01/02/2013
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03h30
A queda fenomenal do desmatamento na Amazônia, de 27 mil km² (área maior
que a de Sergipe), em 2004, para menos de 5.000 km², em 2012, teve
muitas causas. Entre elas, parece ter sido particularmente eficaz o uso
de instrumentos econômicos para induzir fazendeiros a preservar a mata.
Menos conflituosa que a fiscalização e a repressão, porém não menos
efetiva, mostrou-se a restrição do crédito rural para propriedades em
situação ambiental irregular. A comprovação está em um estudo do Núcleo
de Avaliação de Políticas Climáticas da PUC-RJ.
O trabalho se debruça sobre os efeitos da resolução 3.545 do Banco
Central, de 2008. Ela exigia de produtores, como precondição para obter
crédito de bancos oficiais, documentação de que estavam em dia com
exigências ambientais.
O trabalho concluiu que R$ 2,9 bilhões deixaram de ser emprestados à
região, entre 2008 e 2011, por força da resolução. Como resultado, nos
anos seguintes um total de 2.700 km² de desmatamento teria sido evitado,
uma vez que os fazendeiros dispunham de menos capital para ampliar
atividades.
Claro está que o aumento de produção também pode ser obtido com melhor
produtividade, e não só com a abertura de novas áreas à custa da
floresta. Mas não é essa a realidade na Amazônia, onde a posse de terras
nuas ainda é o maior signo de riqueza.
O estudo também sugere que essa correlação entre crédito e desmatamento é
mais forte no caso da pecuária do que no da agricultura.
Os dados indicam que a concessão de financiamento caiu mais, após a
resolução, nos municípios em que predomina a criação de gado. Um
indicativo de que pecuaristas tendem a usar o capital na compra de áreas
e no desmate, para acumular mais pastos e cabeças.
A saída racional, assim, está na regularização ambiental das fazendas
para obter crédito e investi-lo na melhoria da produtividade.
O instituto Imazon, do Pará, estima ser factível produzir 300 quilos de
carne por hectare na Amazônia (a média hoje é de meros 80 quilos).
Alcançar tal produtividade em um quarto das pastagens da região, até
2022, permitiria atender toda a demanda futura --sem derrubar uma só
árvore.
FONTE: Folha.com/Opinião
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