Guajajaras
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Os guajajaras (também conhecidos como teneteara ou tenetehára) são um dos povos indígenas mais numerosos do Brasil. Habitam onze terras indígenas na margem oriental da Amazonia, todas situadas no Maranhão. Em 2000 sua população era de 13.100 pessoas.
A língua falada por eles é o teneteara, da família tupi-guarani.
Sua história de mais de 380 anos de contato foi marcada tanto por
aproximações com os brancos como por recusas totais, submissões,
revoltas e grandes tragédias. A revolta de 1901 contra os missionários capuchinhos teve como resposta a última "guerra contra os índios" na história do Brasil.
Foram também conhecidos por muitos povos brasileiros como os "cuia de aço" por fazerem ferramentas excelentes para o trabalho.
Se alimentam principalmente de caça e de frutas cultivadas por eles.
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[editar] Economia
A principal atividade de subsistência é a lavoura, sendo comum o plantio de mandioca, macaxeira, milho, arroz, abóbora, melancia, feijão, fava, inhame, cará, gergelim, amendoim.
Na estação seca, de maio a novembro, são realizadas a broca, derrubada,
queimada, coivara e limpeza, enquanto de novembro a fevereiro se faz o
plantio e as capinas.
As áreas plantadas por unidade residencial geralmente são pequenas:
atualmente elas variam entre 1,25 ha e 3,55 ha por unidade doméstica ou
entre 0,25 ha e 0,71 ha por indivíduo, respectivamente. Esta variação
depende principalmente do envolvimento das comunidades e dos indivíduos
na comercialização de produtos agrícolas.
Algumas aldeias têm grandes roças comunais preparadas para projetos
comunitários, para plantar arroz e frutas para a comercialização. Em
muitas roças encontra-se uma planta ainda não identificada, chamada
canapu pelos guajajara. Trata-se de um arbusto de cerca de 60 cm de
altura que dá pequenas frutas amareladas, moles e cheias de pequenas
sementes, de forma parecida a uvas. É interessante notar que esta planta
não tem nenhuma função prática para os guajajara contemporâneos, mas
eles relatam que era seu alimento em tempos míticos antes que Maíra, seu
criador do mundo, os ensinasse a agricultura. É por causa desses
relatos míticos que o canapu não é arrancado durante a "limpeza" da
roça.
A pesca é mais praticada pelas aldeias ribeirinhas. Os guajajara costumam pescar cerca de 36 espécies diferentes, sendo o cará, o cascudo, a lampreia, o mandi, o pacu, o piau
e a traíra as mais comuns. Nos últimos anos, no entanto, foram
construídos, em diversos projetos comunitários, pequenos açudes perto de
algumas aldeias que ficam distantes de rios. Para os moradores destas
aldeias os açudes permitem tanto a pesca de subsistência quanto a
comercial.
Durante as últimas décadas, a caça tornou-se uma atividade cada vez
menos produtiva por causa da concorrência dos brancos e das limitações
das áreas. Os guajajara caçam tradicionalmente mais de 56 espécies,
sendo as mais comuns o caititu, a cutia, o jacamim, o jacu, a queixada e
diversas espécies de macacos e tatus. Em uma parte das terras guajajara
a caça voltou a ser mais produtiva durante os anos 1990 depois de
iniciar controles mais eficientes dos limites das terras pelos próprios
índios.
A coleta ainda é
praticada por quase todos os guajajara. As atividades de coleta, no
entanto, estão sendo substituídas cada vez mais pela fruticultura nas
aldeias e roças. Atualmente os guajajara plantam cerca de 30 tipos de
fruteiras e palmeiras. O único produto florestal ainda coletado em
maiores quantidades para fins comerciais é o mel.
As relações econômicas com os brancos baseiam-se tanto em trocas
materiais quanto monetárias. As fontes de renda mais comuns são a
comercialização de produtos agrícolas, a venda de artesanato e trabalhos temporários (para os colonos) ou permanentes (para a Funai).
Outra fonte de dinheiro é a venda de maconha, plantada tradicionalmente
pelos guajajara. A maconha foi introduzida por escravos africanos no
século XVIII e seu consumo ainda é uma parte integral da cultura
indígena, mas sua venda gera conflitos muito sérios e violentos com as
Polícias Federal e Militar.
