Acidente nuclear de Chernobil
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Acidente nuclear de Chernobyl)
O acidente nuclear de Chernobil ocorreu dia 26 de abril de 1986, na Usina Nuclear de Chernobil (originalmente chamada Vladimir Lenin) na Ucrânia (então parte da União Soviética). É considerado o pior acidente nuclear da história da energia nuclear, produzindo uma nuvem de radioatividade que atingiu a União Soviética, Europa Oriental, Escandinávia e Reino Unido, com a liberação de 400 vezes mais contaminação que a bomba que foi lançada sobre Hiroshima.[1]Ucrânia, Bielorrússia e Rússia foram muito contaminadas,[2] Grandes áreas da resultando na evacuação e reassentamento de aproximadamente 200 mil pessoas.
Cerca de 60% de radioatividade caiu em território bielorrusso.
O acidente fez crescer preocupações sobre a segurança da indústria nuclear soviética, diminuindo sua expansão por muitos anos, e forçando o governo soviético a ser menos secreto. Os agora separados países de Rússia, Ucrânia e Bielorrússia têm suportado um contínuo e substancial custo de descontaminação e cuidados de saúde
devidos ao acidente de Chernobil. É difícil dizer com precisão o número
de mortos causados pelos eventos de Chernobil, devido às mortes esperadas por câncer, que ainda não ocorreram e são difíceis de atribuir especificamente ao acidente. Um relatório da Organização das Nações Unidas de 2005 atribuiu 56 mortes até aquela data – 47 trabalhadores acidentados e nove crianças com câncer da tireóide – e estimou que cerca de 4000 pessoas morrerão de doenças relacionadas com o acidente.[2] O Greenpeace, entre outros, contesta as conclusões do estudo.
O governo soviético procurou esconder o ocorrido da comunidade mundial, até que a radiação em altos níveis foi detectada em outros países. Segue um trecho do pronunciamento do líder da União Soviética, na época do acidente, Mikhail Gorbachev, quando o governo admitiu a ocorrência:
Boa tarde, meus camaradas. Todos vocês sabem que houve um inacreditável erro – o acidente na usina nuclear de Chernobyl. Ele afetou duramente o povo soviético, e chocou a comunidade internacional. Pela primeira vez, nós confrontamos a força real da energia nuclear, fora de controle. |
Índice[esconder] |
[editar] A instalação
A usina de Chernobil está situada no assentamento de Pripyat, Ucrânia, 18 quilômetros a noroeste da cidade de Chernobil, 16 quilômetros da fronteira com a Bielorrússia, e cerca de 110 quilômetros ao norte de Kiev. A usina era composta por quatro reatores, cada um capaz de produzir um gigawatt de energia elétrica
(3,2 gigawatts de energia térmica). Em conjunto, os quatro reatores
produziam cerca de 10% da energia elétrica utilizada pela Ucrânia na
época do acidente. A construção da instalação começou na década de 1970, com o reator nº 1 comissionado em 1977, seguido pelo nº 2 (1978), nº 3 (1981), e nº 4 (1983). Dois reatores adicionais (nº 5 e nº 6, também capazes de produzir um gigawatt cada) estavam em construção na época do acidente. As quatro unidades geradoras usavam um tipo de reator chamado RBMK-1000.[3]
[editar] O acidente
Sábado, 26 de abril de 1986, à 1:23:58 a.m. hora local, o quarto reator da usina de Chernobil - conhecido como Chernobil-4 - sofreu uma catastrófica explosão de vapor que resultou em incêndio, uma série de explosões adicionais, e um derretimento nuclear.
[editar] Causas
Há duas teorias oficiais, mas contraditórias, sobre a causa do acidente. A primeira foi publicada em agosto de 1986, e atribuiu a culpa, exclusivamente, aos operadores da usina. A segunda teoria foi publicada em 1991 e atribuiu o acidente a defeitos no projeto do reator RBMK, especificamente nas hastes de controle.
Ambas teorias foram fortemente apoiadas por diferentes grupos,
inclusive os projetistas dos reatores, pessoal da usina de Chernobil, e o
governo. Alguns
especialistas independentes agora acreditam que nenhuma teoria estava
completamente certa. Na realidade o que aconteceu foi uma conjunção das
duas, sendo que a possibilidade de defeito no reator foi
exponencialmente agravado pelo erro humano.
