21/02/2013
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05h00
BERNARDO MELLO FRANCO
ENVIADO ESPECIAL A EDIMBURGO E STIRLING (ESCÓCIA)
ENVIADO ESPECIAL A EDIMBURGO E STIRLING (ESCÓCIA)
Em 1314, foi pela guerra. Armados de lanças medievais, os escoceses
expulsaram os invasores vindos da Inglaterra e garantiram uma
independência que duraria quase quatro séculos.
Em 2014, pode ser pelo voto. Setecentos anos depois da vitória na
batalha de Bannockburn, a Escócia vai às urnas para decidir se continua
no Reino Unido ou se volta a ser um país autônomo.
David Moir/Reuters | ||
Protesto pró-independência em Edimburgo, na Escócia; país do Reino Unido decidirá sobre emancipação em 2014 |
A campanha oficial ainda não começou, mas os dois lados já afiaram o
discurso para se enfrentar num plebiscito com a participação de cerca de
4 milhões de eleitores.
Em desvantagem nas pesquisas, o grupo que defende o "sim" à separação
tenta estimular o sentimento nacionalista para virar o jogo.
"A Escócia já tem uma cultura própria, uma igreja independente e uma
seleção nacional de rúgbi e de futebol. A independência será um passo
natural para nós", disse à Folha Susan Stewart, diretora do comitê separatista.
Editoria de arte/Folhapress | ||
Os partidários do "não" sustentam que a Escócia pode preservar sua
identidade cultural sem arcar com os custos, ainda incertos, de romper
com o Reino Unido.
"É possível ter orgulho de ser escocês e, ao mesmo tempo, saber que é
melhor ficar na união", afirmou o ministro britânico para a Escócia,
Michael Moore, em entrevista a correspondentes estrangeiros em janeiro.
A Escócia ganhou autonomia parcial em 1997, com a criação de um Parlamento em Edimburgo e de um governo com poder limitado a áreas como saúde e educação.
A Escócia ganhou autonomia parcial em 1997, com a criação de um Parlamento em Edimburgo e de um governo com poder limitado a áreas como saúde e educação.
As decisões sobre economia, tributação e defesa continuam a ser tomadas
em Londres, onde a Inglaterra é uma espécie de sócia majoritária do
Reino Unido, que também inclui Escócia, País de Gales e Irlanda do
Norte.
O debate sobre a separação ganhou fôlego há dois anos, quando o SNP,
Partido Nacional Escocês, venceu as eleições locais e fechou um acordo
com o governo britânico para realizar o plebiscito.
Editoria de Arte/Folhapress |
Mas, para analistas, o resultado da eleição de 2011 não significa que a
maioria passou a apoiar a separação. "As pesquisas mostram que o eleitor
separa as coisas. O voto foi para quem ele achou que governaria melhor a
Escócia", avalia a cientista política Nicola McEwan, da Universidade de
Edimburgo.
Líder dos separatistas, o premiê escocês, Alex Salmond, afirma que o
novo país continuaria a ter a rainha como chefe de Estado (como fazem
países como Canadá e Austrália), usar a libra e integrar a União
Europeia. O governo britânico levanta dúvidas sobre o uso da moeda e diz
que a Escócia teria que sair e entrar na fila para voltar ao mercado
comum.
O discurso de Salmond mudou ao longo do debate. Ele já defendeu a adoção
do euro, antes da crise da moeda, e propôs "arco de prosperidade" com
Islândia e Irlanda, que afundaram em 2008.
Agora, cita os países escandinavos como modelo e promete bancar os
gastos do Estado escocês com as receitas do petróleo do mar do Norte,
cuja redivisão teria de ser negociada com o Reino Unido.
Para os separatistas, a Escócia independente poderá reverter os cortes
sociais impostos pelo premiê britânico, David Cameron. Para os
unionistas, um país menor teria menos força para manter o Estado de
bem-estar social.
Pesquisa recente do instituto Angus Reid mostra que só 32% dos escoceses
optariam hoje pela separação; 47% preferem ficar no Reino Unido, e 21%
estão indecisos.
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