Capadócia
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A Capadócia (em turco: Kapadokya, em grego: Καππαδοκία, Kappadokía) é uma região histórica e turística da Anatólia central, na Turquia.[nt 1]
A noção de "Capadócia" é tanto geográfica como histórica, tendo os seus contornos variado consideravelmente, conforme as épocas e pontos de vista. O geógrafo e historiador grego Heródoto considerava que a Capadócia estava delimitada pelos Montes Tauro a sul, pelo Lago Tuz (em turco: Tuz Gölü) a leste, pelo rio Eufrates a leste, e pelo Mar Negro a norte,[nt 2] uma área que, com algumas variações, foi sucessivamente uma satrapia (província) persa, satrapia do Império Macedónio, Reino da Capadócia e província romana.[1]
[nt 2] Atualmente, o termo Capadócia tanto pode referir-se a uma área de aproximadamente 15 000 km² entre Aksaray, Hacıbektaş, Kayseri e Niğde,[2][nt 1] como a uma área muito mais restrita, o triângulo com aproximadamente 20 km de lado delimitado por Nevşehir, Avanos e Mustafapaşa, a sul de Ürgüp, sendo esta última zona a mais conhecida em termos turísticos.[2] Em muitos mapas, o nome da Capadócia não é mencionado, já que não corresponde a qualquer demarcação política. cuja população total não chega ao milhão de habitantes,
Em alguns contextos, principalmente na Antiguidade, o termo Capadócia designa uma região ainda mais vasta que a descrita por Heródoto, estendendo-se à costa mediterrânica a sul e quase até o que é hoje a ArméniaEstrabão chama Cilícia à zona administrativa do que é hoje Kayseri, a antiga Cesareia e Mazaca, um termo que é mais usualmente aplicado, pelo menos em registos mais recentes, à região costeira do sul/sudeste da Anatólia. Quanto à região mais a norte, historicamente é usualmente mais associada com o Ponto.[nt 3] a norte. O historiador grego
As características mais distintivas da região são as formações geológicasvulcânicos e da erosão, e o seu rico património histórico e cultural, nomeadamente cidades subterrâneas e inúmeras habitações e igrejas escavadas em rocha, muitas destas com admiráveis frescos. Em 1985, o Parque Nacional de Göreme, uma das áreas mais famosas da região, com 9 576 ha, foi declarada Património Mundial pela UNESCO.[nt 1] únicas, resultado de fenómenos
Índice[esconder] |
[editar] Introdução
A região é habitada desde há milhares de anos continuamente. Algumas civilizações antigas floresceram aqui, como a dos Hititas, tendo a região sido ocupada e sofrido influências de outras civilizações originárias da Europa e da Ásia Menor, tendo todas elas deixado a suas marcas.
As características geológicas deram origem a paisagens que são frequentemente descritas como lunares, se bem que a região não seja desértica. As rochas da região, principalmente tufo calcário,[carece de fontes]paisagens lunares abundem cavernas naturais e artificiais, algumas delas ainda habitadas. adquiriram formas caprichosas ao longo de milhões de anos de erosão, e são suficientemente macio para permitir que os humanos construam as suas habitações escavando-as, em vez de erigir edifícios, o que faz com que nessas
A situação geográfica da Capadócia, tornou-a encruzilhada de rotas comerciais importantes ao longo dos séculos e tornou-a alvo de contínuas invasões. Para se refugiarem durante as invasões e razias, os habitantes construíram refúgios subterrâneos, por vezes verdadeiras cidades, supondo-se que as mais antigas podem remontar ao tempo dos Hititas, há mais de 3000 anos, e que muitas ainda estarão por descobrir. Algumas podem ser visitadas, como é o caso das de Derinkuyu, Kaymakli, Özkonak e Mazi. Estas cidades teem vários níveis — a de Kaymakli, por exemplo, tem nove, embora apenas quatro estejam abertos ao público, estando as outras reservadas para investigação arqueológica e antropológica, — e dispõem de canais de ventilação, cavalariças, padarias, poços de água e tudo o mais necessário para que os seus ocupantes, cujo número podia alcançar os 20 000, pudessem resistir durante vários meses sem que fossem detectados pelos invasores. Durante o período bizantino, algumas destas construções subterrâneas foram transformadas em igrejas e decoradas com frescos nas paredes e tetos.
