segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

FÓSSIL DE NEANDERTAL INDICA MISCIGENAÇÃO ENTRE HUMANOS PROMITIVOS ( Evolução Humana )

Evolução humana


O sequenciamento mais completo do genoma de hominídeo de 50.000 anos permitiu a comparação

Exposição em museu croata mostra reprodução de uma família de neandertais
Exposição em museu croata mostra reprodução de uma família de neandertais (Nikola Solic/Reuters)
O minúsculo osso de um dedo do pé de uma mulher neandertal que viveu há cerca de 50.000 anos revela que houve miscigenação entre algumas linhagens humanas primitivas. A partir deste fóssil, pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, obtiveram o mais completo genoma de um neandertal já sequenciado. Os resultados foram publicados nesta quarta-feira, na revista Nature.
CONHEÇA A PESQUISA


Onde foi divulgada: periódico Nature

Quem fez: Kay Prüfer, Fernando Racimo, Nick Patterson, Flora Jay, Sriram Sankararaman, Ed S. Lein, David Reich, Janet Kelso, Svante Pääbo e outros

Instituição: Universidade da Califórnia, EUA

Resultado: Os pesquisadores compararam o genoma dos neandertais com outros grupos humanos e descobriram que existia miscigenação entre eles
Os autores compararam o genoma encontrado com o de dois outros grupos, os humanos modernos e os denisovanos – um subgrupo misterioso, que teve vestígios descobertos na Sibéria. Embora tenham desaparecido, neandertais e denisovanos deixaram sua herança genética porque ocasionalmente se miscigenaram com humanos modernos. Os pesquisadores descobriram que entre 1,5 e 2,1% do genoma do homem moderno não africano está ligado aos neandertais.
Já vestígios denisovanos foram encontrados em 0,2% de genomas da etnia Han, majoritária na China, e de americanos nativos. Segundo as comparações, os denisovanos se miscigenaram com humanos primitivos, que os pesquisadores suspeitam se tratar do Homo erectus.

Diferenças – Os cientistas identificaram 87 genes presentes nos humanos modernos que são muito diferentes daqueles encontrados nos neandertais ou denisovanos. Eles podem ser os responsáveis pelas diferenças comportamentais que diferenciaram o homem das demais espécies extintas.
"Não há um gene que possamos apontar e dizer: 'este responde pela linguagem ou alguma outra característica única dos humanos modernos'. Mas, a partir desta lista, aprenderemos algo sobre as mudanças que aconteceram na linhagem humana, embora elas provavelmente sejam sutis", afirma Montgomery Slatkin, professor de biologia integrativa da Universidade da Califórnia.
Homens das cavernas – Os ossos foram encontrados em uma caverna nas montanhas Altai, no sul da Sibéria. Em 2008, pesquisadores localizaram no mesmo lugar o osso de um dedo mindinho de uma mulher denisovana em solo de 40.000 anos. A caverna também contém artefatos feitos pelos humanos modernos, o que significa que pelo menos três grupos de humanos primitivos ocuparam o local em diferentes épocas.


(Com Agência France-Presse)

FONTE: Revista Veja/Ciência

domingo, 22 de dezembro de 2013

OITO PERGUNTAS SOBRE O JESUS HISTÓRICO ( Religião )

Os autores dos Evangelhos conheceram Jesus?

A maior parte dos historiadores concorda que nenhum dos evangelistas foi testemunha ocular da vida de Jesus. Os Evangelhos, na verdade, faziam parte de uma grande variedade de textos que circulavam nos primeiros séculos depois de Cristo e representavam o que algumas das comunidades cristãs pensavam (os Evangelhos que foram deixados de lado pela tradição católica se tornaram conhecidos como apócrifos).
 
Os textos têm autoria anônima, e os pesquisadores possuem poucas informações sobre sua exata origem geográfica. O que se sabe é que eles foram criados a partir de relatos, memórias, tradições e textos mais antigos, que circulavam entre as primeiras comunidades cristãs. Eles teriam sido escritos entre o ano 60 e o 120, e só no século II é que seus autores foram atribuídos — o primeiro Evangelho a Marcos, e o último a João.

Com o passar dos séculos — e com a ortodoxia cristã tendo relações cada vez mais próximas ao Império Romano — surgiu a preocupação de delimitar exatamente quais os textos que guardavam a memória verdadeira sobre Jesus. Por volta do século IV, depois de sérias disputas teológicas, a Igreja finalmente escolheu quais haviam sido inspirados por Deus — criando o cânone do Novo Testamento. "Decidiu-se assim quais textos seria destruídos e quais preservados, e quais tradições cristãs seriam perseguidas e quais aceitas pela Igreja", diz André Chevitarese, professor do Instituto de História da UFRJ e autor dos livros "Jesus Histórico - Uma Brevíssima Introdução" e "Cristianismos: Questões e Debates Metodológicos" (Editora Kline), em entrevista ao site de VEJA.

