07/12/2012
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04h33
Sondas americanas fazem 'raio-X' da Lua
SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Pense na praia de areia mais fofa que você já visitou. Então imagine
grãos ainda menores que esses. E calcule o efeito de ter uma camada
deles sobre o solo com espessura de alguns quilômetros. Bem-vindo ao
solo lunar.
Ou, pelo menos, a uma boa aproximação do que ele seria, segundo as
últimas revelações feitas por uma dupla de espaçonaves gêmeas não
tripuladas americanas.
"Não há um análogo real desse tipo de poeira na Terra porque o registro
do processo que o gerou em nosso planeta foi apagado pela erosão e pelo
movimento das placas tectônicas", disse à FOLHA Maria Zuber, pesquisadora do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e chefe da missão Grail, da Nasa.
"Mas imagine que você tenha uma superfície rochosa e então a destrua com
uma britadeira. Isso provavelmente chega bem perto de como é lá na
Lua."
Composto por duas sondas, o projeto Grail está revelando detalhes nunca
antes descobertos sobre a companheira da Terra, a um custo de US$ 500
milhões.
O segredo do sucesso está numa técnica nunca antes usada para o estudo
do satélite natural terrestre: a medição precisa de sua atração
gravitacional.
Para obter as leituras, as duas espaçonaves se colocaram numa órbita
polar lunar a cerca de 50 km de altitude, separadas por uma distância de
cerca de 200 km entre si.
Então, conforme variações na composição do solo lunar abaixo aumentam ou
diminuem suavemente a atração gravitacional, as naves medem com
precisão as flutuações em suas órbitas.
Em órbita desde o início de 2012, a dupla de espaçonaves já cumpriu sua
missão principal e agora está na fase estendida do projeto. Os primeiros
resultados científicos, publicados agora eletronicamente pelo periódico
"Science", são fruto das observações iniciais e trazem uma porção de
novas informações.
O estudo da superfície da Lua é de suma importância para a compreensão
da formação de planetas terrestres. Como a Terra, ela nasceu nos
primórdios do Sistema Solar.
Desde então, ela preserva um registro detalhado do que aconteceu na região do Sistema Solar em que se formam os corpos rochosos.
A grossa camada de pó fofo, que é ainda mais expressiva nos planaltos
lunares, é fruto de uma série de episódios violentos de colisão com
asteroides.
A Terra certamente passou pelo mesmo processo, mas, desde então, a atmosfera e o mar apagaram quaisquer sinais deles.
Além de revelar a camada superior, os dados da Grail permitiram revelar a
presença de diques de magma solidificado no subsolo lunar que ajudam a
revelar em mais detalhes a intrincada história vulcânica do satélite.
De quebra, de posse das novas informações, foi possível criar um modelo
mais concreto de como deve ser a crosta lunar. Os pesquisadores
acreditam que ela tenha entre 34 e 43 km de espessura.
Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress | ||
PERGUNTAS EM ABERTO
O que ainda não deu para decifrar foi um velho mistério lunar: há nela
um núcleo enriquecido em ferro, como no interior da Terra?
Os sismógrafos colocados na Lua durante as missões Apollo nas décadas de
60 e 70 permitem fazer inferências sobre o tamanho máximo do núcleo,
mas não são capazes de confirmar
sua existência.
sua existência.
A missão Grail deve finalmente matar a charada, mas não agora. "Nossa
ideia sempre foi determinar o tamanho e o estado líquido ou sólido do
núcleo", diz Zuber. "Mas isso requer correções complicadas nos dados,
que ainda estão sendo feitas."
FONTE: Folha.com/Ciência
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