Porém o fator mais importante foi que Anatoly Dyatlov, engenheiro
chefe responsável pela realização de testes nos reatores, mesmo sabendo
que o reator era perigoso em algumas condições e contra os parâmetros de
segurança dispostos no manual de operação, levou a efeito
intencionalmente a realização de um teste de redução de potência que
resultou no desastre. A gerência da instalação era composta em grande
parte de pessoal não qualificado em RBMK: o diretor, V.P. Bryukhanov,
tinha experiência e treinamento em usina termo-elétrica a carvão. Seu
engenheiro chefe, Nikolai Fomin, também veio de uma usina convencional. O
próprio Anatoli Dyatlov, ex-engenheiro chefe dos Reatores 3 e 4,
somente tinha "alguma experiência com pequenos reatores nucleares".
Em particular:
- O reator tinha um fração de vazio positivo perigosamente alto. Dito de forma simples, isto significa que se bolhas de vapor se formam na água de resfriamento, a reação nuclear se acelera, levando à sobrevelocidade se não houver intervenção. Pior, com carga baixa, este coeficiente a vazio não era compensado por outros fatores, os quais tornavam o reator instável e perigoso. Os operadores não tinham conhecimento deste perigo e isto não era intuitivo para um operador não treinado.
- Um defeito mais significativo do reator era o projeto das hastes de controle. Num reator nuclear, hastes de controle são inseridas no reator para diminuir a reação. Entretanto, no projeto do reator RBMK, as pontas das hastes de controle eram feitas de grafite e os extensores (as áreas finais das hastes de controle acima das pontas, medindo um metro de comprimento) eram ocas e cheias de água, enquanto o resto da haste - a parte realmente funcional que absorve os nêutrons e portanto pára a reação - era feita de carbono-boro. Com este projeto, quando as hastes eram inseridas no reator, as pontas de grafite deslocavam uma quantidade do resfriador (água). Isto aumenta a taxa de fissão nuclear, uma vez que o grafite é um moderador de nêutrons mais potente. Então nos primeiros segundos após a ativação das hastes de controle, a potência do reator aumenta, em vez de diminuir, como desejado. Este comportamento do equipamento não é intuitivo (ao contrário, o esperado seria que a potência começasse a baixar imediatamente), e, principalmente, não era de conhecimento dos operadores.
- Os operadores violaram procedimentos, possivelmente porque eles ignoravam os defeitos de projeto do reator. Também muitos procedimentos irregulares contribuíram para causar o acidente. Um deles foi a comunicação ineficiente entre os escritórios de segurança (na capital, Kiev) e os operadores encarregados do experimento conduzido naquela noite.
É importante notar que os operadores desligaram muitos dos sistemas
de proteção do reator, o que era proibido pelos guias técnicos
publicados, a menos que houvesse mau funcionamento.
De acordo com o relatório da Comissão do Governo, publicado em agosto de 1986,
os operadores removeram pelo menos 204 hastes de controle do núcleo do
reator (de um total de 211 deste modelo de reator). O mesmo guia (citado
acima) proibia a operação do RBMK-1000 com menos de 15 hastes dentro da
zona do núcleo.
[editar] Eventos
Dia 25 de abril de 1986,
o reator da Unidade 4 estava programado para ser desligado para
manutenção de rotina. Foi decidido usar esta oportunidade para testar a
capacidade do gerador do reator para gerar suficiente energia para
manter seus sistemas de segurança (em particular, as bombas de água) no
caso de perda do suprimento externo de energia. Reatores como o de
Chernobil têm um par de geradores diesel disponível como reserva, mas
eles não são ativados instantaneamente – o reator é portanto usado para
partir a turbina, a um certo ponto a turbina seria desconectada do
reator e deixada a rodar sob a força de sua inércia rotacional, e o
objetivo do teste era determinar se as turbinas, na sua fase de queda de
rotação, poderiam alimentar as bombas enquanto o gerador estivesse
partindo. O teste foi realizado com sucesso previamente em outra unidade
(com as medidas de proteção ativas) e o resultado foi negativo (isto é,
as turbinas não geravam suficiente energia, na fase de queda de
rotação, para alimentar as bombas), mas melhorias adicionais foram
feitas nas turbinas, o que levou à necessidade de repetir os testes.
