O Brasil é um país surgido em 1822, com menso de duzentos anos, portanto. No entanto, em relação a outros países, como a Itália e Alemanha, o Brasil é um país antigo, tendo em vista que esses só formaram seus Estados nacionais, a partir da década de 1860 e demoraram muito mais tempo que o Brasil para adquirir, por exemplo, uma língua nacional. Quando da Unificação Italiana, calcula-se que menos de 5% da população da Península Itálica soubessem se expressar em italiano e, após tantos séculos vivendo em cidades e reinos independentes, os italianos demoraram a indentificar-se com o novo Estado nacional. O Brasil, com uma língua nacional difundida em um imenso território, possuía no português um forte fator de unidade e, nesse sentido, pode dizer-se que é um país dos mais antigos.
O leitor perguntar-se-á por que, em um livro sobre a Pré-História, os autores divagam sobre a nação brasileira. mas como falar em Pré-História do Brasil, sem começar por esclarecer o que é o Brasil? O Brasil é um Estado nacional, um tipo de organização social, política e econômica muito recente, surgida em fins do século XVIII e que, aqui, começou a adquirir formas concretas em 1822, com a proclamação da Independência.
Durante a maior parte da história, antes do surgimento dos Estados nacionais, as pessoas em geral se identificavam como oriundos de suas cidades, suas pátrias. Em italiano, "paese" significa antes de tudo "cidade", "aldeia" (só muito depois passou a significar "país"), como também em nossa língua, a palavra "país" era usada para designar a região onde se nasceu, com seu dialeto, costumes, sabores e leis próprias. Antes da época dos Estados nacionais, as pessoas também podiam se indentificar com grandes estados, impérios, nos quais se falvam muitas línguas, com costumes variados, povos de origem e tradições diferenciados. Exemplos de Estados imperiais foram o Império Romano, o Império Espanhol e o Império Austro-Húngaro, com suas miríades de povos, culturas e línguas, em território descontínuos.
Os Estados nacionais, surgidos no final do século XVIII, começaram a substituir as antigas cidades e os Impérios, criando países baseados nas noçoes de um povo, com uma língua e uma cultura mais ou menos homogênea, em território delimitado e, em geral, contínuo. Assim é o Brasil que surge em 1822. Antes disso, o que chamamos de Brasil fazia parte de um Império, comandado pelo Reino de Portugal, espalhado pelos quatro continentes (Europa, África, Àsia e América, por ordem de conquista portuguesa), com múltiplos idiomas em uso, composto por muitíssimos povos de diferentes origens e tradições. No território que viria a ser o Brasil, , nos três primeiros séculos de colonização portuguesa, falaram-se muitas línguas (português, mas também a "língua geral", uma linguagem que mescla português e tupi, numerosas línguas indígenas, línguas africanas, espanhol, holandês...) e escreveram-se também em algumas delas (português, latim, "língua geral", espanhol, holandês...) Os próprios limites do território do Brasil só viriam a ser fixados, aproximando-se do que é hoje, no Tratado de Madri, de 1750, entre Espanha e Portugal.
Agora leitor, começa a ficar mais claro que o Brasil é uma invenção, por assim dizer, recente e que quando se fala em "Brasil colonial", como aprendemos na escola e nos livros, estamos transpondo para o passado um conceito de nação brasileira que é nosso, de nossa época, para um período que não existia o país. O leitor não se assuste, isso é natural, pois só podemos olhar para o passado por nossas próprias lentes, e seria ainda mais enganoso pensarmos que poderíamos nos desvencilhar do presente. è preciso, no entanto, ter em mente que o "Brasil" não é anterior a 1822 e que sempre que usarmos o termo "Brasil", estaremos nos referindo ao território que hoje faz parte do nosso país, e não ao nosso Estado nacional.
Fonte: PRÉ-HISTÓRIA DO BRASIL ( Pedro Paulo Funari e Francisco Silva Noeli )
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