Um problema muito grave é a comercialização predatória dos recursos
naturais das áreas por concessões a madeireiras e caçadores, de modo a
obter pequenos lucros em curto prazo para, por exemplo, comprar os
remédios não fornecidos pelos serviços governamentais deficientes.
[editar] Organização social e política
Atualmente, as aldeias não mais tomam nenhuma forma típica: são
compridas (ao longo de caminhos), redondas ou quadrangulares.
Localizam-se de preferência à beira de rios ou, na falta de cursos
d'água, perto de lagoas na mata. A proximidade de uma estrada pode ser
outro fator atraente, para vender artesanato, por exemplo.
As aldeias, antigamente muito pequenas e de existência temporária,
hoje em dia são permanentes e poucas vezes transferidas. Podem ser
constituídas por uma única família, mas em alguns casos podem ter até
400 ou mais moradores. As casas, construídas no estilo regional
camponês, em geral são habitadas por famílias nucleares. As aldeias
costumam manter sua independência e poucas vezes formam coligações
regionais, mas existem diversas relações de parentesco, matrimoniais e
rituais entre as comunidades.
O sistema de parentesco e as formas de casamento destacam-se pela
flexibilidade em estabelecer e aproveitar relações. A unidade mais
importante é a família extensa, que é composta por um número de famílias
nucleares unidas entre si por laços de parentesco. Trata-se, em
essência, de um grupo de mulheres aparentadas e sob a liderança de um
homem. Não há metades, clãs ou linhagens, nem qualquer direito ou
obrigação que se transmita por uma linha de descendência específica.
A residência pós-núpcial é com os pais da mulher (uxorilocalidade),
pelo menos temporariamente. Muitos chefes de família extensa procuram
manter o maior número de mulheres junto de si, até adotando as filhas de
homens falecidos que eles costumavam chamar de "irmãos". Eles tentam
arranjar casamentos para essas moças para assim conseguir genros, que
devem viver pelo menos um ou dois anos junto aos sogros, prestando
vários tipos de serviço. Se o chefe de família tem bastante prestígio,
consegue que os genros se fixem definitivamente com ele, aumentando,
desse modo, o número de colaboradores e angariando co-partidários para
formar uma facção na aldeia.
A chefia, sem regras fixas para se estabelecer, sofreu algumas
mudanças com a política indigenista. Os principais critérios
tradicionais para assumir a liderança (qualidades individuais e uma base
de co-partidários por consangüinidade e afinidade) ficaram menos
importantes, comparados com as exigências de saber lidar com o mundo dos
brancos. Isto diz respeito, em primeiro lugar, à capacidade de se
relacionar com os órgãos governamentais e tirar vantagens disto para a
comunidade local, e à qualidades individuais (conhecimentos do português
e talento diplomático, entre outras).
Cada aldeia tem seu próprio cacique ou capitão, mas há aldeias com
mais de um por causa das rivalidades entre várias famílias extensas.
Alguns caciques tentam estender sua influência às aldeias vizinhas, mas
sua autoridade é muito instável e pode ser contestada a qualquer
instante pelos concorrentes da própria aldeia. Neste jogo pelo poder, o
órgão indigenista costuma intervir para promover seus próprios
protegidos, que podem ser personagens fracos, sem base verdadeira nas
aldeias.
[editar] Conflito com os brancos
O território histórico dos guajajaras, no estado do Maranhão,
sempre foi muito cobiçado tanto pelas lideranças políticas para
assentamento de colonos quanto pelas empresas agropecuárias. Em 1975,
após várias tentativas de resolver as invasões em suas terras, 200
guajajaras invadiram o povoado de Marajá. Na ação, expulsaram 83 colonos
e queimaram suas residências. Como resultado inesperado, ocorreram 2
mortes dentre os colonos.[1]
[editar] Cosmologia, mitologia e ritos
Cosmologia, mitologia e ritos.A cosmologia tradicional é típica dos
povos tupi-guarani, distinguindo-se quatro categorias de seres
sobrenaturais, que recebem a designação genérica de karowara: (1) os
criadores ou heróis culturais, responsáveis pela criação e transformação
do mundo, sendo Maíra e os gêmeos Maíra-ira e Mucura-ira os mais
importantes e Zurupari, o criador das pragas e dos insetos, das cobras
peçonhentas e aranhas, um herói cultural muito temido; (2) os "donos"
das florestas (Ka'a'zar), das águas (Y'zar), das caças (Miar'i'zar) e
das árvores (Wira'zar), que são hostis e muito temidos por seu poder
maligno; (3) os azang, espíritos errantes dos mortos, também muito
temidos; e (4) os piwara, espíritos de animais. Muitos guajajara não
acreditam mais nestes seres, por causa das atividades missionárias.