A potência de saída do reator 4 devia ser reduzida de sua capacidade nominal de 3,2 GW para 700 MW
a fim de realizar o teste com baixa potência, mais segura. Porém,
devido à demora em começar a experiência, os operadores do reator
reduziram a geração muito rapidamente, e a saída real foi de somente 30
MW. Como resultado, a concentração de nêutrons absorvendo o produto da fissão, xenon-135,
aumentou (este produto é tipicamente consumido num reator em baixa
carga). Embora a escala de queda de potência estivesse próxima ao máximo
permitido pelos regulamentos de segurança, a gerência dos operadores
decidiu não desligar o reator e continuar o teste. Ademais, foi decidido
abreviar o experimento e aumentar a potência para apenas 200 MW. A fim
de superar a absorção de neutrons do excesso de xenon-135, as hastes de
controle foram puxadas para fora do reator mais rapidamente que o
permitido pelos regulamentos de segurança. Como parte do experimento, à
1:05 de 26 de abril,
as bombas que foram alimentadas pelo gerador da turbina foram ligadas; o
fluxo de água gerado por essa ação excedeu o especificado pelos
regulamentos de segurança. O fluxo de água aumentou à 1:19 – uma vez que
a água também absorve nêutrons. Este adicional incremento no fluxo de
água requeria a remoção manual das hastes de controle, produzindo uma
condição de operação altamente instável e perigosa.
À 1:23, o teste começou. A situação instável do reator não se
refletia, de nenhuma maneira, no painel de controle, e não parece que
algum dos operadores estivesse totalmente consciente do perigo. A
energia para as bombas de água foi cortada, e como elas foram conduzidas
pela inércia do gerador da turbina, o fluxo de água decresceu. A
turbina foi desconectada do reator, aumentando o nível de vapor no
núcleo do reator. À medida que o líquido resfriador aquecia, bolsas de
vapor se formavam nas linhas de resfriamento. O projeto peculiar do
reator moderado a grafite RBMK
em Chernobil tem um grande coeficiente de vazio positivo, o que
significa que a potência do reator aumenta rapidamente na ausência da
absorção de nêutrons da água, e nesse caso a operação do reator torna-se
progressivamente menos estável e mais perigosa.
À 1:23 os operadores pressionaram o botão AZ-5 (Defesa Rápida de
Emergência 5) que ordenou uma inserção total de todas as hastes de
controle, incluindo as hastes de controle manual que previamente haviam
sido retiradas sem cautela. Não está claro se isso foi feito como medida
de emergência, ou como uma simples método de rotina para desligar
totalmente o reator após a conclusão do experimento (o reator estava
programado para ser desligado para manutenção de rotina). É usualmente
sugerido que a parada total foi ordenada como resposta à inesperada
subida rápida de potência. Por outro lado Anatoly Syatlov, engenheiro chefe da usina Nuclear de Chernobil na época do acidente, escreveu em seu livro:
Devido à baixa velocidade do mecanismo de inserção das hastes de
controle (20 segundos para completar), as partes ocas das hastes e o
deslocamento temporário do resfriador, a parada total provocou o aumento
da velocidade da reação. O aumento da energia de saída causou a
deformação dos canais das hastes de controle. As hastes travaram após
serem inseridas somente um terço do caminho, e foram portanto incapazes
de conter a reação. Por volta de 1:23:47, o a potência do reator
aumentou para cerca de 30GW, dez vezes a potência normal de saída. As
hastes de combustível começaram a derreter e a pressão de vapor
rapidamente aumentou causando uma grande explosão de vapor, deslocando e destruindo a cobertura do reator, rompendo os tubos de resfriamento e então abrindo um buraco no teto.
Para reduzir custos, e devido a seu grande tamanho, o reator foi
construído com somente contenção parcial. Isto permitiu que os
contaminantes radioativos escapassem para a atmosfera depois que a
explosão de vapor queimou os vasos de pressão primários. Depois que
parte do teto explodiu, a entrada de oxigênio – combinada com a
temperatura extremamente alta do combustível do reator e do grafite
moderador – produziu um incêndio da grafite. Este incêndio contribuiu
para espalhar o material radioativo e contaminar as áreas vizinhas.
