HENRY FOUNTAIN
DO "NEW YORK TIMES"
DO "NEW YORK TIMES"
"A onda fazia barulho feito um trem", disse ele, descrevendo a pororoca
que subia do golfo da Califórnia pelo rio Colorado. "Havia peixes de
todo tipo pulando. Aí os golfinhos apareciam, perseguindo os peixes."
Isso foi na década de 1950, quando o Colorado ainda desaguava no golfo,
carregando areia e lodo das montanhas Rochosas para formar um delta
vasto e fértil. No último meio século, por causa das represas que
estrangularam o Colorado e desviaram sua água para abastecer o
crescimento do oeste americano, o rio na prática passou a terminar na
fronteira com o México.
Fred R. Conrad/The New York Times |
Leito seco do rio Colorado |
Os manguezais e sinuosos canais do delta do Colorado --outrora um refúgio para peixes e aves migratórias-- viraram um deserto.
Em 1963, a última das grandes barragens do Colorado, a do cânion Glen,
começou a reter água 1.100 km a montante. "O rio não chega mais até
aqui", disse Muñoz.
Mas agora há razão para otimismo. Uma emenda em um tratado firmado sete
décadas atrás pelo México e os EUA, chamada de Minuta 319, fará com que a
água volte a correr rio abaixo e irá amparar os esforços para restaurar
o habitat nativo e atrair animais.
O delta continuará sendo um filete de água em comparação aos enormes
volumes bombeados para as cidades, fazendas e indústrias, mas a emenda
também prevê uma grande liberação de água de uma só vez, para imitar as
inundações que antigamente rejuvenesciam o delta a cada primavera,
limpando os sedimentos e a vegetação velha e abrindo áreas para que
novas plantas crescessem. Durante essa enxurrada, o Colorado deverá
novamente alcançar o mar.
"O novo acordo irá definitivamente ajudar a restaurar o Colorado", disse
Efraín Nieblas, diretor da agência de proteção ambiental do Estado
mexicano da Baixa Califórnia.
No estuário da extremidade norte do golfo, o afluxo de água mais fresca
irá reduzir a salinidade, o que será bom para os indígenas da etnia
cucapá e para outros nativos que pescam corvinas e camarões no local. "É
realmente importante conectar o rio ao oceano", disse Nieblas.
O delta nunca mais será como era antes das represas --o canal principal
do rio, por exemplo, chamado de corredor ripário, está agora em grande
parte cercado por lavouras irrigadas--, e Muñoz certamente não voltará a
ver os golfinhos brincando na frente da sua casa. Mas ambientalistas
americanos e mexicanos dizem que o acordo é um bom primeiro passo. O
objetivo é restaurar em cinco anos cerca de 900 hectares a montante e a
jusante, a um custo de US$ 8,5 milhões.
Cerca de 90% do fluxo anual do Colorado, de cerca de 18 trilhões de
litros, vai para a Califórnia, o Arizona e cinco outros Estados do oeste
dos EUA. Pelo tratado de 1944, o México tem direito a quase 2 trilhões
de litros. Essa água chega à fronteira na represa de Morelos, a última
do rio, onde ela faz uma acentuada curva à direita, entrando em canais
que a levam a cidades e fazendas mexicanas.
Geralmente, a água não chega ao outro lado da represa e ao leito
principal. Há água do Colorado em partes do delta, mas ela fica dando
voltas por lá. A leste do leito fluvial, o Ciénaga de Santa Clara, um
manguezal que serve de parada para aves aquáticas migratórias, é
alimentado pela água drenada dos algodoais irrigados do Arizona.
No entanto, há a necessidade de mais água, e ela deve vir pelo corredor
ripário. O rio precisa fluir. Como parte do acordo, grupos
ambientalistas se comprometeram a fornecer a água para o fluxo básico,
cerca de 13 bilhões de litros por ano, adquirindo licenças ociosas para o
uso da água de agricultores mexicanos.
A ideia não é reduzir o volume usado por lavouras e cidades, segundo
Francisco Bernal, diretor do escritório de Mexicali da Comissão
Internacional de Limites e Águas, mas poupar água por meio de melhorias
na conservação --das quais algumas serão pagas por distritos hídricos
nos EUA em troca de parte da água mexicana. "Queremos conservar água
suficiente para partilhar com o ambiente", afirmou ele.
FONTE: Folha.com/Ciência
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