04/02/2013
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05h30
JUSTIN GILLIS
DO "NEW YORK TIMES"
De repente, o carro da frente parou. Paul J. Hearty, um geólogo da
Carolina do Norte, saltou e apanhou um objeto branco ao lado da estrada:
uma concha fossilizada. Ele sorriu. Em poucos minutos, a equipe tinha
coletado outras dezenas de conchas.
Usando equipamentos via satélite, eles determinaram que estavam a 11
quilômetros do litoral e a 19 metros acima do litoral moderno da África
do Sul.
Para a chefe da equipe, Maureen E. Raymo, da Universidade Columbia em
Nova York, a descoberta foi uma pista importante. Sua pesquisa tenta
determinar até que altura os oceanos poderão subir em um mundo mais
quente.
A questão adquiriu nova urgência depois do furacão Sandy, que causou
inundações costeiras nos Estados Unidos. Segundo cientistas, certamente a
tempestade foi agravada pela elevação do nível do mar no último século.
Esse tipo de maré de tempestade, segundo especialistas, poderá
tornar-se rotineiro nos litorais no final deste século se o oceano subir
com a velocidade que eles preveem.
Uma quantidade suficiente de gelo polar derrete quando a temperatura da
Terra aumenta apenas alguns graus, podendo elevar o nível marinho global
de 7,5 metros a 9 metros. Mas, no próximo século, a temperatura da
Terra deverá aumentar quatro ou cinco graus, por causa do aumento do
nível de dióxido de carbono e outros gases do efeito estufa.
Especialistas dizem que as emissões desses gases, que deverão causar um
grande aumento do nível do mar, poderão ocorrer nas próximas décadas.
Eles temem que, como os litorais do mundo são densamente povoados, a
ascensão dos oceanos provoque uma crise humanitária que dure séculos.
"Eu gostaria de poder levar comigo para o campo as pessoas que
questionam a importância do aumento do nível do mar", disse Raymo.
O registro fóssil não indica nada parecido com o rápido lançamento de
gases do efeito estufa de hoje e suas consequências para o aumento da
temperatura do planeta. "Absolutamente, inequivocamente, a natureza já
mudou antes", disse Richard B. Alley, um climatologista da Universidade
Estadual da Pensilvânia. "Mas parece que vamos fazer algo maior e mais
rápido do que a natureza já fez."
Raymo está tentando encontrar uma era com temperaturas que reflitam as
esperadas até 2100. Ela concentra-se no período pliocênico, 3 milhões de
anos atrás. O dióxido de carbono no ar então parece ter sido cerca de
400 partes por milhão --um nível que será alcançado novamente nos
próximos anos, depois de dois séculos de queima de combustível fóssil.
Ela e sua equipe dirigiram centenas de quilômetros ao longo das costas
sul e oeste da África do Sul procurando praias pré-históricas. A equipe
localizou praias supostamente do Plioceno em locais de 11 a 33 metros
acima do nível atual do mar. Em um trabalho semelhante na Austrália e na
costa leste dos EUA, pesquisadores encontraram praias do Plioceno de
dez metros a até 88 metros acima do nível do mar.
Parte da explicação para essas elevações variáveis, diz a doutora Raymo,
é que a própria Terra movimentou-se de maneira desigual nos últimos 3
milhões de anos. "Uma grande parte da tarefa que temos é elucidar essa
dança que a crosta da Terra faz com o nível do mar", disse Raymo.
Sua equipe pretende coletar medições da maioria dos continentes. Eles
esperam chegar ao número mágico que a doutora Raymo chama de "pliomax"
--a ascensão máxima do nível do mar global durante o Plioceno.
As estimativas anteriores do nível do mar nesse período geológico variam
de 4,5 a 39 metros acima do oceano atual. Se o trabalho de Raymo
confirmar as estimativas mais altas, ele poderá indicar que a camada de
gelo no leste da Antártida --o maior bloco de gelo do mundo, contendo
água suficiente para elevar o nível do mar em 54 metros,-- também é
vulnerável à fusão. Os cientistas não compreendem totalmente o porquê.
Assim, o projeto poderá definir um limite de quanto o oceano poderá
subir se as temperaturas aumentarem como se espera neste século.
Pesquisa recente sugere que a elevação provável será de quatro metros até 2300, inundando regiões costeiras em todo o mundo.
Se a elevação for mais lenta do que o esperado, a população terá tempo
para se adaptar. Mas muitos cientistas temem que seus cálculos tenham
sido conservadores demais.
"A cada ponto, conforme nosso conhecimento aumenta, sempre descobrimos
que o sistema climático é mais sensível do que pensávamos, não menos",
disse a doutora Raymo.
FONTE: Folha.com/Ciência
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