Arqueólogos acham pinturas mais antigas dos apóstolos de Jesus
DA REUTERS, EM ROMA
Arqueólogos e restauradores de arte usando nova tecnologia a laser
descobriram o que acreditam ser as pinturas mais antigas dos rostos dos
apóstolos de Jesus Cristo.
As imagens, encontradas em um trecho das catacumbas de Santa Tecla,
perto da Basílica de São Pedro, do lado de fora das muralhas da Roma
antiga, foram pintadas no fim do século 4º ou início do século 5º.
Tony Gentile /Reuters |
Afrescos em catacumba na Itália contêm as mais antigas imagens conhecidas dos apóstolos de Jesus. |
Arqueólogos acreditam que essas imagens podem estar entre as que mais
influenciaram os retratos feitos por artistas posteriores dos mais
importantes entre os primeiros seguidores de Cristo.
"São as primeiras imagens que conhecemos dos rostos desses quatro
apóstolos", disse o professor Fabrizio Bisconti, diretor de arqueologia
das catacumbas de Roma, que pertencem ao Vaticano e são administradas
por ele.
Os afrescos eram conhecidos, mas seus detalhes vieram à tona durante um
projeto de restauração iniciado dois anos atrás e cujos resultados foram
anunciados nesta terça-feira (22) em coletiva de imprensa.
Os ícones de rosto inteiro incluem as faces de São Pedro, Santo André e
São João, que fizeram parte dos 12 apóstolos originais de Jesus, e São
Paulo, que se tornou apóstolo após a morte de Cristo.
As pinturas possuem as mesmas características de imagens posteriores,
como a testa enrugada e alongada, a cabeça calva e a barbicha pontuda de
São Paulo, o que indica que podem ter sido as imagens nas quais os
retratos posteriores se basearam.
Os quatro círculos, com cerca de 50 centímetros de diâmetro, estão no
teto do local do sepultamento subterrâneo de uma mulher nobre que se
acredita que tenha se convertido ao cristianismo no fim do mesmo século
em que o imperador Constantino legalizou a religião.
Bisconti explicou que as pinturas mais antigas dos apóstolos os mostram
em grupo, com rostos menores cujos detalhes são difíceis de distinguir.
"Trata-se de uma descoberta muito importante na história das comunidades cristãs primitivas de Roma", disse Bisconti.
CIRURGIA A LASER
Os afrescos dentro do túmulo, medindo cerca de 2 metros por 2 metros,
estavam recobertos de uma pátina espessa de carbonato de cálcio
pulverizado, provocada pela umidade extrema e a ausência de circulação
de ar.
"Fizemos análises extensas e demoradas antes de decidir qual técnica
empregar", disse Barbara Mazzei, que chefiou o projeto. Ela explicou
como usou um laser como 'bisturi ótico' para fazer o carbonato de cálcio
cair sem prejudicar a tinta.
"O laser criou uma espécie de miniexplosão de vapor quando interagiu com
o carbonato de cálcio, levando este a se destacar da superfície."
O resultado foi a clareza espantosa das imagens, antes opacas e sem nitidez.
As rugas na testa de São Paulo, por exemplo, estão nítidas, e a brancura da barba de São Pedro ressurgiu.
"Foi uma descoberta de forte impacto emocional", disse Mazzei.
Outras cenas da Bíblia, como a de Jesus convocando Lázaro a levantar-se
dos mortos ou Abraão preparando-se para sacrificar seu filho, Isaac,
também ficaram muito mais claras e nítidas.
"No que diz respeito a pinturas no interior de catacumbas, estamos
acostumados a ver pinturas muito pálidas, geralmente brancas, com poucas
cores. No caso das catacumbas de Santa Tecla, a grande surpresa foram
as cores extraordinárias. Quanto mais avançamos, mais surpresas
encontramos", disse Mazzei.
Situado num labirinto de catacumbas sob um prédio moderno, o túmulo
ainda não está aberto ao público devido às obras que continuam, à
dificuldade de acesso e ao espaço limitado. Bisconti disse que as novas
descobertas serão abertas por enquanto apenas à visitação de
especialistas.
FONTE: Folha.com/Ciências/Arqueologia
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