Dentre os textos do Novo Testamento, aqueles que os historiadores atribuem, de fato, a alguém que conviveu com Jesus são as encíclicas escritas por Paulo — pelo menos sete delas teriam sido ditadas pelo apóstolo. "Na forma como o Novo Testamento está organizado, os quatro Evangelhos aparecem antes dos textos de Paulo. No entanto, as encíclicas foram escritas primeiro. O pesquisador tem de começar a ler por elas — assim fica mais fácil entender a evolução das primeiras comunidades cristãs."

Como era a família de Jesus?

A família de Jesus é citada em diversos pontos das escrituras, de Maria e José até seus irmãos e primos. No Evangelho de Marcos, o primeiro a ser escrito, seus parentes são mostrados de forma bastante distanciada. Em certo momento, eles tratam Jesus como maníaco, afirmando que suas atividades como pregador só poderiam ser fruto da loucura. Jesus se afasta, e passa a defender uma nova percepção de família, formada por aqueles que estão juntos dele, fazendo a vontade de Deus.

Nos outros Evangelhos, no entanto, a família é mostrada como sendo muito mais próxima do movimento de Jesus — com destaque especial para a figura de Maria, presente em momentos-chave da história. Em Atos dos Apóstolos, o livro bíblico que narra o que acontece com os discípulos após a ressurreição, a família recebe ainda mais destaque: os parentes de Cristo estão entre os principais pregadores da nova religião cristã que passa a ser construída. Dessa vez, o destaque fica para Tiago, irmão de Jesus e um dos principais líderes do cristianismo primitivo.

"Do primeiro texto, em que a família vê Jesus como um louco, ao último, onde são eles que levam adiante o cristianismo, parece haver uma contradição — mas não necessariamente. Pode ser que, com o passar do tempo, a família tenha se reaproximado de Jesus, e tomado seu lugar na Igreja", diz André Chevitarese.

A citação bíblica aos irmãos de Jesus é alvo de grandes discussões entre acadêmicos e teólogos, pois pode afrontar uma das principais crenças da igreja católica: a da virgindade de Maria. Ao longo dos séculos, os teólogos católicos esboçaram possíveis explicações para isso. Uma delas diz que eles seriam, na verdade, meios-irmãos de Jesus, filhos de um primeiro casamento de José. Outra explicação afirma que o termo grego utilizado no texto bíblico original pode significar tanto primo quanto irmão, e teria havido uma confusão nas traduções.
 
Essa segunda interpretação também pode estar correta. "A noção de família que se apresenta no contexto do século I mediterrâneo é muito diferente da atual. Ela é uma família extensiva, onde todos os parentes orbitam em torno de uma figura masculina mais velha. Nesse ambiente, o primo pode, sim, ser um irmão."

João Batista existiu?

Assim como Jesus, João Batista é um personagem histórico. Segundo diversas fontes da época, ele era um importante pregador judeu que viveu na Galileia durante o século I. O tipo de movimento messiânico comandado por João e Jesus era bastante comum na época. Esmagados pelo Império Romano, os camponeses judeus eram levados a esperar pela intervenção de um salvador que fosse mudar os rumos da história. O historiador judeu Flávio Josefo cita dezenas de candidatos a messias em seus textos.

Segundo as fontes históricas, o movimento liderado por João Batista chegou a ser, por certo tempo, mais importante que o de Jesus. "O número de páginas que Josefo dedica a Batista é muito maior do que o dedicado a Jesus. O historiador narra como Herodes reconhece sua força e manda matá-lo. Isso mostra que era Batista quem realmente desafiava Roma em sua época", diz André Chevitarese.

Na verdade, segundo os historiadores, Jesus pode ter sido um discípulo de João Batista — teria sido com ele que aprendeu a batizar, exorcizar e a desafiar as autoridades romanas. Acontece que, em algum momento, discípulo e mestre romperam. "As ideias dos dois eram muito diferentes. Enquanto João acreditava em preparar o caminho para um personagem divino intervir na história, Jesus dizia que essa personagem já veio, e era ele mesmo", diz o pesquisador.

Os próprios Evangelhos podem servir para mostrar o quanto João Batista era importante em seu tempo histórico. Segundo os pesquisadores, a necessidade que os evangelistas demonstram ter de citá-lo em seus textos se deve ao fato de sua memória ainda continuar forte no século I. Assim, os autores precisam mostrar que esse personagem, que até então permanecia independente do cristianismo, poderia ser amarrado à sua própria teologia. "Os cristãos tiveram a necessidade de mostrar que João Batista enxergou em Jesus o Messias. Assim, eles conseguiram demonstrar ainda mais o valor de Jesus."

Jesus sabia ler?

Jesus demonstra saber ler em dois momentos da Bíblia. O primeiro deles acontece no Evangelho de Lucas, quando ele entra em uma sinagoga na cidade de Nazaré e começa a ler textos escritos pelo profeta Isaías. O segundo é mostrado no Evangelho de João, onde Jesus aparece escrevendo. Logo depois de intervir no apedrejamento de uma mulher — usando o conhecido desafio de "quem nunca tiver pecado que atire a primeira pedra" — ele se abaixa e começa a escrever no chão.

O problema é que ambos os trechos apresentam problemas. Não existe nenhum indício de sinagoga em Nazaré e, mais importante, o verbo grego para ler é o mesmo para memorizar — Jesus poderia simplesmente ter decorado a passagem de Isaías. Ao mesmo tempo, o trecho tirado do Evangelho de João (capitulo 8, versículo 8) é bastante discutido entre os pesquisadores. Muitos deles vêm a passagem como uma alteração tardia feita à Bíblia, adicionada já no século V.

A verdade é que as estimativas dos historiadores mostram que entre 95% e 98% da população que vivia naquela região do mediterrâneo era analfabeta. Seria natural que Jesus, um camponês pobre que nasceu e nunca saiu daquele ambiente, estivesse dentro dessa estatística.

"Na verdade, o maior incômodo com o fato de Jesus ser analfabeto vem do mundo contemporâneo. Hoje, se assume que uma liderança — politica, religiosa ou econômica — precisa ter feito até faculdade, quanto mais saber ler. Mas essa não era uma demanda dos discípulos."

Qual era a religião de Jesus?

"Jesus nasceu judeu, viveu judeu, e morreu judeu", responde André Cheviterese. Foi só nos séculos seguintes à sua morte que a Igreja começou a se distanciar do judaísmo e a se aproximar do Império Romano. Nesse processo, a teologia cristã vai se tornando cada vez mais arredia aos judeus, resvalando até no antissemitismo — o que transparece nos Evangelhos, principalmente no de João.

"Acho que a base para se entender isso está na tensão que é criada entre a comunidade cristã joanina [que se pretendia seguidora do apóstolo João] e a religião judaica. A partir da década de 80 do século I, seu proselitismo se torna tão agressivo que eles são expulsos das sinagogas. A partir daí, se tornam muitos hostis", diz o pesquisador.

Assim, no Evangelho de João (capítulo 8, versículo 44), Jesus se refere aos judeus como Filhos do Diabo, adoradores de um Deus homicida e mentiroso. Do mesmo modo, a narração deixa de mostrar Jesus sendo morto de forma sumária pelos romanos. Segundo os textos, ele é assassinado a pedido dos judeus — Pôncio Pilatos até lava as mãos.
 
"Essas passagens não deixaram de ser repercutidas desde então, e foram usadas, inclusive, para perseguir os judeus. Por sorte, a Igreja se desviou dessa visão nas últimas décadas", afirma o historiador.

Jesus seria casado com Maria Madalena?

Maria Madalena é uma das figuras mais importantes e disputadas de todo o cristianismo. Ela costuma ser usada como a prova de que Jesus teria apóstolos e apóstolas — o que contraria a doutrina religiosa de só permitir padres do sexo masculino. Mais que isso, ela é uma personagem central dos Evangelhos, pois é a primeira a visitar o sepulcro de Jesus e perceber que seu corpo não estava lá — e a primeira a reconhecer o Cristo ressuscitado.

Do século I ao IV, houve uma grande disputa dentro do cristianismo para decidir se mulheres poderiam ou não assumir funções de proeminência nos ritos religiosos. "No ano 591, o papa Gregório Magno proferiu uma homilia onde juntava duas personagens diferentes citadas no Evangelho de Lucas. Ele afirma que uma mulher vista como pecadora (uma prostituta) e Maria Madalena eram a mesma pessoa. Desse modo, sugere que as mulheres são demoníacas", afirma Chevitarese. 

No século XIX, a Igreja finalmente voltou atrás: Maria Madalena deixa de ser prostituta e é promovida a santa. Mesmo assim, sua imagem como pecadora continua entranhada no imaginário cristão.
 
Quanto às teorias que defendem seu casamento com Jesus, elas têm origem em uma passagem do Evangelho de Felipe, um dos livros apócrifos, onde os dois personagens aparecem se beijando. "Analisando esse trecho com os olhos de hoje, alguns pesquisadores enxergaram um elemento erótico na cena. Mas no mesmo evangelho Jesus beija seus apóstolos homens. Isso não tinha nada de anormal. Usar isso para afirmar que Jesus tinha um caso com Maria Madalena passa longe de fazer história."

Jesus foi traído por Judas?

Os pesquisadores costumam concordar que Jesus foi traído e entregue por um de seus discípulos para o exército romano. Mas o traidor é desconhecido. A figura de Judas — desde seu nome até seus trejeitos — parece ter sido criada sob medida para objetivos teológicos.

"Ele é fruto de uma teologia evidentemente antijudaica. Seu nome remete a Judá, a Judeia. Suas características também vêm das caricaturas que se fazem dos judeus: ele ama o dinheiro, é traidor e ladrão. Do século 2 em diante, isso vai, de novo, ser usado como ferramenta antissemita. Quando pensado em seus efeitos de longo prazo, isso é muito cruel. É só lembrar da malhação de Judas, por exemplo", diz Chevitarese.

As próprias narrativas da morte de Judas servem como exemplo de que o personagem é mais fruto da teologia do que de história. No Evangelho de Mateus, ele se enforca. No Ato dos Apóstolos, ele tropeça, rasga a barriga e morre. E nos textos de Papias, um autor cristão contemporâneo ao Evangelho de João, ele come até explodir.

Jesus foi crucificado?

A crucificação é, sim, um fato histórico. Já o contexto que a cerca, como o julgamento de Jesus e a via-crúcis, não é.
 
Ser pregado em uma cruz era a penalidade aplicada pelos romanos aos escravos que matavam seus senhores, aos escravos que se rebelavam e aos rebeldes políticos — categoria onde Jesus poderia ser facilmente incluído. O historiador Flávio Josefo, por exemplo, cita uma cena onde milhares de judeus foram crucificados após uma rebelião em Jerusalém.

Quanto à Via Crúcis e ao julgamento, eles dificilmente seriam realizados pelo governo romano naquelas circunstâncias. Jesus foi preso em Jerusalém, na sexta-feira que antecede a Páscoa. Acontece que nessa época do ano a cidade estava lotada de judeus de todos os cantos, desde o Mediterrâneo até o Oriente Médio, vindos para as festividades. Além disso, a Páscoa judaica não é uma festa apenas religiosa, mas também política — ela celebra a passagem dos hebreus da escravidão para a liberdade. 
 
"Nesse ambiente explosivo, é claro que as autoridades romanas não iam prender uma liderança judaica, fazer um julgamento público e colocá-lo para desfilar de forma humilhante pela cidade, arrastando uma cruz. Isso seria uma provocação desnecessária, um tiro no pé", diz Chevitarese.

Pôncio Pilatos é um personagem histórico. Os pesquisadores sabem, a partir de escavações arqueológicas da década de 1960, que ele realmente foi um procurador romano radicado na região da Judeia. Mas não existe nenhum registro dos ritos seguidos pelo personagem na Bíblia. As autoridades romanas, por exemplo, nunca se ofereceram para soltar um prisioneiro judeu, a gosto do público. "Essas passagens foram colocadas para reforçar o caráter messiânico de Jesus. Elas são baseadas em profecias do Antigo Testamento, mas sua plausibilidade histórica é zero."

FONTE: Revista Veja/Ciência

sábado, 21 de dezembro de 2013

O QUE A HISTÓRIA TEM A DIZER SOBRE JESUS ( Artigo Científico/Religião )

O que a história tem a dizer sobre Jesus

Pesquisas de historiadores ajudam a confirmar que, de fato, Jesus caminhou sobre a região da Galileia há 2.000 anos. As descobertas, no entanto, não devem satisfazer aqueles que levam a Bíblia ao pé da letra

Guilherme Rosa
Jesus Cristo

Religião

Ao longo dos séculos, Jesus foi interpretado de maneiras diversas por religiosos, artistas e governantes. O trabalho dos historiadores é deixar toda essa carga teológica para trás e encontrar o homem e a mensagem que deu origem a tudo(Reprodução)
O pesquisador americano Joseph Atwill é categórico: Jesus não passa de um mito. O personagem, suas palavras e ações fazem parte de uma elaborada narrativa inventada por aristocratas romanos, com o objetivo de pacificar os judeus — um povo envolvido em sucessivas rebeliões contra o império. Atwill apresentou suas ideias em outubro, numa conferência realizada em Londres, na Inglaterra. "Os romanos perceberam que o melhor caminho para acabar com a atividade missionária fervorosa entre os judeus era criar um sistema de crenças que competisse com o deles", afirmou.
Joseph Atwill não é um acadêmico da área — sua formação é em ciências da computação. Ele não publicou suas pesquisas em periódicos científicos e suas ideias estão longe de ser apoiadas por seus pares. No entanto, sua teoria recebeu atenção mundial, e foi debatida entre pesquisadores, jornalistas e religiosos. Seu poder está no fato de ela ser o capítulo mais novo de uma antiga discussão — com quase 2.000 anos de idade — sobre qual é a verdade por trás de Jesus, seus feitos, milagres e mensagem.

Para Atwill, a ideia de que Jesus não passaria de uma montagem histórica deveria funcionar como um duro golpe aplicado pela ciência contra a ignorância propagada pela religião. "Embora o cristianismo possa ser um conforto para alguns, ele também pode ser muito prejudicial e repressivo, uma forma insidiosa de controle mental que levou à aceitação cega da servidão, pobreza e guerra ao longo da história", diz. Seu erro é que a existência de Jesus não é mais uma questão de fé, mas de ciência.

Os acadêmicos da área — historiadores das mais prestigiadas universidades do mundo — afirmam restar poucas dúvidas sobre a questão. "Volta e meia aparecem essas hipóteses sobre Jesus ser um mito. Mas, do ponto de vista metodológico, parece bastante claro que ele realmente existiu", diz André Chevitarese, professor do Instituto de História da UFRJ e autor dos livros Jesus Histórico - Uma Brevíssima Introdução e Cristianismos: Questões e Debates Metodológicos (Editora Kline), em entrevista ao site de VEJA.

Jesus histórico — Os historiadores deixam claro que o personagem estudado por eles não é o mesmo da religião. Eles estão em busca de informações sobre o homem chamado Jesus, que viveu na Galileia há 2.000 anos e em torno do qual foi criada a maior religião do mundo. “Os historiadores não buscam um ser divino, que é impossível de quantificar, medir e avaliar. O Jesus da história é estritamente humano“, afirma Chevitarese.

Nessa busca pelo Jesus histórico, a perspectiva dos pesquisadores lembra a de São Tomé, o apóstolo que duvidou de Cristo e exigiu provas de sua ressurreição. Do mesmo modo, os historiadores não podem acreditar cegamente no que dizem as religiões e seus líderes, mas devem embasar tudo que afirmam em evidências. Essas provas não precisam ser, necessariamente, físicas, como a descoberta de uma ossada ou um túmulo. "Se esse critério fosse adotado, 95% dos personagens históricos não seriam reconhecidos", diz o pesquisador.

Hoje, o critério mais importante que os pesquisadores possuem para atestar a existência de Jesus é o da múltipla confirmação: autores diferentes, que nunca se conheceram, afirmam fatos semelhantes sobre o personagem.

Os textos mais antigos sobre Jesus datam do século I, em sua maioria escritos por seguidores do cristianismo. A exceção é Flávio Josefo, um historiador judeu que tentou escrever toda a história do povo judaico, desde o Gênesis até sua época. Ele cita Jesus, João Batista e Tiago (irmão de Jesus) como exemplos de homens que lideraram movimentos messiânicos na região da Galileia.

No século seguinte, surgem mais textos de historiadores que citam Jesus e, principalmente, o movimento iniciado por seus seguidores. "Esses dados servem para mostrar que não estamos no campo da mitologia. São autores judeus e romanos, que nunca se tornaram cristãos, e permitem afirmar de modo muito seguro que Jesus é um personagem histórico."

O homem — A esses textos se somam descobertas recentes da arqueologia que fornecem informações precisas sobre o tempo e o espaço em que Jesus viveu. Os dados não são abundantes, mas permitem esboçar como se pareceria esse personagem histórico real. "Não podemos afirmar exatamente a cor de pele e cabelo de Jesus. A partir dos mosaicos e dos afrescos que retratam outros romanos, judeus e sírios que viviam no mesmo ambiente, a tendência maior é de vermos um Jesus de cabelos preto, com a pele queimada por causa de sol", diz Chevitarese.

Segundo a maior parte dos historiadores, Jesus não nasceu em Belém, como afirmam algumas passagens bíblicas, mas em Nazaré — uma pequena aldeia montanhosa da Galileia, cuja população era camponesa e girava em torno de 500 indivíduos. "A aldeia não tinha nenhuma relevância política, não possuía construções públicas ou sinagogas. Os escritores dos Evangelhos mudaram o lugar por razões teológicas, para que o nascimento de Cristo confirmasse algumas profecias do Antigo Testamento."

Jesus teria nascido na pequena vila em torno do ano 4 A.C., e teria passado a maior parte de sua vida na região, sem nunca pisar em uma cidade grande. A exceção acontece quando ele entra em Jerusalém — ato que teria como consequência sua crucificação pelas autoridades romanas. Sua morte deve ter acontecido por volta dos anos 35 e 36 D.C., pouco tempo depois de João Batista também ter sido morto pelos romanos, segundo a narrativa de Flávio Josefo.

A mensagem — Segundo os historiadores, tão importante quanto quem era Jesus é o que ele dizia — foi sua mensagem poderosa que repercutiu em todo o mundo e, séculos mais tarde, deu origem às diversas vertentes religiosas. "Ele era um camponês pobre que, diante das injustiças que o mundo apresentava, defendia a instauração do Reino de Deus — um reino de justiça e fartura, sem hierarquias sociais", diz Chevitarese.

A mensagem espiritual — e messiânica— de Jesus era voltada especialmente aos judeus de seu tempo. Ela, no entanto, adquiria caráter político ao afrontar o Império Romano e setores da elite judaica. Foi justamente a força dessa mensagem, e os rebanhos que ela poderia angariar, que levaram à sua crucificação e morte. Como aconteceu muitas vezes na história, no entanto, o assassinato de Jesus não conseguiu matar suas ideias.

Jesus teológico — Jesus nunca chegou a colocar suas ideias no papel (nem poderia, os historiadores afirmam que ele era analfabeto). A maior parte do que chega aos dias de hoje sobre o personagem e suas ideias foi escrito por seguidores das primeiras comunidades cristãs, duas ou três gerações depois de sua morte. Os autores não estão preocupados em transmitir uma versão fiel dos fatos, como uma biografia, mas em defender os pressupostos de sua fé. Assim, os primeiros cristãos que escrevem sobre Jesus — os evangelistas — já não estão fazendo história, mas teologia. 

Nessa época o cristianismo começava a se distanciar do judaísmo em que ele estava originalmente inserido, e a se aproximar do Império Romano — o que exigiu algumas mudanças em sua mensagem. "Ao serem escritas, suas ideias começam a ser diluídas, pois vários filtros são impostos. Primeiro, Jesus é um indivíduo de fala aramaica, mas quase tudo que conhecemos sobre ele está escrito em grego. Além disso, os textos são destinados a convencer um público urbano, muito diferente dos camponeses para quem Jesus pregava", diz Chevitarese.

Com o passar dos séculos, isso abriu margem para que vários teólogos interpretassem as escrituras de maneiras variadas, criando as inúmeras vertentes do cristianismo que se encontram nos dias de hoje. Assim, a depender de quem faz a homilia, Jesus pode ser visto como um personagem sagrado ou humano, santo ou falho, foco de paz ou de guerra, de fundamentalismo ou de liberdade.

É por isso que o estudo do Jesus histórico é importante. "Ele pode ajudar a colocar um freio naqueles que querem transformar pressupostos teológicos em verdades históricas", diz Chevitarese. Seu objetivo não é acabar com a teologia ou retirar da história de Jesus seu caráter espiritual. O que a ciência faz é descobrir o que, de fato, pode ser afirmado sobre o homem e sua época. As muitas lacunas que permanecerão abertas apresentam mistérios suficientes para que a religião possa se instalar. 

FONTE: Revista Veja/Ciência

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

METEOROLOGISTAS APONTAM CENÁRIO FAVORÁVEL À ESTAÇÃO CHUVOSA NO SEMI-ÁRIDO NORDESTINO ( Meteorologia )

A previsão para a estação chuvosa no semiárido do Nordeste em2014 tem indicativo favorável. O consenso é preliminar, mas já é visto com boa expectativa pelos técnicos. Os meteorologistas dos principais centros de pesquisa do país se reuniram ontem em Campina Grande para  discutir os dados meteorológicos para o primeiro trimestre do próximo ano. Este é o primeiro de vários encontros para avaliar e discutir o cenário. 
Sidney Silva
Em Caicó, o volume de água do Itans equivale a menos de 13% da sua capacidade. É um dos reservatórios em pior situação no RNEm Caicó, o volume de água do Itans equivale a menos de 13% da sua capacidade. É um dos reservatórios em pior situação no RN

Segundo o meteorologista da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), Gilmar Bristot, ainda há muitas dúvidas, mas já é possível observar que os próximos três meses terão condições próximas à normalidade. Só haverá uma reposta exata quando forem fechados e analisados os dados de referência de dezembro. 

“Observo que 2014 será diferente de 2012 e 2013. A situação será melhor. O grupo de pesquisadores ficou bastante animado com relação à temperatura dos oceanos, bem melhor do que em 2012 e 2013. O vento do sudeste está mais fraco e é fator fundamental para boas chuvas”, analisa Gilmar Bristot.

Na reunião, alguns pontos foram debatidos, como a temperatura dos oceanos pacífico e atlântico, que está melhor do que no ano passado. Segundo ele, o quadro atual indica um cenário otimista, mas ainda não dá para saber se será um ano de chuvas.

O meteorologista acredita na necessidade do Governo do Estado de prorrogar o estado de emergência. “Se puder, a prorrogação deve ser feita, porque as chuvas não vão resolver o problema da falta de água e alimentação para o gado de uma hora para outra. Não é indicado parar a situação de emergência”, comenta. As próximas reuniões estão previstas para janeiro, em Fortaleza e fevereiro, em Natal. 

CHUVAS

Foram registradas ocorrências de chuvas em várias regiões do RN, nas últimas 24 horas. A Emparn atribui as chuvas ao Vórtice Ciclônico de Ar Superior (VCAS), que está atuando no oceano Atlântico. De acordo com os meteorologistas, esse fenômeno  pode atuar de dois a três dias. As maiores precipitações foram registradas em Pau dos Ferros (35 mm), Tenente Ananias (30 mm), Coronel João Pessoa e Venha Ver (25 mm),  Serra Negra do Norte (28 mm), São Miguel (20,8 mm) e Luís Gomes (20 mm). 

Blogs da região Seridó relatavam ontem que as chuvas das últimas 24 horas já proporcionavam cenas há muito não vistas. Em Parelhas, o Rio Seridó colocou uma pequena cheia, na altura do Sítio Tapera. No Sítio Algodão, a chuva chegou a 50 mm.  

Com a estiagem dos dois últimos anos, os 23  principais reservatórios do Estado acumulam,  juntos,87,7  milhões de metros cúbicos de água, de acordo com dados da Semarh. Esse volume equivale a totalidade e mais um pouco da capacidade do Boqueirão de Parelhas, em época de cheia. Segundo a Companhia de Águas e Esgotos do RN (Caern)  14 cidades  estão com colapso no abastecimento de água.  

Ontem, a Caern informou que a  Regional Mossoró está em estado de atenção por causa da diminuição da oferta de água em um trecho da adutora Arnóbio Abreu. A escassez de água causou baixa no reservatório, afetando também a qualidade. O trecho atende Paraú, Triunfo Potiguar, Campo Grande, Janduís, Messias Targino, Patu e algumas comunidades rurais.  

*Os valores foram medidos entre os meses de novembro e dezembro de 2013.*Os valores foram medidos entre os meses de novembro e dezembro de 2013.

FONTE: Tribuna do Norte

EMPARN PREVÊ CHUVAS ATÉ O DIA 25 EM TODO O ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE ( Meteorologia )

O serviço de meteorologia da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn) prevê a continuidade das chuvas em todas as regiões do estado até o dia 25, inclusive em Natal, devido à influência de um vórtice ciclônico de ar superior que está atuando no Oceano Atlântico.

Permanece chovendo nesta sexta-feira em alguns municípios do semiárido potiguar. A Emparn registrou chuvas em 37 municípios entre a manhã de ontem e as 7h desta sexta-feira (20). Boa parte dos municípios com incidência de chuvas está na região Oeste potiguar, onde também ocorreram as maiores precipitações.

Luiz Sena
O açude Boqueirão, no município de Parelhas, teve um aumento de 30 cm com as chuvasO açude Boqueirão, no município de Parelhas, teve um aumento de 30 cm com as chuvas

As maiores chuvas registradas foram em São Francisco do Oeste (136mm), Frutuoso Gomes (110mm), Serrinha dos Pintos (85mm) e Portalegre (72,5mm), todos na mesorregião Oeste. Na região Central, os maiores registros foram em Florânia e em Fernando Pedroza, onde choveu 69mm e 68 mm respectivamente.

As chuvas das últimas horas não têm relação com a estação chuvosa para o semiárido, de acordo com o serviço de meteorologia da Emparn. Em reunião dos meteorologistas realizada ontem (19) em Capina Grande, na Paraíba, os especialistas fizeram a primeira discussão conjunta dos dados disponíveis, de uma série de outras reuniões até o primeiro bimestre de 2014, e antecipam que há indicadores favoráveis à uma boa estação chuvosa no semiárido nordestino em 2014.

O consenso é preliminar, mas já é visto com boa expectativa pelos técnicos. O chefe do serviço de meteorologia da Emparn, Gilmar Bristot, afirma que ainda há muitas dúvidas, mas já é possível observar que os próximos três meses terão condições próximas à normalidade.

Bristot pondera que só haverá uma reposta exata quando forem fechados e analisados os dados de referência de dezembro. “Observo que 2014 será diferente de 2012 e 2013. A situação será melhor. O grupo de pesquisadores ficou bastante animado com relação à temperatura dos oceanos, bem melhor do que em 2012 e 2013. O vento do sudeste está mais fraco e é fator fundamental para boas chuvas”, analisou Gilmar Bristot, em entrevista nessa quinta-feira.

Mesmo diante das boas expectativas, o serviço de meteorologia avalia como necessária mais uma prorrogação no estado de emergência em função da seca, por parte do Governo do Estado.

“Se puder, a prorrogação deve ser feita, porque as chuvas não vão resolver o problema da falta de água e alimentação para o gado de uma hora para outra. Não é indicado parar a situação de emergência”, enfatiza o meteorologista. Especialmente porque o quadro atual indica um cenário otimista, mas ainda não dá para saber se será um ano de chuvas. As próximas reuniões estão previstas para janeiro, em Fortaleza e fevereiro, em Natal.

MESORREGIÃO OESTE POTIGUAR (chuva em milímetros):

São Francisco Do Oeste - 136
Frutuoso Gomes - 110
Serrinha Dos Pintos - 85
Portalegre - 72,5
Lucrécia - 68,7
Martins - 68
Assu - 66
Felipe Guerra - 58
Viçosa - 45
Riacho De Santana - 44
Francisco Dantas - 38
Pilões - 35
Tenente Ananias - 35
Água Nova - 32,5
Tabuleiro Grande - 32
Pau Dos Ferros - 30
Alexandria - 25
Luis Gomes - 24
Upanema - 22,3
Itau - 18
Janduis - 13,4
Ipanguaçu I - 13
Ipanguaçu II - 12,5
Umarizal - 12
Campo Grande - 11,3
Severiano Melo - 10
Gov. Dix-sept Rosado - 4
Dr. Severiano - 3

MESORREGIÃO CENTRAL POTIGUAR
Florânia (Inemet) - 69
Fernando Pedroza (Emater) - 68,0
Angicos (Prefeitura) - 42,0
Santana Do Matos (Emater) - 28,0
Caicó (Emater) - 23,0
Caicó (Açude Mundo Novo-Emparn) - 20,0
Caicó (Açude Itans) - 20,0
São José Do Seridó (Associação Usuários Água) - 20,0
Santana Do Seridó (Emater) - 14,5
São José Do Seridó (Fz Caatinga Grande) - 11,7
Florânia (Sitio Jucuri) - 11,0
Parelhas (Emater) - 10,2
Acari (Particular) - 10,0
Caiçara Do Rio Dos Ventos (Particular) - 1,8


FONTE: Tribuna do Norte

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

POSSÍVEIS RESTOS DE FOGUETE QUE LEVOU SONDA LUNAR CAEEM SOBRE CASA NA CHINA ( Notícias/Mundo )

