18/01/2011
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10h23
Mudança climática revela cadáveres escondidos na neve
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DE SÃO PAULO
O piloto de avião Rafael Benjamín Pabón foi encontrado sentado em seu
assento, com o cinto de segurança afivelado e cara de quem estava dando
uma cochilada. Seu cabelo preto, não muito curto, caía sobre seu ombro.
Pabón estava congelado desde 1990.
Seu avião, um cargueiro, havia se chocado naquele ano contra o Huayana
Potosí, uma montanha de mais de seis quilômetros de altitude na região
de La Paz (Bolívia).
Reuters |
Criança inca morta há 500 anos e encontrada congelada no alto de vulcão na Argentina é exibida em museu do país |
O boliviano foi encontrado recentemente por um alpinista, que ficou tão
chocado ao esbarrar em um cadáver que resolveu carregá-lo montanha
abaixo. Sua mãe está viva e vai poder enterrá-lo.
Pabón, que tinha 27 anos ao morrer, entra para a lista de cadáveres
revelados pelo aquecimento global, que proporciona degelos inéditos em
vários lugares do mundo.
Um deles era o copiloto de Pabón, trazido de volta para fora da neve
pelo verão de 1997 --o terceiro membro da tripulação, um mecânico
chamado Walter Flores, ainda não foi encontrado.
Além da dupla, já foram encontradas desde três crianças incas nas
montanhas da Argentina até soldados austríacos da Primeira Guerra
Mundial que morreram lutando nos Alpes italianos.
Os soldados ao menos morreram lutando. Em 2005, foi encontrado o corpo
de Leo Mustonen. Ele era piloto de 22 anos da Força Aérea americana e,
em 1942, treinava para servir na Segunda Guerra.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Não estava em treinamento à toa: enquanto praticava, acabou batendo o
seu avião em uma montanha da Sierra Nevada, na Califórnia. Ficou 63 anos
por lá. Em 2006, foi finalmente enterrado em sua cidade natal, em
Minnesota (norte dos EUA).
Outros cadáveres, mais antigos, não chegam nem a ser reconhecidos. Um
deles é um misterioso e solitário homem que vivia no norte do Canadá,
uma região muito fria, há 550 anos.
Todos esse corpos, em função do frio extremo das regiões em que foram
encontrados e do ar seco, ficaram mumificados. Trata-se da neve fazendo
com os corpos o que os egípcios faziam com resinas e óleos.
A grande preservação dos corpos chama a atenção mesmo dos cientistas. Os cadáveres intactos impressionam.
OS 29 DO ILLIMANI
Ainda assim, não são apenas corpos que estão sendo localizados. Vários
pedaços do próprio avião de Pabón, por exemplo, foram desenterrados. Mas
o caso mais misterioso é o de um Boeing 727, operado pela empresa
Eastern Air Lines, que caiu na Bolívia em 1º de janeiro de 1985.
Em 2006, uma equipe de alpinistas no monte Illimani, segundo ponto mais
alto do país, redescobriu os destroços do avião, que caiu no local pouco
depois de decolar.
A questão é que nenhum dos corpos dos 29 passageiros foi encontrado, nem na época do acidente e nem durante a escalada de 2006.
A questão é que nenhum dos corpos dos 29 passageiros foi encontrado, nem na época do acidente e nem durante a escalada de 2006.
Para o alpinista Roberto Gómez, 28, que se deparou com parte da
fuselagem do Boeing, porém, trata-se apenas uma questão de tempo --as
geleiras estão derretendo como nunca antes, diz.
Ele já achou fotografias e roupas de crianças. "Os corpos e a caixa preta ainda estão em outro lugar no gelo", diz ele, ansioso.
Gerald Holdsworth, glaciologista no Instituto Ártico da América do
Norte, na cidade de Calgary (Canadá), também está, se é que se pode usar
a palavra, otimista.
"Ainda há grandes bancos de neve em locais promissores e muitas geleiras
dos mais diferentes formatos, tamanhos e orientações. Por isso, as
descobertas podem continuar acontecendo por um longo tempo."
Com o "The New York Times"
FONTE: Folha.com/Ciência
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