Antropologia
Neandertal era muito mais evoluído do que se pensava, sugere pesquisa
A imagem mostra a reconstrução de um homem (à esquerda) e uma mulher (à direita), ambos Neandertais (Frederico Gambarini/epa/Corbis)
"Eles eram humanos, mas um pouco diferentes. Somos mais irmãos dos Neandertais do que primos distantes". Riel-Salvatore, antropólogo da Universidade do Colorado
Uma pesquisa de arqueólogos americanos conduzida na Itália pretende provar que os neandertais eram criativos e desenvolviam tecnologia própria. O artigo, que será publicado em dezembro no periódico Journal of Archeological Method and Theory, desafia boa parte dos estudos conduzidos até aqui, que classificam o Neandertal como um "homem das cavernas" pouco evoluído e que teria sido extinto por demais grupos de humanos vindos da Europa e da Ásia.
O homo neanderthalensis foi uma forma de hominídeo que conviveu com o homo sapiens entre 270.000 e 440.000 anos atrás e desapareceu há cerca de 30.000 anos. O primeiro fóssil desta espécie foi encontrado no vale alemão de Neander, em 1856. De lá para cá, porém, permanecem alguns enigmas. A ciência ainda não foi capaz de explicar exatamente quem eram, como viviam e por que os neandertais desapareceram.
Na tentativa de desvendar esses mistérios, durante sete anos pesquisadores da Universidade do Colorado (EUA) investigaram regiões italianas onde teriam vivido neandertais. Há 42.000 anos, o lugar que hoje compreende a Itália era dominada por duas culturas, uma de homens modernos e outra de neandertais. O que chamou a atenção dos pesquisadores foi uma terceira cultura descoberta nessa região, denominada Uluzzia. Os antropólogos acreditam que essa cultura, surgida na mesma época das outras duas e muito diferente de ambas, foi criada pelos neandertais.
Objetos encontrados no sul da Itália — na região de escavações da cultura Ulluzzia — intrigaram os cientistas. Foram encontradas pontas de projéteis, ferramentas de osso, argila, ornamentos e possíveis evidências de caça pesqueira e silvestre. Normalmente, esses objetos não são associados aos neandertais. O argumento mais forte dos antropólogos é que essa região era geograficamente isolada dos homens modernos que viviam na mesma época em outra parte da Itália. Isso os leva a entender que os neandertais a desenvolveram sozinhos. "Basicamente, estou reabilitando os neandertais", disse Riel-Salvatore, professor assistente de antropologia da Universidade do Colorado. "Eles eram muito mais habilidosos do que pensávamos".
Os cientistas acreditam que os neandertais conseguiam se adaptar a novas condições e que seriam culturalmente semelhantes ao homem moderno. O artigo rejeita a teoria de que eles teriam sido exterminados pelo homem contemporâneo. Os pesquisadores concluem que muito dos neandertais pode ter sido absorvido pelos seres humanos de hoje, uma vez que pesquisas anteriores já mostraram que entre 1% e 4% da carga genética de asiáticos e europeus veio do Neandertal. "Minha pesquisa sugere que eles eram humanos, mas um pouco diferentes. Somos mais irmãos dos neandertais do que primos distantes", concluiu Riel-Salvatore.
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