Outra composição um tanto quanto atrevida, os elementos paisagísticos e o drama pessoal ressoam na obra de arte inacabada: A Adoração dos Magos, encomenda dos monges de San Donato a Scopeto. É uma composição muito complexa sobre cerca de 250 cm de largura e comprimento de uma placa de madeira. Para este trabalho o artista esboçou vários desenhos e numerosos trabalhos e estudos preparatórios, incluindo um detalhe de uma perspectivaruínas de um edifício clássico. Mas em 1482 Leonardo saiu com destino a Milão por ordens de Lourenço de Médici, em tributo a Ludovico Sforza, o mouro, e a pintura e todo o trabalho que havia tido foi abandonada.[17][63] linear das
[editar] Em Milão, 1482-1499
Em Milão, o primeiro registro de Leonardo da Vinci é um contrato de uma Confraria religiosa intitulada Imaculada Conceição, datado de 25 de Abril de 1483, para a pintura de um retábulo para abrilhantar o altar da capela de São Francisco, o Grande.[16] O resultado seria o terceiro mais importante trabalho pictórico do artista, A Virgem dos Rochedos.
Que o teu orgulho e objetivo consistam em pôr no teu trabalho algo que se assemelhe a um milagre. | — Leonardo da Vinci[72] |
A encomenda era a execução de pinturas com a ajuda dos imãos Ambrogio e Evangelista de Predis, para um grande e complexo altar, já construído anteriormente por Giacomo da Maiano.[16][38] Leonardo, encarregado do painel central, escolheu pintar um enfático momento da infância de Cristo, quando o pequeno João Baptista, com a proteção do anjo Uriel, conheceu a Sagrada Família numa gruta do Egito, cena da tradição cristã dos livros apócrifos e de uma Florença deixada para trás, de inúmeras lendas sobre São João Batista.[76][77] Neste cenário rochoso que evoca a um passeio de infância do artista ao Monte Ceceri (próximo do território florentino),[50], João reconhece e adora Jesus como o Cristo. A pintura mostra uma misteriosa beleza como as graciosas figuras ajoelhadas em adoração em torno do Menino Jesus, em uma paisagem selvagem de queda de rochas e um vale de águas azuis, e coincide com a abandonada Adoração dos Magos devido ao seu naturalismo e contraste de luz e sombra (chiaroscuro),[50] aqui distintamente visível. A pintura solenemente declara a riqueza do conhecimento estilístico do traje e da sua representação, a julgar pela concepção notável do vestuário de Uriel (que compete com a simples túnica enegrecida azul da Virgem), impressa numa figura sóbria e imponente, que perde lugar na segunda versão onde assume outra pose, desta feita mais singela, cedente a uma nova Virgem vestida de um manto de azul brilhante, suavizando o cenário áspero[50] e contrastando com a representação da primeira versão. Apesar das avantajadas medidas, cerca de 200 por 120 cm (a segunda versão existente cerca de 190 por 120 cm), a pintura da Virgem nas Pedras não é tão complexa quanto a encomenda dos monges de São Donato, constando em cena somente quatro figuras em vez de cerca de cinquenta - cuja forma conjunta completa uma pirâmide triangular - numa paisagem rochosa, em vez de detalhes arquitetônicos. Eventualmente, a pintura foi acabada. De fato, duas versões desta pintura foram feitas, uma entregue a Confraria religiosa e a outra levada para a França pelo próprio Leonardo.[17][23]
Acredita-se que a versão do Louvre seja a primeira das versões, pintada entre 1483-1486, ou mais cedo.[78] A segunda versão, pertecente a National Gallery1880, foi vendida pela igreja em 1781, e,certamente, em 1785 tornou-se posse de Gavin Hamilton, que a levou para a Inglaterra, onde passou por várias coleções.[78] Nesta versão é provável a participação de outros artistas como Ambrogio de Pedris, e, de certo modo, mesmo tratando-se de uma pintura mais madura, seu naturalismo perde lugar para um idealismo muito maior do que o da versão anterior.[50] desde
Atualmente, existe a especulação de uma outra versão[74](Versão Cheramy), em que Leonardo tenha participado, cronologicamente anterior a versão de Londres.
Arquitetura militar Durante seu período em Milão com Ludovico Sforza, Leonardo projetou vários prédios com armas de guerra e reforços. Sua habilidade para arquitetura militarSforza. contribuiu para sua fama entre os Entre seus mais formidáveis projetos militares está uma escada para uso numa torre fortificada. O projeto incluía quatro rampas independentes de outras. Assim, os soldados podiam subir e descer de 4 andares sem esbarrar em grupos de soldados que iam em direção contrária. Em 1502, Leonardo projetou um fosso interessante. Ele escondeu uma torre cilíndrica debaixo d'água com um teto levemente inclinado que saía um pouco da superfície da água. Os defensores que estivessem dentro da torre poderiam disparar suas armas através da superfície da água. Feno molhado cobria o teto da torre contra os danos causados pelos disparos. Leonardo projetou também um castelo com sistema triplo de segurança. Um dos cantos dessa construção tinha duas fortificações: a primeira estendia-se até o canto do forte e a outra estendia-se sobre parte da parede externa. |
[editar] Encargos na Corte
Entre 1487 e 1490 Leonardo assume uma posição de destaque na corte milanesa. O seu trabalho não se resumia a pintar, e entre outras coisas, também era responsável pela organização de festividades, trabalho que intimamente não o contentava;[12] trabalhou vários anos na realização de uma estátua equestre para o antecessor de Ludovico, Francesco Sforza, que nunca concluiu e na edificação de estruturas defensivas, como arquiteto militar do duque. Leonardo também participou da decoração de quartos e apartamentos da corte (sendo somente parte da Salla delle Asse1498, o que restou deste encargo), e na decoração do refeitório dos padres dominicanos de Santa Maria delle Grazie(1495-1498).[16] É nesta época de grandes feitos que inúmeros retratos de mulheres intimamente ligadas ao seu patrono são realizados, entre eles o retrato de uma jovem muito admirada na corte, cujo resultado seria uma mistura da linguagem iconográfica de Ginevra de' Benci e o naturalismo da Virgem dos Rochedos. trabalhada por volta de
O mais belo desenho do mundo. | — Bernard Berenson[50] |
Entre as suas obras acabadas ocupa uma posição de destaque um retrato de uma senhora da aristocracia, que segura nas mãos um arminho: o retrato de Cecília Gallerani, mundialmente conhecido como Dama com Arminho. Pintado por volta de 1488, o quadro concentra todas as inovações de Leonardo na época: a representação do rosto virado em uma posição de três-quartos, o gesto da mão,[nb 31] a definição da forma pela luz e a representação do movimento interrompido[79] visando uma estrutura helicoidal.[50] Cecília parece reagir à presença de alguém fora da pintura, em um movimento de giros de cabeça e tronco, o arminho de tamanho um tanto exagerado, repete-lhe o gesto, a mão curvada elegantemente corresponde, por sua vez, ao movimento do animal, criando um sintonia entre modelo e o arminho.
De fato, a linguagem iconográfica utilizada por Leonardo nesta obra -que nos remete a uma pintura de sua fase inicial, a Ginevra de' Benci-, fez com que permanecessem vários mistérios em relação ao simbolismo do arminho. Acredita-se que o arminho é uma alusão ao apelido da jovem aristocrata,[50][16][80] Porém, a razão mais provável é a terceira, ou seja, a alusão a Ludovico Sforza.[50] A jovem era a amante de eleição de Ludovico e, a partir de meados de 1488, este começou a usar o arminho como um dos seus emblemas. Assim Ludovico, sob a simbólica forma de animal, surge no regaço da jovem, bem penteado e acariciado pelas mãos da sua amante. Existem provas documentais de que o quadro pertenceu a retratada. visto que o som de «Gallerani» é remanescente da acepção grega para arminho, «galée». Noutra vertente, o animal é considerado um sinal de pureza, pois, acreditava-se, o arminho preferia morrer em uma caçada, do que se refugiar em alguma toca, para não sujar seu manto branco.
[editar] Obras da década de 1490
- Retratos de Perfil
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O Retrato de Mulher de Perfil (c. 1493-1495), trata do retrato da esposa de Ludovico Sforza, Beatriz d'Este. Pintado, provavelmente, por Ambrogio de Pedris, com a qualidade do traço da cabeça da retratada sugerindo, segundo Martin Kemp, professor emérito de pesquisa em história da arte na Universidade de Oxford, que Leonardo tenha participado da pintura, se responsabilizando pelas bases do desenho.[16] A atribuição é reforçada de forma recíproca com a atribuição de um quadro a que, inicialmente, foi dada origem alemã, do século XIX, mas que foi, em 2009, atribuído a Leonardo.[81] Trata-se de um retrato de mulher igualmente de perfil e com características semelhantes ao retrato de Cecília Gallerani, que foi identificado graças a uma impressão digital e análises científicas. Inicialmente denominado Mulher de Perfil com Vestido da Renascença, foi renomeado de La Bella Principessa por Kemp, que identificou a retratada como Bianca Sforza, filha de Ludovico Sforza e sua amante Bernardina de Corradis. Os membros da família Sforza sempre foram retratados em perfil, em contraste com as amantes de Ludovico que não eram.
Por volta deste período datam-se mais dois retratos atribuídos ao artista, o inacabado Retrato de um Músico, seu único retrato pictórico masculino e La Belle Ferronière, retrato de Lucrezia Crivelli, amante de Ludovico, encerrando um ciclo de retratos femininos na corte milanesa.
Há uma referência documentada de uma encomenda, possivelmente do duque Ludovico Sforza, presente em uma lista que instruía um de seus funcionários, Marchesino Stanga, com tarefas que lhe exigiam atenção. Uma das tarefas era que
apresse Leonardo, o florentino, a terminar o trabalho no refeitório delle Grazie, que ele começou, para que se ocupe em seguida do outro salão do refeitório delle Grazie; e que os contratos que ele assinou com sua mão sejam cumpridos, pois o obrigam a terminar o trabalho dentro do tempo que será combinado com ele - Ludovico Sforza[16]
As mãos e os braços, em todas as suas ações, devem exibir a intenção da mente que os move, até quando for possível, porque, por meio deles, quem tiver um bom julgamento mostrará intenções mentais em todos os seus movimentos. | — Leonardo da Vinci[50] |
A pintura mais famosa de Leonardo, da década de 1490, é A Última Ceia1495-1498), pintada no refeitório dos padres dominicanos de Santa Maria delle Grazie em Milão. É uma obra fundamental da história da Arte. A pintura apresenta a última ceia, partilhada por Jesus com seus discípulos, antes de sua captura e execução. Mostra o momento específico em que Jesus, de acordo com o relato bíblico, teria dito aos apóstolos que um deles o trairia. Leonardo mostra a consternação que esta afirmação provocou entre os doze seguidores de Jesus.[23] O romancista Matteo Bandello observou Leonardo trabalhando na obra, e escreveu que (
Por diversas ocasiões, presenciei Leonardo dirigir-se logo pela manhã para se dedicar à pintura de A Última Ceia. Costumava permanecer ali, desde o nascer do sol até o entardecer, sem deixar os pincéis descansarem de suas mãos, pintando sempre, sem comer nem beber. Depois, por três ou quatro dias, não voltava a tocar no trabalho" - Matteo Bandello[50]
Isto, de acordo com Vasari, estava além da compreensão do prior, que o atormentou até que Leonardo pedisse a intervenção de Ludovico. Vasari descreve como Leonardo, atormentado com a dúvida de sua capacidade de retratar os rostos de Cristo e do traidor Judas, disse ao duque que seria obrigado a usar o próprio prior como seu modelo.[22][nb 32]
Quando terminada, a pintura foi aclamada como uma obra-prima do desenho e da caracterização,[22] porém rapidamente deteriorou-se, a tal ponto que, cem anos depois de seu término, a obra foi descrita por um observador seu como "completamente arruinada".[17] Leonardo, em vez de usar a técnica mais confiável do afresco, utilizou-se da têmpera sobre uma superfície feita basicamente de gesso - o que resultou num material sujeito ao mofo e a esfarelar-se.[17] Apesar disso, a pintura continua a ser uma das obras de arte mais reproduzidas de todos os tempos, e incontáveis cópias suas são feitas corriqueiramente, das maneiras mais variadas - de tapetes a camafeus.
Explode em Milão a Segunda Guerra Italiana (1499–1504), e Ludovico Sforza é deposto. Após a destruição de seu modelo em argila para o Gran Cavallo pelas tropas francesas, Leonardo sente-se fortemente motivado a abandonar a cidade. Acompanhado de Salai e seu amigo Luca Pacioli parte, passando por Mântua e depois Veneza, sendo aí empregado como engenheiro e arquiteto militar, e, no ano seguinte, vai para Florença.[17][20]
FONTE: Wikipédia, a Enciclopédia Livre.
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