Recursos naturais
Os leitos desses rios, cujas águas irrigam parte do Iraque, Irã, Turquia e Síria, perderam o equivalente a um Mar Morto em sete anos de observação via satélite
Homem lava as mãos no rio Tigre: com 1.850 quilômetros de
extensão, rio nasce na Turquia, passa por Bagdá, une-se ao Eufrates
ainda no Iraque e deságua no Golfo Pérsico
(Ali Al Saadi/AFP)
Satélites americanos detectaram uma grande diminuição das reservas de
água nos rios Tigre e Eufrates em um período de sete anos, a partir de
2003, segundo um novo estudo que deve ser publicado nesta sexta-feira na
revista Water Resources Research, periódico da União Geofísica
Americana. O estudo foi realizado por cientistas da Universidade da
Califórnia, do Centro de Voos Espaciais Goddard, da NASA, e do Centro
Nacional de Pesquisas Atmosféricas.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Groundwater depletion in the middle east from GRACE with implications for transboundary water management in the tigris-euphrates-western iran region
Onde foi divulgada: periódico Water Resources Research
Quem fez: Katalyn A. Voss, James S. Famiglietti, MinHui Lo, Caroline de Linage, Matthew Rodell, Sean C. Swenson
Instituição: Universidade da Califórnia, Centro de Voos Espaciais Goddard, da NASA, e Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas
Dados de amostragem: dados recolhidos durante um período de sete anos pelos satélites GRACE da NASA
Resultado: Os leitos dos rios Tigre e Eufrates, cujas águas irrigam parte do Iraque, Irã, Turquia e Síria, perderam o equivalente a um Mar Morto
Os leitos desses rios, cujas águas irrigam parte do Iraque, Irã,
Turquia e Síria, perderam o equivalente a um Mar Morto, determinou o
estudo. "É uma quantidade de água suficiente para satisfazer as
necessidades de milhares de pessoas na região a cada ano, dependendo das
regras de uso regional e a disponibilidade", afirmou Jay Famiglietti,
coordenador da pesquisa.
O estudo baseia-se nos dados recolhidos durante um período de sete anos
pelos satélites GRACE, da NASA, que vigiam as mudanças globais nas
reservas de água. De acordo com as variações nas reservas de água em uma
determinada região, os satélites medem a gravidade das transformações e
seus impactos.
"Os dados dos GRACE mostram um índice alarmante de queda no
armazenamento total de água no Tigre e Eufrates, que atualmente possuem a
segunda taxa de perda mais rápida de águas subterrâneas da Terra,
depois da Índia", indicou Famiglietti.
Parte desta diminuição foi atribuída à seca de 2007 — 60% da diminuição
da água foi resultado do bombeamento de água subterrânea. Neste
sentido, Famiglietti destacou o Iraque, que perfurou 1.000 novos poços
em resposta à seca de 2007.
A Turquia é quem manda nas nascentes dos rios Tigre e Eufrates e possui
um projeto de infraestrutura e de reservatórios que controla quanta
água é liberada para a Síria, Irã e Iraque. Como a bacia não é
coordenada em conjunto por esses países, o controle turco e a
distribuição para os outros países é motivo de rivalidade na região,
como aconteceu durante a seca de 2007, quando a Turquia desviou água
para a agricultura local.
"A diminuição no fluxo de água põe muita pressão sobre os vizinhos. As
Nações Unidas relataram que residentes do Norte do Iraque tiveram que
cavar poços assim que notaram o declínio na quantidade de água. Isso é
um problema em um ambiente social, político e economicamente frágil",
disse Katalyn Voss, principal autora da pesquisa.
Guerras da água
Os conflitos que tiveram início por causa da água
A primeira guerra
Lagash vs Umma, Suméria, 2.500 a.C.
A primeira guerra causada pela disputa por água aconteceu às margens do
Rio Eufrates, região onde fica o Iraque. Urlama, rei da cidade-estado
de Lagash, desvia o curso do rio e deixa outra cidade-estado, Umma, sem
água.
Água gelada
China vs Tibet, 1950
Em 1950, a China invadiu o Tibet, em parte para garantir o controle das
águas armazenadas nas geleiras do Himalaia. Atualmente, pretende
canalizar a água até o Rio Amarelo. O projeto pode alterar o fluxo de
água nos rios de vários países e aumentar a tensão na região, já
bastante instável politicamente.
Guerra civil
Sudão, 1963 até os dias de hoje
A falta de água foi um dos fatores que impulsionaram o conflito que
matou mais de duas milhões de pessoas. A guerra civil no país, agora
separado entre Sudão e Sudão do Sul, foi provocada por vários elementos,
políticos, sociais e econômicos, mas pesquisadores da Universidade de
Columbia apontam a água como um dos principais motivos.
Quase guerra
Turquia, 1998
Em 1998, Síria e Turquia quase entraram em guerra por causa da água. Em
2003, as tensões voltaram a surgir quando os Estados Unidos invadiram o
Iraque. Nos bastidores, houve uma dura disputa entre turcos, curdos e
as forças americanas sobre como seria feita a coleta e distribuição da
água dos rios Tigres e Eufrates.
(Com Agência France Presse)
FONTE: Revista Veja/ciência
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