Vírus mortal
Causa: Biológica/Humana
Tipo: Global e tolerável
Já aconteceu antes? Sim
Tipo: Global e tolerável
Já aconteceu antes? Sim
Em maio, a revista Nature publicou um estudo que mostrava como
pesquisadores produziram uma versão mutante do vírus da gripe aviária, o
H5N1, tornando-o transmissível entre mamíferos. Apesar de ser
potencialmente mortal para seres humanos, até então, o vírus só era
transmitido para os mamíferos por meio das aves, o que fazia com que os
surtos da doença fossem muito localizados. No entanto, os pesquisadores
descobriram que com apenas quatro mutações o H5N1 se tornava capaz de se
espalhar entre furões pela via aérea.
Como resultado, o estudo mostra que o H5N1 natural pode estar a poucas
mutações de se espalhar entre seres humanos. Não só ele, mas grande
parte dos vírus possui uma incrível e perigosa capacidade de mutação. É o
que acontece, por exemplo, todos os anos com o vírus da gripe comum.
Apesar de o sistema imunológico humano já estar preparado para sua
versão anterior, no inverno seguinte ele invariavelmente se transforma e
pega o corpo de guarda baixa.
Foi também o que aconteceu em 1918, quando o vírus H1N1, que infectava
porcos, sofreu uma mutação para se espalhar entre humanos. Isso deu
origem ao surto da gripe espanhola, que matou cerca de 50 milhões de
pessoas nos anos seguintes, naquela que foi a maior epidemia da história
– maior até do que a Peste Negra na Idade Média.
A Gripe espanhola só se tornou uma epidemia global após a Primeira
Guerra Mundial, quando soldados de várias partes do mundo se encontraram
nos campos de batalha e nos hospitais, infectaram uns aos outros e
levaram o novo vírus para casa. Hoje, a capacidade de um vírus se
espalhar pelo planeta é maior do que nunca. Com o grande número de
viagens internacionais, as enormes exportações de alimentos e a vida
predominante urbana, a possibilidade de infectar um grande número de
pessoas é inédita.
A pesquisa sobre o H5N1 publicada pela revista Nature levanta outro ponto importante: a mutação não precisa ser,
necessariamente, causada pela natureza. Avanços nas tecnologias de
manipulação genética fazem com que vírus potencialmente mortais passem a
ser produzidos em laboratórios – nem sempre muito bem equipados. Antes
de ter sido publicado, o estudo passou alguns meses engavetado.
Autoridades haviam recomendado que partes sensíveis do estudo
permanecessem em segredo, pois as informações poderiam servir como uma
receita para que outras pessoas passassem a produzir o vírus.
Além do perigo de um agente infeccioso artificial escapar do
laboratório – o que já aconteceu antes – ele também pode ser
deliberadamente produzido para servir como arma. Tiranos e terroristas
poderiam contratar cientistas para produzir versões mortais e altamente
transmissivas de diversos tipos de vírus. Já no século 14, os mongóis
usavam catapultas para arremessar os corpos de guerreiros infectados com
a peste bubônica e espalhar a doença entre os inimigos. Porque hoje em
dia seria diferente?
Por sorte, os tipos mais mortais de vírus dificilmente se tornam uma
pandemia. Um patógeno que mata o hospedeiro antes de ele ter tempo de
espalhar a doença não é capaz de se espalhar pelo mundo, e acaba sendo
superado por versões menos mortais da doença. Isso, aliado a métodos de
prevenção, como higiene básica, eliminação de animais infectados,
vacinação e distribuição rápida e massiva de medicamentos pode diminuir
os perigos de uma nova epidemia global.
FONTE: Revista Veja/Ciência
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