25/04/2011
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08h03
Em nome da flora nativa, reservas se rendem a agrotóxico
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NATÁLIA CANCIAN
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Ameaçadas por pragas, reservas ecológicas no país estão fazendo testes
com agrotóxicos com o objetivo de garantir a sobrevivência de espécies
nativas.
A ideia é combater plantas exóticas e invasoras, como a braquiária, um
tipo de capim usado em áreas de criação de gado que ameaça o crescimento
de outros vegetais.
O estudo mais recente ocorre no Parque Nacional das Emas, em Goiás. A
unidade, com área equivalente a 132 mil campos de futebol, registra a
presença de cinco espécies de plantas invasoras.
"É uma situação grave, já que as espécies exóticas ameaçam a diversidade", afirma o diretor do parque, Marcos Cunha.
As primeiras aplicações de glifosato, ainda em nível experimental,
começaram neste mês, depois de tentativas com várias outras técnicas,
sem sucesso.
O contato com o produto, porém, ainda está restrito ao entorno do
parque. "Estamos analisando os resultados para depois utilizar no
interior, se necessário", afirma.
André Perazzo/Folhapress | ||
Vista do Parque Nacional de Aparados da Serra, que fica na divisa do Rio Grande do Sul e Santa Catarina |
AUTORIZAÇÃO
A iniciativa, ainda tímida no Brasil, já é aplicada em outros países.
A Monsanto, uma das maiores fabricantes mundiais de herbicida, doa
glifosato desde 2005 à reserva ecológica de Galápagos, arquipélago
equatoriano onde Charles Darwin (1809-1882) fez parte de seus estudos.
No Brasil, outras unidades federais de conservação que fazem pesquisas
semelhantes são a Floresta Nacional de Bom Futuro, em Rondônia, e os
parques Aparados da Serra e da Serra Geral, na divisa de Santa Catarina e
Rio Grande do Sul.
"Simplesmente cortar [o capim] não resolve", diz o chefe do parque de
Aparados da Serra, Deonir Zimmerman, que luta contra a braquiária há 12
anos.
Reservas estaduais do Paraná, Santa Catarina e Espírito Santo também
possuem estudos avançados com herbicidas para o combate de espécies
exóticas, segundo a ONG Instituto Hórus, que participa de projetos
nesses locais.
Uma portaria do Ibama de maio de 2010 autoriza pesquisas com até três
tipos de agrotóxicos em florestas nativas, desde que estejam em situação
de emergência --e com possibilidade de cancelar a autorização em caso
de contaminação.
Em muitas unidades nacionais, no entanto, segundo o ICMBio (Instituto
Chico Mendes), o plano de manejo sequer considera o uso desses
herbicidas.
Silvia Ziller, do Instituto Hórus, afirma que os produtos são uma
alternativa mais barata, eficiente e com menor impacto ambiental do que
deixar espécies como a braquiária se propagarem.
O maior problema, segundo ela, é o risco de incêndio agravado pelo
capim. "Se antes o cerrado pegava fogo a cada cinco anos, agora isso
acontece em todos eles", diz.
DIVISÃO
A ideia de mudar aplicar agrotóxicos em parques do país ainda provoca desconfiança entre ambientalistas e pesquisadores.
Os próprios diretores das reservas reconhecem que o produto pode sim afetar as espécies nativas.
Em 2007, uma pesquisa da USP mostrou que um agrotóxico aplicado nas
cerca de 40 lavouras do entorno do Parque das Emas contaminava aves
ameaçadas de extinção.
Uma liminar chegou a suspender em 2008 o uso de alguns agrotóxicos em
uma faixa de até 2 km ao redor do parque. A decisão, no entanto,
referia-se aos tipos mais tóxicos dos produtos, como inseticidas, e foi
suspensa meses depois.
O pesquisador Sady Valdes, responsável pelo estudo na época, diz que a
aplicação de herbicidas pode até "mudar a paisagem do cerrado".
Para a engenheira agrônoma Ana Maria Junqueira, que estuda métodos
alternativos aos agrotóxicos, produtos como herbicidas trazem riscos de
contaminação também ao ser humano.
Segundo ela, uma alternativa pode ser a aplicação tópica, em que o
produto é usado apenas no local onde há a ameaça. Mesmo assim, ela diz
que os órgãos ambientais precisam ficar atentos para, a partir disso,
não perder o controle sobre o uso desses produtos.
FONTE: Folha.com/Ambiente
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