[editar] Origem e significado do nome
Crê-se que o nome Capadócia provém do vocábulo hitita Katpadukya[nt 1] (terra de cavalos de raça).[3] Outras fontes[nt 2] apontam a origem do nome nos persas, que chamaram à região Katpatuka (igualmente "terra de cavalos de raça" ou de "terra de belos cavalos"). No entanto, o termo Katpatuka não é de origem persa, embora Heródoto referisse na sua descrição da conquista da Lídia pelos Hititas que era esse o nome dado à região pelos persas. Os gregos chamavam à região Leucosyri (Λευκόσυροι, (sírios brancos).[4]
A fama dos cavalos da região remonta, pelo menos, ao tempo dos assírios. Há registos dos reis Assurbanípal (século VII a.C.), da Assíria, Dario I (521-485 a.C.) e o seu filho Xerxes (519-465 a.C.), da Pérsia, terem recebido como presente cavalos da Capadócia, e Estrabão relata que os cavalos faziam parte do tributo da região aos persas.[5]
[editar] Geografia e geologia
Toda a região se encontra num planalto com aproximadamente 1 000 m de altitude, o que, aliado à sua situação muito interior, explica o seu clima marcadamente continental, com verões quentes e secos e invernos frios com neve. A precipitação é esparsa e a maior parte da região é semi árida quando não mesmo árida.[6][nt 3]
A paisagem única da região é o resultado da ação de forças naturais ao longo de milhões de anos.
Há 60 milhões de formou-se a cordilheira de Tauro, na Anatólia meridional, ao mesmo tempo que se formavam os Alpes. A formação daquela cordilheira deu origem a numerosas elevações e depressões na Anatólia central.[nt 1]
A atividade dos vulcões da Capadócia, nomeadamente o Argeu (Erciyes), Hasan, Acıgöl, Göllü e Melendiz, entre o Miocénico superior, há cerca de 10 milhões de anos, até ao Pliocénico, há cerca de 2 milhões de anos, cobriram a região de estratos ignimbriticos de diferentes densidades. No início do Quaternário, depositaram-se lavas basálticas bastante mais duras. Calcula-se que, só o Erciyes terá originado depósitos que cobriram 10 000 km² com uma espessura entre 100 e 500 metros.[nt 2]
Sob o efeito do arrefecimento do clima no Quaternário, a crosta basáltica abriu fendas e o solo desagregou-se, permitindo que a água e neve se infiltrassem e acentuassem a erosão, mais acentuada nos estratos mais macios, isolando cones de material mais resistente e escavando vales. Durante os períodos mais secos, foi a erosão dos ventos e da areia por eles levantada que foi mais determinante na modificação da paisagem. Este tipo de erosão é mais notável na superfície dos cones. Quando na parte superior destas elevações existe rocha basáltica, mais resistente ao efeito abrasivo, são formadas as chamadas chaminés de fadas, as quais são cones coroados por grandes pedras praticamente planas, que tanto aparecem isoladas, como em grupo, criando paisagens insólitas.[5] Com a continuação do efeito da erosão, os pedestais dos blocos basálticos acabam por colapsar.
As zonas sem basalto deram origem a vales, as zonas de tufo macio desagregaram-se completamente, formando zonas planas poeirentas, enquanto que nas encostas, a erosão esculpiu desfiladeiros, mesas, escarpas, pirâmides de 15 a 30 metros, picos, agulhas que por vezes lembram minaretes, cones e chaminés de fadas. A erosão continua nos nossos dias: os picos e cones atuais vão desaparecendo lentamente, ao mesmo tempo que outros se estão a formar nas encostas à beira dos planaltos.
A tufa desagregada dá origem a um solo muito fértil quando é irrigado e adubado com o fertilizante típico da zona, fezes de pombo.[5]
Embora os vulcões se tenham praticamente extinguido no 2º milénio a.C., há indícios de erupções mais tardias, nomeadamente uma em 253 a.C.[nt 2]
Algumas das povoações mais importantes da região:
Alguns dos locais com mais interesse para o visitante:
- Museu ao ar livre de Göreme;
- Peribacalar vadisi (vale das chaminés de fada);
- Cidades subterrâneas de Derinkuyu, Özkonak, Tatlarin, Mazi e Acigöl;
- Vale de Zelve;
- Vale de Soganli;
- Vale de Soganli;
- Vale de Ihlara
- Gomeda;
- Diversas igrejas bizantinas, a maior parte das quais em cavernas, como sejam as de El Nazar e Aynali
[editar] História
[editar] Çatalhüyük e Puruskanda
Çatalhüyük foi um povoado Neolítico situado a sul do que é hoje Konya, aproximadamente 200 km a este-sudeste de Aksaray. Durante alguns anos apontado por muitos como o mais antigo exemplo conhecido de povoamento urbano em todo o mundo, data do 7º milénio a.C.. Aí foi encontrado o que se considera o começo da história da Anatólia. Trata-se de um fresco mural, que apresenta em primeiro plano as casas da localidade, e ao fundo um vulcão fumegante em erupção. Crê-se que esse vulcão sejam o Hasan Dag, distante aproximadamente 300 km de Çatalhüyük. O fresco está exposto no Museu das Civilizações da Anatólia, em Ancara, e é provavelmente a pintura paisagística mais antiga do mundo.[nt 1]
Entre o 6º e o 5º milénios a.C., a Capadócia tinha vários principados independentes. A cidade mais importante desse período era Puruskanda. No século XXIII a.C. 17 destes principados uniram-se para lutar contra o rei acádioNaram-Sin, no que foi a primeira de muitas alianças na história da Anatólia e Capadócia.
Os primeiros habitantes conhecidos da Capadócia foram os hatitas, cuja capital, Hattusa, situada a aproximadamente 200&km a norte de Nevsehir, seria posteriormente a capital dos Hititas.[7] A civilização hatita remonta ao 4º milénio a.C., época dos achados mais antigos de Alacahöyük,[nt 2] a estação arqueológica mais importante dessa civilização, situada a pouco mais de 20 km a norte de Hattusa.
[editar] Colónias comerciais assírias
No início do 2º milénio a.C., a Anatólia viveu um período florescente, tendo atraído numerosos habitantes. Os assírios, célebres pelas suas qualidades comerciais, instalaram-se na região, atraídos pelas suas riquezas, principalmente minerais, organizando bazares chamados kârum. O kârum mais importante foi o da cidadela de Kanesh (hoje Kültepe), a Neša dos hititas. Os assírios vendiam estanho, têxteis e perfumes, e compravam ouro prata e cobre.[nt 1]
Este tipo de comércio durou aproximadamente 150 anos, tendo acabado devido a guerras entre reinos da região. Em 1925, uma equipa de arqueólogos descobriu em Kültepe as Tábuas da Capadócia, que descrevem a colónia mercantil dos tempos assírios e que são o documento escrito mais antigo sobre a história da Capadócia.[nt 1][8]
[editar] Império hitita
Há poucas certezas quanto à origem da civilização hitita,[nt 1] embora alguns acreditem que são originários precisamente da Capadócia,[nt 3] mas é certo que ela floresceu na Anatólia central, com a Capadócia incluída, no 2º milénio a.C. tendo Hattusa (perto da atual Boğazkale, até recentemente, Boğazköy) como capital.[nt 1]
Os hititas fundaram vários povoados em conjunto com os habitantes locais e constituíram um império que se estendia até à Babilónia. O império durou cerca de 600 ou 700 anos, e pôs fim à dinastia semita de Hamurabi na Babilónia. Os séculos XV e XVI a.C. foram especialmente importantes na história hitita, marcando o apogeu da civilização. Alguns séculos mais tarde, as guerras com o Antigo Egipto, que culminariam no célebre tratado de paz de Kadesh, de 1286 a.C., desgastaram o império, que acabaria por desmoronar-se cerca de 1200 a.C., com a chegada de invasores provenientes da Europa oriental, os povos do mar e os frígios.[nt 2]
Após a queda do império hitita, e até ao século VII a.C., a Capadócia atravessou o período mais obscuro da sua história.[nt 1] Cerca de 1100 a.C. foi invadida pelo rei assírio Tiglath-Pileser I, sendo reconquistado pelos frígios no século IX a.C. e pela Lídia, em 696 a.C. Os medos ocupam parte do território alguns anos mais tarde, e os cimérios fazem algumas incursões entre 650 e 630 a.C.
[editar] Império Persa Aqueménida
A Capadócia foi conquistada pelos persas aqueménidas em 546 a.C., durante o reinado de Ciro II, tendo-se mantido nessa situação até à conquista por Alexandre Magno, dois séculos mais tarde.
Os persas dividiram a Anatólia em províncias (satrapias) cuja administração estava a cargo de governadores (sátrapa) nomeados pelo imperador. Desde o reinado de Dario I que a Capadócia integrou a terceira satrapia. Embora formalmente fazendo parte do Império Aqueménida, a Capadócia mantém uma grande autonomia, sendo dirigida por uma aristocracia local de tipo feudal.[nt 2]
As províncias estavam ligadas ao porto de Éfeso (perto da atual cidade de Selçuk, na província de Esmirna [em turco: Izmir]) pela Estrada Real Persa, que começava nessa cidade e passava pelas cidades de Sardes (antiga capital do reino de Lídia, em turco: Sart) e Mazaca (atualmente Kayseri), chegando até à Mesopotâmia e Susa, a capital do império. Os sátrapas enviavam para a Pérsia os impostos que cobravam em forma de ouro, carneiros, burros e os famosos cavalos da Capadócia.[nt 1]
[editar] Período helenístico
Em 330 a.C. a Capadócia torna-se independente com o rei Ariarate I, que reconhece simbolicamente a suserania de Alexandre, o Grande
No século IV a.C., o conquistador macedónio Alexandre, o Grande, empreendeu a conquista da Ásia Menor (atual Anatólia), depois do célebre incidente do "nó górdio", em 334 a.C., arrebatando a região da posse dos persas. Alexandre deixou o seu lugar-tenente Cabictas no governo da Capadócia, a qual esteve sob domínio macedónio até à morte de Alexandre, em 323 a.C.[nt 1] No ano seguinte, a região recuperaria a independência sob a liderança do rei Ariarate I.[nt 4] Este já teria declarado a independência em relação aos persas em 330 a.C., tendo então reconhecido simbolicamente a suserania de Alexandre.[nt 2]Ariarate II, em 301 a.C.[nt 5] Outras fontes referem que a independência só seria obtida pelo sobrinho e filho adotivo de Ariarate,
Segundo outras fontes[nt 3], Alexandre nunca teria chegado a dominar a Capadócia, tendo Ariarate, um aristocrata persa, ascendido a rei logo em 332 a.C. e vivido em paz com os macedónios até à morte de Alexandre. Na divisão do império que se seguiu, a região coube a Eumenes de Cardia, que consiguiria valer os seus direitos em 322 a.C., quando o seu regente Pérdicas cruxificou Eumenes. No entanto, as dissensões surgidas entretanto acabariam por levar ao trono da Capadócia Ariarates II.
[editar] Período romano
A longa história de relações da Capadócia com os romanos iniciou-se com o rei Ariarate IV, que reinou entre 220 e 163 a.C., que apoiou o seu sogro, o rei selêucida Antíoco III Magno contra os romanos, mas posteriormente viria a aliar-se a estes na guerra contra Perseu da Macedónia.[nt 6]
A Capadócia continuaria aliada da República Romana. Segundo o historiador romano Tito Lívio, o filho de Ariarate IV, Ariarate V, teria sido educado em Roma, embora muitos estudiosos pensem que é mais plausível que tenha estudado em Atenas. Em 157 a.C., o rei selêucida Demétrio I coloca no trono da Capadócia Orofernes, irmão ou meio-irmão de Ariarate, o que obriga este a exilar-se em Roma. Recuperará o poder com o auxílio dos romanos.[nt 7]
Em 130 a.C., Ariarate V apoiou o procônsul romano Crasso (Públio Licínio Crasso Dives Muciano) contra Eumenes III (também conhecido como Aristónico), pretendente ao trono de Pérgamo (atual Bergama).[nt 8] Este derrotou as forças romanas e capadócias, tendo Ariarate morrido em combate. Eumenes foi posteriormente vencido, tendo Roma conseguido fazer cumprir o testamento do último rei atálida, Átalo III, morto em 133 a.C., que legou o seu reino à República Romana, [nt 9]
A morte de Ariarate abriu um período de lutas internas pelo poder entre a família real da Capadócia, com assassinatos, guerras e muitos jogos de poder por parte de potências vizinhas. Estas turbulências acabaram por ditar o fim da dinastia, em 93 a.C., quando um líder local, Ariobarzanes foi declarado rei com o apoio do general e político romano Sila[nt 10] e de Mitrídates VI do Ponto. No entanto, ainda em 93 a.C., as tropas de Tigranes, o Grande, da Arménia, invadiram a Capadócia e colocaram no poder Górdio.[nt 3] Segundo alguns, Ariobarzanes recuperaria o poder com o apoio de Sila logo no ano seguinte.[nt 11] Segundo outros, isso só aconteceria em 63 a.C.[nt 3][nt 1]
Oportunisticamente, os reis da Capadócia, uma região que na prática se tinha tornado um protetorado romano, foram sucessivamente aliados de Pompeu, Marco António e, por fim, Augusto durante as guerras civis romanas.[nt 2]segunda (49-45 a.C.), que opôs Pompeu a Júlio César, o rei Ariobarzanes III foi aliado do primeiro, mas após a vitória de César, este manteve-o no poder e inclusivamente aumentou-lhe o reino. Em 42 a.C., Ariobarzanes III foi declarado traidor pelos Marco Júnio Bruto e Caio Cássio Longino, conspiradores no assassínio de César, tendo sido executado por Cássio.[nt 12]. Durante a
A relativa independência foi mantida até 17 d.C., ano em que o imperador romano Tibério depõe o seu vassalo, o rei Arquelau e declara a região uma província romana, constituída, da qual passaram também a fazer parte os territórios dos que tinham sido os reinos do Ponto e da Arménia MenorDioclesiano e Constantino, no século IV, estes territórios deixariam de pertencer à província da Capadócia.[nt 2] (também chamado simplesmente de Cilícia). Com as reformas de
Duas legiões constituiriam uma guarnição militar permanente durante o reinado do imperador Vespasiano (69-79), que procurava proteger a sua província do Levante. As guarnições aumentaram e converteram-se em fortalezas no reinado de Trajano (98-117), que também mandou construir vias militares na região. No século III, as relações comerciais entre a Capadócia e e as regiões de Esmirna e Éfeso estavam tão desenvolvidas, que foram cunhadas moedas com os nomes dessas duas cidades.[nt 1]
À semelhança do que se passara durante o domínio persa, durante o período romano a região era, na prática, bastante independente, já que os ocupantes estavam principalmente interessados em manter em segurança e em boas condições as rotas comerciais com o Oriente, recrutar homens para os seus exércitos e coletar impostos. Esta situação manter-se-ia durante o período bizantino e, juntamente com as influências facilitadas pelas rotas de comércio entre o Ocidente e Oriente, originou que na região florescessem inúmeros credos e filosofias. Um desses credos foi o Cristianismo,[9] introduzido entre os anos 48 e 58 por São Paulo que faz três viagens à região.[nt 2] Ver também: #Cristianismo na Capadócia.
[editar] Império Bizantino
O Cristianismo expande-se principalmente nos séculos III e IV, apesar das perseguições de Dioclesiano em 303 e 304, testemunhadas por Eusébio de Cesareia.[10]
Na segunda metade do século IV, numerosas comunidades monásticas são estabelecidas na região, impulsionadas pelo bispo de Cesareia (atual Kayseri), Basílio (São Basílio),[nt 2] influência dos mosteiros da Palestina e do Egipto.[nt 1] Basílio opunha-se ao Arianismo, então no seu auge, e que era favorecido pelo imperador Valente. Para enfraquecer a autoridade de Basílio, Valente cria uma segunda diocese, a Capadócia Segunda', cuja autoridade religiosa entrega a um bispo arianista. Essa nova diocese tinha a sua sede em Tyana, uma cidade a sul da atual Niğde, no que é hoje o pequeno povoado de Kemerhisar.[nt 2]
Em 536, o imperador Justiniano cria a diocese de Mokissos (atualmente Kırşehir).[nt 2] Nesse período as basílicas e outras igrejas multiplicam-se. É nesta época que surgem as primeiras igrejas rupestres. Como a maioria das casas da região, estas eram escavadas na rocha, sendo estas cavernas artificiais depois decoradas e acondicionadas. Atualmente ainda existem centenas de igrejas na região.
