quinta-feira, 30 de junho de 2011

COLEÇÃO DE ARTEFATOS LÍTICOS ( Tecnologia Lítica )

Esta coleção de Artefatos Líticos encontra-se no município de Carnaúba dos Dantas, e pertence a um morador local.
A mesma é composta por vários tipos de artefatos de "pedra polida" e de "seixos utilizados" ( Machados, Mãos-de-pilão, Mós, Batedores, etc ) . Tais "Artefatos",  foram  utilizados  por povos primitivos ( ancestrais dos índios atuais ) que habitaram Carnaúba dos Dantas e cercanias há pelo menos 10 000 anos AP ( Antes do Presente ).



                                                                                   
Obs. A coleção é composta por ARTEFATOS DE PEDRA POLIDA e de SEIXOS UTILIZADOS. Com excessão de "duas" peças, o restante foi todo encontrado no município de Carnaúba dos Dantas.

FONTE: Dean Carvalho
FOTOS: Getúlio Moura

PESQUISADORES ENCONTRAM HOMO SAPIENS DE 32 MIL ANOS NA UCRÂNIA ( Descobertas Arqueológicas )

28/06/2011 - 12h04

Pesquisadores encontram Homo sapiens de 32 mil anos na Ucrânia


DA EFE, EM PARIS
Restos humanos de 32 mil anos foram descobertos na península da Criméia, ao sul da Ucrânia. Estes são os segundos Homo sapiens mais antigos da Europa --os primeiros foram encontrados em uma jazida na Romênia.
O CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica francês), que participou da expedição, explicou em comunicado nesta terça-feira que são ao menos cinco indivíduos: uma criança, dois adolescentes e dois adultos. Eles foram achados junto a ferramentas talhadas de pedra e ossos, joias em forma de pérola de marfim de mamute e conchas perfuradas.
Os pesquisadores destacaram que os esqueletos na Criméia tinham a cabeça separada do corpo, o que atribuíram a um provável ritual funerário, afastando a ideia de canibalismo.
Na jazida ucraniana, situada em uma região montanhosa e explorada em diversas ocasiões, foram encontrados agora 162 fragmentos ósseos humanos, assim como de antílopes, raposas e lebres, em uma camada rochosa correspondente ao paleolítico superior.
O CNRS destacou que a descoberta abre as portas para estudos multidisciplinares na área. 

FONTE; Folha.com/Ciência

USAR MACONHA ATÉ OS 15 ANOS REDUZ MEMÓRIA EM ATÉ 30% ( Saúde )

28/06/2011 - 08h33

Usar maconha antes dos 15 anos reduz memória em até 30%


GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO
O uso de maconha antes dos 15 anos --quando o cérebro ainda está em processo de amadurecimento- prejudica a capacidade de recuperar as informações, reduzindo a memória dos usuários em até 30%.
Os danos são proporcionais à quantidade de droga usada: quanto mais se fuma, maiores são os estragos. E eles persistem mesmo se houver um período de abstinência de um mês.
Os resultados são de uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo apresentada no 7º Congresso Anual de Cérebro, Comportamento e Emoções, em Gramado (RS).
"Os usuários precoces têm resultados significativamente inferiores também em ouras áreas, como a capacidade de controlar seus impulsos", diz a neuropsicóloga Maria Alice Fontes, uma das autoras do trabalho.
Se o uso se inicia após os 15 anos, no entanto, as chances de prejuízo nessas funções diminui.
"Não é que seja o consumo da maconha fique seguro, longe disso. Mas ele se torna menos nocivo, porque o cérebro já passou dessa etapa de desenvolvimento", afirmou a pesquisadora.
O estudo foi publicado na última edição do "The British Journal of Psychiatry". 

FONTE: Folha.com/Equilíbrio e Saúde

FOTÓGRAFO CLICA "SELINHO" DE GORILA FÊMEA EM ZOOLÓGICO ( "Beijo Animal" )

28/06/2011 - 16h40

Fotógrafo clica selinho de gorila fêmea em zoológico

DA REUTERS
Uma foto divulgada nesta terça-feira pela agência de notícias Reuters mostra o momento em que a gorila fêmea Digit beija o dono do zoológico onde vive.
Pierre Thivillon, proprietário do Saint-Martin-la-Plaine, no sudeste da França, também levou Digit para casa.
Lá, foi feita uma outra foto da gorila com Thivillon e a mulher dele, Eliane, na janela do quarto do casal.
A sessão de fotos, ao que parece, é provavelmente para divulgar o zoológico.