A mitologiauma mistura de motivos tupi, europeus e africanos. Há, por
exemplo, um mito com o motivo da Gata Borralheira e a figura do
Zurupari. Existem três categorias principais de mitos: (1) mitos de
heróis culturais; (2) mitos que apontam uma moral; e (3) mitos de
animais. Em todos os mitos registrados até agora, destaca-se o papel de
Maíra. Um mito muito importante para explicar o mundo do ponto de vista
dos guajajara é o dos gêmeos Maíra-ira e Mucura-ira.
O motivo mítico dos gêmeos é comum entre diversos povos tupi. Para os
Guajajara eles são heróis culturais, ao lado de Maíra-pai, embora não
tenham o mesmo pai. Enquanto Maíra-ira tem origem divina, Mucura-ira tem
origem animal, como seu pai.
O mito relata sua odisséia por um mundo cheio de desafios e perigos,
desde os primeiros momentos dentro da barriga da mãe até o encontro
final com Maíra. O maior desafio é sua sobrevivência entre as "onças",
que são canibais e matam a mãe dos dois, mas s os gêmeos se vingam delas
brutalmente. No decorrer dos anos, os dois aprendem superar todos os
perigos naturais e supernaturais, mas Mucura-ira sofre mais devido a sua
natureza "humana".
O mito é cheio de alusões à vida cotidiana dos Guajajara e explica
grande parte de seu mundo, como, por exemplo, a "condenação" dos
guajajara à agricultura por Maíra por causa de algum "pecado original",
como um momento de desconfiança dos poderes de Maíra por parte de uma
mulher. Mas ele também pode ser interpretado em termos dos conflitos
apresentados e superados como representação mítica dos conflitos dentro
da sociedade guajajara e com outros povos.
Os grandes rituais tradicionais estão em decadência por muito tempo.
Antigamente, o mais importante era a Festa do Mel (zemuishi-ohaw),
realizada em setembro ou outubro, durante a estação seca, e que exigia
vários meses para ser preparada. Ela desempenhava um papel muito
importante nas boas relações entre as aldeias, mas atualmente é
celebrada raramente e apenas em poucas aldeias.
A Festa do Milho (awashire-wehuhau), também chamada a "festa do
pajé", realizava-se todos os anos na época das chuvas, durante o período
de crescimento desse vegetal. Seu propósito era garantir uma boa
colheita e proteger o milho contra as ações dos azang. Por isso, sua
principal característica era a pajelança.
O rito do Moqueado, realizado na mesma ocasião como parte da Festa do
Milho, marcava o final da puberdade para os adolescentes participantes.
O Moqueado ainda é praticado em intervalos irregulares, mas tornou-se
meio profano, muitas vezes só restando a parte culinária do rito para
acompanhar reuniões políticas.
Entre as causas principais do abandono dessas festas figuram a falta
de tempo para prepará-las e realizá-las, considerando a integração dos
guajajara na economia regional, além do esquecimento de muitos cantos
xamânicos.
O ciclo de vida de uma pessoa ainda costuma ser acompanhado por uma
série de rituais. Entre estes, os rituais de iniciação, em particular os
das meninas, são os mais vistosos e ricos de significados. Além disso,
há uma série de rituais para pedir permissão a Maíra para plantar, a
Miar'i'zar para caçar e a Y'zar para pescar.
[editar] Xamanismo
O xamanismo também está em decadência. Em algumas aldeias nem existe
mais. Antigamente, a maioria dos homens tentava, a qualquer custo, ser
pazé, mas poucos tinham sucesso e ganhavam fama. O poder e a reputação
dos pajés dependiam do número de seres sobrenaturais que eles sabiam
"chamar". Pajés muito reconhecidos podiam se tornar também líderes
poderosos.
A pajelança é uma atividade quase exclusivamente masculina. A função
principal dos pajés ainda é curar e celebrar as festas de Maíra e da
"mesada", um ritual de oferendas em favor de pessoas doentes. A
pajelança costuma ser vista como ambígua, porque os poderes dos xamãs
podem ser usados para objetivos tanto positivos quanto negativos. [1]
FONTE: Wikipédia, a Encilopédia Livre.
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