Há alguma controvérsia sobre a exata sequência de eventos após
1:22:30 (hora local) devido a inconsistências entre declaração das
testemunhas e os registros da central. A versão mais comumente aceita é
descrita a seguir. De acordo a esta teoria, a primeira explosão
aconteceu aproximadamente à 1:23:47, sete segundos após o operador
ordenar a parada total. É algumas vezes afirmado que a explosão
aconteceu antes ou imediatamente em seguida à parada total (esta é a
versão do Comitê Soviético que estudou o acidente). Esta distinção é
importante porque, se o reator tornou-se crítico vários segundos após a
ordem de parada total, esta falha seria atribuída ao projeto das hastes
de controle, enquanto a explosão simultânea à ordem de parada total
seria atribuída à ação dos operadores. De fato, um fraco evento sísmico
foi registrado na área de Chernobil à 1:23:39. Este evento poderia ter
sido causado pela explosão ou poderia ser coincidente. A situação é
complicada pelo fato de que o botão de parada total foi pressionado mais
de uma vez, e a pessoa que o pressionou morreu duas semanas após o
acidente, envenenada pela radiação.
[editar] Sequência de eventos
- 26 de abril de 1986 - Acidente no reator 4, da Central Elétrica Nuclear de Chernobil. Aconteceu à noite, entre 25 e 26 de abril de 1986, durante um teste. A equipe operacional planejou testar se as turbinas poderiam produzir energia suficiente para manter as bombas do líquido de refrigeração funcionando, no caso de uma perda de potência, até que o gerador de emergência, a óleo diesel, fosse ativado. Para prevenir o bom andamento do teste do reator, foram desligados os sistemas de segurança. Para o teste, o reator teve que ter sua capacidade operacional reduzida para 25%. Este procedimento não saiu de acordo com planejado. Por razões desconhecidas, o nível de potência de reator caiu para menos de 1% e por isso a potência teve que ser aumentada. Mas 30 segundos depois do começo do teste, houve um aumento de potência repentina e inesperada. O sistema de segurança do reator, que deveria ter parado a reação de cadeia, falhou. Em frações de segundo, o nível de potência e temperatura subiram em demasia. O reator ficou descontrolado. Houve uma explosão violenta. A cobertura de proteção, de 1000 toneladas, não resistiu. A temperatura de mais de 2000°C, derreteu as hastes de controle. A grafite que cobria o reator pegou fogo. Material radiativo começou a ser lançado na atmosfera.
- de 26 de abril até 4 de maio de 1986 - a maior parte da radiação foi emitida nos primeiros dez dias. Inicialmente houve predominância de ventos norte e noroeste. No final de abril o vento mudou para sul e sudeste. As chuvas locais frequentes fizeram com que a radiação fosse distribuída local e regionalmente.
- de 27 de abril a 5 de maio de 1986 - aproximadamente 1800 helicópterosareia e chumbo, sobre o reator que ainda queimava. jogaram cerca de 5000 toneladas de material extintor, como
- 27 de abril de 1986 - os habitantes da cidade de Pripyat foram evacuados.
- 28 de abril 1986, 23 horas - um laboratório de pesquisas nucleares da Dinamarca anunciou a ocorrência do acidente nuclear em Chernobil.
- 29 de abril de 1986 - o acidente nuclear de Chernobil foi divulgado como notícia pela primeira vez, na Alemanha.
- até 5 de maio 1986 - durante os 10 dias após o acidente, 130 mil pessoas foram evacuadas.
- 6 de maio de 1986 - cessou a emissão radioativa.
- de 15 a 16 de maio de 1986 - novos focos de incêndio e emissão radioativa.
- 23 de maio de 1986 - o governo soviético ordenou a distribuição de solução de iodo à população.
- Novembro de 1986 - o "sarcófago" que abriga o reator foi concluído. Ele destina-se a absorver a radiação e conter o combustível remanescente. Considerado uma medida provisória e construído para durar de 20 a 30 anos, seu maior problema é a falta de estabilidade, pois, como foi construído às pressas, há risco de ferrugem nas vigas.
- 1989 - o governo russo embargou a construção dos reatores 5 e 6 da usina.
- 12 de dezembro de 2000 - depois de várias negociações internacionais, a usina de Chernobil foi desativada.
FONTE: Wikipédia, a Enciclopédia Livre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário