda dentro dos ovos. A pesquisa foi publicada nesta quarta-feira na
revista Nature.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Embryology of Early Jurassic dinosaur from China with evidence of preserved organic remains
Onde foi divulgada: periódico Nature
Quem fez: Robert R. Reisz, Timothy D. Huang, Eric M. Roberts, ShinRung Peng, Corwin Sullivan, Koen Stein, Aaron R. H. LeBlanc
Instituição: Universidade de Toronto, no Canadá
Dados de amostragem: Mais de 200 ossos pertencentes a embriões de dinossauros, encontrados na província de Yunnan, na China
Resultado: Os pesquisadores descobriram que eles pertenceram a cerca de 20 indivíduos em estágios diferentes de desenvolvimento, o que permitiu que estudassem como os dinossauros se desenvolviam ainda dentro do ovo
Os ossos descritos no estudo pertenciam a embriões do Lufengosaurus,
um dinossauro muito comum na região no começo do Período Jurássico. De
pescoço longo, ele chegava a medir oito metros quando adulto. Os fósseis
encontrados pelos pesquisadores são extremamente raros. Em primeiro
lugar, por causa de sua idade: a maioria dos outros vestígios de
embriões de dinossauros pertencem ao Período Cretáceo, dezenas de
milhões de anos depois dos Lufengosaurus terem habitado a Terra.
Sua importância também pode ser explicada pela alta quantidade de
indivíduos da mesma espécie encontrados. Normalmente, os pesquisadores
descobrem ninhos de dinossauros com apenas um ovo. Dessa vez, eles
pensam ter encontrado em um mesmo local vários ninhos diferentes, com
embriões em estágios distintos de seu crescimento. Assim, os cientistas
puderam estudar os padrões de desenvolvimento do animal. “Estamos
abrindo uma nova janela para a vida dos dinossauros. Essa é a primeira
vez em que somos capazes de rastrear o crescimento de dinossauros no
estágio embrionário, enquanto eles se desenvolviam”, diz Robert Reisz,
pesquisador da Universidade de Toronto responsável pelo estudo.
Os pesquisadores focaram suas análises no maior osso do embrião: o
fêmur. Segundo o estudo, esses ossos mostraram uma rápida taxa de
crescimento, dobrando de tamanho — de 12 para a 24 milímetros — ainda
dentro do ovo. Essa velocidade pode indicar que os dinossauros
saurópodes, como o Lufengosaurus, passavam por um curto período de incubação.
Fósseis foram preservados por mais de 190 milhões de anos em sedimentos encontrados em Yunnan, na China
A análise também mostrou que os fêmures dos animais passavam por
mudanças em seu formato enquanto os embriões se desenvolviam. Exames da
anatomia e da estrutura interna do osso mostraram que o movimento dos
músculos tinha um papel importante nessa alteração de formato. “Isso
sugere que os dinossauros, assim como as aves modernas, se moviam dentro
dos ovos. É a primeira evidência desse tipo de movimento nos
dinossauros”, disse Reisz.
Proteínas antigas - Os paleontólogos também
descobriram evidências de material orgânico dentro dos ossos. Ao fazer
análises químicas dos fósseis, eles encontraram restos de fibra de
colágeno, uma proteína normalmente encontrada em esqueletos. "Os ossos
de animais antigos são transformados em rocha durante o processo de
fossilização. Ter encontrado restos de proteínas nesses embriões é
realmente incrível, especialmente porque os espécimes são mais de 100
milhões de anos mais antigos do que outros fósseis que contenham
material orgânico semelhante”, diz Reisz.
Até agora, apenas um metro quadrado do sítio paleontológico em Yunnan
foi escavado, mas a área já revelou, além dos ossos, pedaços de cascas
de ovo — as mais antigas já encontradas de qualquer vertebrado
terrestre.
FONTE: Revista Veja/Ciência
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