Em 647, Moawiya, governador da Síria, entra na Capadócia e apodera-se de Cesareia, um episódio que marca o início de um período de frequentes raziasárabes que se prolongariam até ao século IX. Este estado de coisas motivou o reaproveitamento e expansão das infraestruturas subterrâneas já existentes[11] para servirem de vastos refúgios de pessoas e bens.[12]
Professada desde o início do século VIII, a Iconoclastia repudia as imagens de figuras sagradas, para evitar a idolatria. Leão III de Bizâncio adere a essa corrente em 726, iniciando o chamado período iconoclasta bizantino, durante o qual muitas obras de arte, nomeadamente pinturas, são danificadas ou destruídas, algo que também afetou grandemente as igrejas da Capadócia. O sucessores de Leão seguem-lhe as pisadas, vendo nisso uma forma eficaz de limitar o poder crescente dos mosteiros. A proibição de imagens só terminaria em 843.[nt 2]
Após um período sombrio, as vitórias do imperador Nicéforo II, na segunda metade do século X restabelece a paz na Capadócia, de onde a sua família era originária. As cidades e aldeias prosperam e atraem novas populações, na maior parte de cultura grega, mas de diversas origens. Também aí se instalam muitos arménios, aliados dos bizantinos na defesa das fronteiras orientais.[13]"Terra Hermeniorum (terra dos arménios).[14]Renascença Macedónica, grande parte das igrejas rupestres ainda existentes.[12] A emigração arménia acentuou-se após a invasão seljúcida da Arménia. A presença arménia na Capadócia era tal no tempo das Cruzadas que os Cruzados chamavam à região Datam desta época, chamada de
[editar] Império Seljúcida
Os seljúcidas, considerados os antepassados diretos dos turcos ocidentais, começaram a chegar à Capadócia após a Batalha de Manzikert, em 1071, na qual as forças de Alp Arslan derrotaram o exército bizantino de Romano IV Diogenes, tendo conquistado aos poucos toda a região. Depois da conquista de Kayseri em 1082, os seljúcidas promoveram uma grande expansão urbanística, construindo mesquitas em Kayseri, Aksaray, Niğde e outras cidades, e uma escola de medicina em 1206. Construíram também inúmeros caravançaraispalácios de caravanas), estalagens fortificadas para uso dos mercadores viajantes da Rota da Seda, que aí podiam pernoitar e descansar e segurança. Alguns caravançarais tinham outros serviços para além dos de hotelaria, como enfermarias, cavalariças e mesquitas. Em toda a Turquia se encontram caravançarais, distanciando aproximadamente 30 km uns dos outros. Em tempos de guerra serviam como postos de defesa do território. Entre eles, destacam-se o de Agzikarahan, também chamado de Hoca Mesud, que se encontra a 13 km de Aksaray e foi construído no século XIII,[nt 1] e o de Sultanhanı, a 40 km da mesma cidade. (literalmente
Nos séculos seguintes, a Anatólia em geral e a Capadócia foram palco de inúmeros conflitos entre seljúcidas, bizantinos e cruzados. Estes últimos tomaram a capital seljúcida de Iznik (antiga Niceia), obrigando os vencidos a fugir para Konya. Os seljúcidas criaram as bases para o Império Otomano, que se formou no século XV — os otomanos procediam de um dos sultanatos seljúcidas, tendo-se revoltado e ganho a independência sob a liderança de Osman I "Gazi" (triunfador ou combatente da fé). O termo otomano, em turco: osmanli, provém do seu nome.