03/12/2013 - 16h48
DA EFE

O jornal "Xiaoxing Morning Post" publicou nesta terça-feira que restos da sonda lunar chinesa Chang E 3, que decolou ontem com a missão de ser a primeira do país a aterrissar na superfície do satélite e explorá-lo, caíram em duas casas da província central de Hunan, sem deixar feridos.
O incidente aconteceu cerca de nove minutos depois do lançamento da sonda, que aconteceu à 1h30 local da segunda-feira (15h de domingo em Brasília), quando várias peças caíram sobre duas casas do condado de Suining, nessa província, a mais de mil quilômetros de distância do lugar do lançamento.
AFP
Homem aponta para parte de foguete que caiu em sua casa
Homem aponta para parte de foguete que caiu em sua casa
"O telhado desabou e caiu em nossa casa, deixando um grande buraco", disse ao veículo um dos moradores afetados, que não quis se identificar.
Algumas fotografias que circulam pelas redes sociais e foram publicadas por vários veículos de imprensa chineses, entre eles o "Xiaoxing Morning Post", mostram o telhado destroçado de uma casa, com o que parecem ser restos da sonda dentro dela, enquanto outras imagens retratam vários vizinhos ao redor da suposta parte do foguete.
As autoridades ofereceram às vítimas 10.800 iuanes (R$ 4.180) em compensação pelo ocorrido, diz o jornal, que acrescenta que ninguém foi ferido pelos objetos.
Até agora, não houve nenhuma verificação oficial de que as fotografias correspondam aos restos da sonda, que despegou na madrugada da segunda-feira desde o Centro de Lançamento de Satélites de Xinchang, no centro da China.
O aparelho, que inclui o primeiro robô de exploração lunar chinês, ao que se chamou "Yutu" ou "Coelho de Jade", está impulsionado pelo foguete "Longa Marcha 3B" e entrou na órbita de transferência Terra-Luna na hora prevista.
O diretor do Centro de Lançamento, Zhang Zhenzhong, compareceu brevemente perante as câmaras para confirmar que o lançamento tinha sido "um sucesso".

FONTE: Folha.com/Ciência

AFP
Estrago no teto de uma das casas atingidas pelos restos do foguete chinês
Estrago no teto de uma das casas atingidas pelos restos do foguete chinês

CIENTISTAS LEEM O MAIS ANTIGO DNA DE HUMANO PRIMITIVO ( Artigo Científico )

04/12/2013 - 20h46

REINALDO JOSÉ LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA


O DNA de um humano primitivo que morreu na Espanha há quase meio milhão de anos foi recuperado e "lido" por uma equipe internacional de pesquisadores, num feito que promete complicar ainda mais o que se sabe sobre a tortuosa história evolutiva da nossa espécie.
Ocorre que o DNA do hominídeo de Sima de Los Huesos, na Espanha, tem semelhanças surpreendentes com o de humanos primitivos da Sibéria, os denisovanos.
Além da distância de milhares de quilômetros, o espécime espanhol tem 400 mil anos, enquanto os denisovanos viveram há 40 mil anos.
"Quando vimos os dados, ficamos totalmente perplexos com a semelhança", disse à Folha o coordenador do estudo, Matthias Meyer, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionista (Alemanha). A pesquisa está na revista científica "Nature".
PRÉ-NEANDERTAIS?
Sima de Los Huesos é um sítio arqueológico e paleontológico rico, no qual já foram achados os restos de pelo menos 28 humanos primitivos, classificados como Homo heidelbergensis, espécie que teria dado origem tanto à nossa quanto aos neandertais.

Características dos fósseis sugeriam que eles tinham traços "pré-neandertais". Um dos jeitos de testar isso seria o DNA. Material de um urso-das-cavernas achado em Sima já tinha sido extraído, o que animou os cientistas a usar um fêmur humano.
Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress
Depois de abrir furos no osso e extrair 2 gramas de material, foi preciso penar para obter algum DNA, porque a molécula vai se degradando.
Por enquanto, os cientistas obtiveram quase todo o mtDNA (DNA mitocondrial) do hominídeo. Presente nas mitocôndrias, as "centrais de energia" das células, esse DNA é mais abundante que o material que compõe a maior parte do genoma, daí a (relativa) facilidade de obtê-lo de amostras tão antigas.
Veio, então, a surpresa: o mtDNA do humano de Sima tinha pouca semelhança com o de neandertais (e o de Homo sapiens), mas se alinhava ao dos denisovanos.
Uma explicação para esse fato, diz Meyer, é que o mtDNA seja sinal de mestiçagem -assim como a que aconteceu entre neandertais e humanos modernos e entre humanos e denisovanos.
Nesse caso, diz ele, o mtDNA divergente seria herança de uma população humana ainda mais antiga com a qual o Homo heidelbergensis teria se cruzado antes de gerar os hominídeos mais recentes.
"Mas, por enquanto, isso é só especulação", diz Meyer. "Estamos determinados a avançar nisso. A ideia é conseguir mais DNA, desta vez do núcleo das células."
Para Chris Stringer, paleoantropólogo do Museu de História Natural de Londres, "é emocionante ver material genético humano com essa idade sendo sequenciado".
Segundo ele, os dados devem ajudar a entender melhor as relações entre os vários grupos que povoaram o planeta ao longo do último meio milhão de anos -um tema cercado de controvérsias.
"Receio que estejamos chegando perto dos limites do que até a tecnologia mais avançada pode fazer por nós", diz Meyer. "Em certo ponto, simplesmente não vai mais haver DNA. Mas um ou dois anos atrás eu achava que nunca conseguiríamos DNA de amostras de 400 mil anos, então quem sabe o que o futuro trará?"

FONTE: Folha.com.br
Madrid Scientific Films, Kennis & Kennis/Associated Press
Concepção aryístoca mostra os hominídeos de Sima de los Huesos
Concepção artística mostra os hominídeos de Sima de los Huesos