Clonagem
Jornal britânico 'Daily Mail' traduziu erroneamente entrevista concedida pelo geneticista americano George Church à revista alemã 'Der Spiegel'
Reprodução de Neandertais feitas pela antropóloga Elisabeth Daynes, na França
(LatinStock)
O jornal britânico Daily Mail publicou
nessa segunda-feira (21) que um dos principais geneticistas americanos,
George Church, estaria procurando por uma mulher disposta a gerar um
bebê Neandertal. A notícia — absurda — foi desmentida na manhã desta
terça (22) pelo próprio cientista. Segundo ele, o fato teria ganhado
nova interpretação após uma má tradução da entrevista dada por ele à
revista alemã Der Spiegel, em que abordou, entre outros assuntos, a possibilidade de usar clonagem para trazer de volta o Homem de Neandertal (Homo neanderthalensis), extinto há mais de 30.000 anos.
Na entrevista original, Church, que integrou a equipe do Projeto Genoma
Humano, dizia que uma clonagem poderia ser possível um dia, caso fosse
aceita pela sociedade. Ele também aborda o tema em sua obra intitulada Regenesis: How Synthetic Biology Will Reinvent Nature and Ourselves (sem
edição no Brasil). "Se a sociedade se torna confortável com a clonagem e
vê valor na verdadeira diversidade humana, então uma criatura
Neandertal poderia ser clonada através de uma mãe substituta – ou por
uma fêmea humana extremamente aventureira", diz um trecho do livro.
Um dos obstáculos para ressuscitar espécies extintas como o Neandertal é
que células intactas destes animais deixaram de existir, o que
significa que não existe núcleo celular disponível para transferência
durante a clonagem. Apesar disso, sequências de genomas de mamutes
lanosos e de neandertais foram substancialmente reconstruídas. Para a
possível clonagem, partes do genoma do homem de Neandertal, extraídos de
fósseis, seriam introduzidos em células troncos, aquelas que ainda não
têm função específica, e, assim, seria então criado um feto, a ser
implantado e gerado no útero de uma mulher.
A mesma técnica seria utilizada no caso dos mamutes, cuja experiência
seria realizada com elefantes. Segundo o livro, o genoma de um elefante
seria quebrado em 30.000 partes, cada uma com 100.000 unidades de
comprimento de DNA. Então, usando uma sequência de genoma reconstruída
de mamute como modelo, seriam introduzidas seletivamente as mudanças
moleculares necessárias para fazer o genoma do elefante parecer com o do
mamute. Todos os pedaços modificados iriam se reagrupar para formar o
recente genoma de mamute.
Cinema — Apesar do erro crasso do Daily Mail,
a história ainda pode servir para alguma coisa. Roger Ebert, um dos
maiores críticos de cinema da atualidade, afirmou, em um comentário via twitter,
que a história é digna de virar filme. O próprio George Church, que é
professor da escola médica da Universidade de Harvard, nos Estados
Unidos, chegou a dizer que vai usar o fato para falar aos seus alunos
sobre jornalismo e tecnologia. Ao desmentir a história na manhã desta
terça-feira, ao jornal Boston Herald,
Church disse que seu trabalho é focado em meios de usar a genética, o
DNA e o sequenciamento do genoma para ajudar a melhorar os cuidados com a
saúde e desenvolver combustíveis sintéticos, entre outros materiais e
produtos, não reproduzindo antigas espécies humanas. Mas de acordo com
ele "se isso for tecnicamente possível algum dia, nós precisamos
começar a falar sobre o assunto hoje."
FONTE: Revista Veja.com/Ciência
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