[editar] Império Otomano
A Capadócia cai sob o domínio otomano no século XIV. Lentamente, uma parte considerável da sua população passa a ser muçulmana e adota a língua turca. Desenvolve-se uma língua intermédia, o capadócio, que sobrevive até à saída das populações gregas (cristãs) em 1923, na sequência do Tratado de Lausanne, que pôs fim à guerra greco-turca e determinou a troca de populações entre a Grécia e a Turquia com base na religião.[nt 2]
No século XVIII são abandonados os últimos mosteiros trogloditas. No mesmo século, o grão-vizir Ibrahim Pasha faz da sua pequena aldeia natal Nevsehir a capital regional que ainda hoje é e que é por vezes apontada como a comunidade mais rica de toda a Turquia apesar da sua aparência relativamente modesta.[15]
[editar] Século XX e atualidade
A Capadócia é uma região turística importante, atraindo visitantes tanto da Turquia, como de países vizinhos desde há muito. A sua popularidade na Europa e do resto do mundo foi muito impulsionada nas décadas de 1930 e 1940 com a publicação dos trabalhos do sacerdote francês Guillaume de Jerphanion sobre as igrejas da região.[16] Na segunda metade do século XX assistiu-se a um grande crescimento da procura turística na Capadócia. Nos anos 1970 e 1980 a vintena de hotéis existentes então não satisfazia a grande procura, tendo os locais começado a arrendar quartos e transformar as suas propriedade para poder acolher visitantes, ao mesmo tempo que novos hotéis eram construídos. Em grande parte, as novas construções respeitam a paisagem e não chocam com as construções tradicionais. Segundo dados oficiais de 2005, a região recebeu 850 mil turistas estrangeiros e 1 milhão de nacionais.[nt 1]
Esta procura revitalizou a economia regional, pois a indústria turística não é a única a ser beneficiada; os produtores de cerâmica, têxteis e outro tipo de artesanato viram também o seu mercado muito alargado.
[editar] Cristianismo na Capadócia
A região tem um papel muito especial na tradição cristã. Durante os primeiros anos do cristianismo, a Capadócia foi um terreno fértil para a expansão da nova religião, em parte pela sua proximidade das Sete igrejas da Ásia, mencionadas no livro do Apocalipse do Novo Testamento, e de Antioquia (atual Antakya), onde São Pedro fundou a primeira comunidade cristã.[nt 1]
São Paulo efetou três viagens à Capadócia entre 44 e 58. Muitos dos primeiros cristãos habitavam a região, tendo as cidades subterrâneas sido usadas como refúgio pelos primeiros cristãos durante as perseguições de que foram alvo.[nt 3] durante os séculos II, III e IV. Aí nasceram nessa época pelo menos os seguintes santos e teólogos:
- São Mamede, São Basílio Magno e Gregório de Nissa, de Cesareia (atual Kayseri).
- Cesário de Nanzianzo, Gregório de Nanzianzo, o Velho e Gregório de Nanzianzo, o Novo, de Nanzianzo, uma antiga cidade onde agora se encontra a pequena aldeia de Berkalar (também chamada de Nenizi) e Gülagaç, entre Aksaray e Nevsehir.
Basílio, Gregório de Nissa e Gregório de Nanzianzo, o Novo, são chamados os Padres ou Filósofos Capadócios na literatura cristã, sendo apontados como importantes teólogos, tendo desenvolvido, por exemplo a doutrina da Trindade.[17]
Outro clérigo famoso originário da região foi João II da Capadócia, patriarca de Constantinopla entre 518 e 520, que, apesar do seu curto patriarcado, ficou famoso por ter marcado o fim de um cisma de 34 anos entre as igrejas orientais e ocidentais, originado no Concílio de Calcedónia.[nt 13]
Apesar do assunto ser controverso, segundo a lenda, São Jorge também teria nascido na região, embora tenha ido para a Palestina, de onde a mãe era originária, ainda em criança. A lenda de São Jorge e do dragão tomou forma na Idade Média, sendo o santo convertido em padroeiro de muitos estados e coroas da Europa, nomeadamente de Aragão, Portugal, Inglaterra e Génova, entre outros. A Cruz de São Jorge ainda hoje está presente nas bandeiras da Geórgia, Inglaterra, Sardenha, Barcelona e Aragão e nos brasões de Génova e Pádua.[nt 1]
Existem entre 400[5] e 600[nt 1] igrejas na região, muitas delas escavadas em rochas, das quais largas dezenas são interessantes de visitar. As mais antigas datam provavelmente do século VI, embora a maor parte date dos séculos X e XI, o período que vai desde o fim das incursões árabes, até à chegada dos seljúcidas.[5]
FONTE: Wikipédia, a Enciclopédia Livre.
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