03/12/2012
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04h50
Ecstasy ajuda veteranos de guerra a enfrentar trauma, indica pesquisa
BENEDICT CAREY
DO "NEW YORK TIMES"
DO "NEW YORK TIMES"
Os soldados não tinham interesse em terapias verbais ou em medicamentos que lhes davam pouco alívio.
Eles queriam experimentar uma alternativa: o MDMA, mais conhecido como
ecstasy, uma droga usada em festas desde a década de 1980 capaz de
induzir euforia e afeto.
A droga é proibida, mas as autoridades autorizaram um pequeno número de laboratórios a produzirem-na para fins de pesquisa.
Algumas experiências usando MDMA, LSD ou maconha também estão em andamento na Suíça, em Israel e no Reino Unido.
Escrevendo em novembro no site da revista "Journal of
Psychopharmacology", Michael e Ann Mithoefer, o casal que oferece o
tratamento -combinando a psicoterapia com uma dose de MDMA-, relataram
que 15 de 21 pacientes que se recuperaram de estresse pós-traumático
severo durante a terapia, no começo da década de 2000, apresentam hoje
sintomas limitados ou praticamente nulos.
"Sinto-me culpado tanto por ter voltado vivo do Iraque quanto por agora
ter a oportunidade de fazer essa terapia", disse Anthony, 25, que pediu
para ter o sobrenome omitido, devido ao estigma associado ao uso da
droga. "Sou uma pessoa diferente por causa dela."
O casal Mithoefer -ele é psiquiatra, ela é enfermeira- colaborou nesse
estudo com pesquisadores da Universidade Médica da Carolina do Sul e com
a ONG Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos.
Os pacientes desse grupo incluíam principalmente vítimas de estupro.
Especialistas alertaram que o estudo era apenas preliminar e que sua
aplicabilidade a traumas de guerra era inteiramente desconhecida.
Mas, dada a escassez de bons tratamentos, "há uma tremenda necessidade
de estudar novos medicamentos", disse John Krystal, chefe do
Departamento de Psiquiatria da Escola de Medicina de Yale.
Esse foi o primeiro teste de longo prazo com resultados animadores para o
uso psiquiátrico de drogas recreativas. O casal Mithoefer irá tratar no
máximo 24 veteranos com a terapia, conforme os protocolos
governamentais para o teste de uma droga experimental.
Duas pessoas que passaram por essa terapia -Anthony, atualmente no
estudo com os veteranos, e outra que recebeu a terapia de forma
independente- disseram que o MDMA lhes permitiu sentir seu trauma e
falar sobre ele sem ser dominado pelo assunto.
"Isso mudou minha perspectiva sobre a experiência inteira", disse
Patrick, 46, morador de San Francisco, referindo-se ao seu trabalho nos
escombro dos atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York.
"Às vezes eu sentia, lá no fundo, uma sensação bonita e pacífica de que
eu tinha um propósito. Comecei a terapia para me identificar com aquilo e
para não me sentir culpado ou triste."
A maioria descobre que seu resultado numa medição padronizada de
sintomas -ansiedade geral, hiperexcitação sexual, depressão e pesadelos-
cai cerca de 75%. Isso é mais do que o dobro do alívio sentido por
pessoas que fazem psicoterapia sem o MDMA, disseram os pesquisadores.
Para muitos, a experiência no tratamento é emocionalmente vívida, disse
Michael Mithoefer. A droga não produz um "barato", mas geralmente traz
tranquilidade.
Estudos sugerem que a droga induz à liberação de um hormônio chamado
oxitocina, que supostamente aumenta as sensações de confiança e afeto. A
droga também parece conter a atividade numa região cerebral que é
ativada durante situações de medo ou de ameaça.
Se os resultados forem duradouros, disseram os pesquisadores, é provável que o governo esteja disposto a bancar um teste mais amplo.
Se os resultados forem duradouros, disseram os pesquisadores, é provável que o governo esteja disposto a bancar um teste mais amplo.
"É isso que queremos", disse Rick Doblin, diretor-executivo da
Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos, que financiou o
estudo com o MDMA.
"Após toda essa turbulência cultural, a divisão entre os militares e a
comunidade psicodélica, seria realmente importante conseguirmos nos unir
e usar algumas dessas drogas para ajudar as pessoas", disse Doblin.
FONTE: Folha.com/Ciência
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