Robert Pratta/Reuters
O dono do zoológico francês Saint-Martin-la-Plaine, Pierre Thivillon, e a gorila Digit se beijam de leve
O dono do zoológico francês Saint-Martin-la-Plaine, Pierre Thivillon, e a gorila Digit se beijam de leve

ARQUEOLOGIA DA REGIÃO DO PARQUE NACIONAL DA SERRA DA CAPIVARA - Sudeste do Estado do Piauí/BRASIL ( Arqueologia Brasileira )

Arqueologia da região do Parque Nacional Serra da Capivara - Sudeste do Piauí
Niéde Guidon
Em 1973, a equipe franco-brasileira do Piauí, sob minha direção, iniciava as pesquisas na região de São Raimundo Nonato, pequena cidade perdida no sertão, uma das mais pobres regiões do Brasil.
Hoje, trinta anos depois, podemos iniciar um balanço de tudo o que foi feito e, principalmente, do que resta a fazer, sem dúvida trabalho para mais uma geração!
Meu interesse pela região havia sido despertado pelas pinturas rupestres que ornam as paredes de alguns abrigos rochosos. Notícias dessas pinturas me haviam sido transmitidas em 1963 e as fotografias que vi imediatamente chamaram minha atenção pois era algo completamente desconhecido. Procurei chegar à região nas férias de dezembro do mesmo ano, mas os rios haviam transbordado e derrubado pontes, o que me impediu de chegar ao destino. Em 1964 deixei o Brasil. Em 1970, já trabalhando na França, vim ao Brasil em uma missão de pesquisas e, ao término da mesma, decidi passar pelo Piauí para ver as pinturas. O que vi me fez decidir a batalhar para criar uma missão arqueológica com o objetivo único de estudar essa região.
A região sudeste do Piauí ocupa uma zona de fronteira entre duas grandes formações geológicas, o escudo cristalino do pré-cambriano e a bacia sedimentar Maranhão-Piauí, do Siluriano-Permiano. Esse foi o ponto básico sobre o qual apoiamos o nosso projeto de pesquisas: uma fronteira geológica se caracteriza pela diversidade de seus ecossistemas e pela abundância e diversidade dos produtos naturais. Nossa hipótese de base foi que essa diversidade e riqueza seriam motivos para facilitar o desenvolvimento cultural de povos que aí tenham se estabelecido, o que resultaria em uma população relativamente numerosa, com longa duração no tempo e com um padrão social que permitisse a evolução das tecnologias, tanto as de sobrevivência como as ligadas à vida espiritual.
Hoje, trinta anos depois, podemos afirmar que nossa hipótese de base foi demonstrada.
Nosso interesse inicial eram a arte rupestre, pinturas e gravuras. Logo na primeira missão de 1973, descobrimos 55 sítios, a maior parte com pinturas. Alguns eram aldeias em cujo solo abundavam cacos de cerâmica e objetos de pedra lascada e polida. Pensávamos, então, que esses sítios eram recentes pois, como todos os arqueólogos americanos, acreditávamos que a América havia sido povoada tardiamente e que a América do Sul havia sido a última parte da Terra a receber representantes do gênero Homo.

Pintura rupestre encontrada na Serra da Capivara
Fotos: Fumdham
Nas primeiras missões nada mais fizemos do que documentar as pinturas rupestres e buscar dados sobre a região. Essa pesquisa bibliográfica demonstrou que nunca ninguém havia pesquisado naquela região e que nada se sabia sobre a mesma, nem sobre as bases físicas, nem sobre fauna e flora. Por esta razão, em 1978, transformamos nossa equipe de pesquisas, que passou a integrar especialistas de outras áreas, de modo a poder desenvolver um trabalho interdisciplinar que possibilitasse a definição do quadro atual, para que fosse possível fazer um estudo da evolução do clima e da paisagem. No mesmo ano realizamos as primeiras sondagens visando encontrar vestígios dos povos que haviam realizado as pinturas. Nesse mesmo ano solicitamos ao governo do Brasil a criação de um parque nacional de modo a criar as condições de proteção total para os sítios arqueológicos e para a natureza, então exuberante. Em junho de 1979, era criado o Parque Nacional Serra da Capivara.
Ao fio dos anos os trabalhos interdisciplinares foram progredindo, as pesquisas ampliando-se, muitos trabalhos de teses, de mestrado e de doutorado foram preparados na região, proporcionando assim uma quantidade de dados que nos permite traçar hoje um esboço da pré-história regional. Esse esboço irá sendo completado de modo a nos permitir, ao término dos trabalhos, contar a história desde a chegada dos primeiros grupos humanos até os dias atuais.
Nas épocas pré-históricas as condições ambientais eram muito diferentes. As escavações arqueológicas demonstraram que, até cerca de 9.000/8.000 anos atrás, existiam grandes rios e a região era coberta por florestas tropicais úmidas. Escavações realizadas no sítio Toca do Fundo do Baixão da Pedra Furada permitiram a descoberta de vestígios de origem européia (uma faca metálica) enterrada a 1,40 metros de profundidade, na margem de um antigo rio. Carvões encontrados em uma fogueira ao lado deram uma data carbono 14 (C-14) entre os anos de 1.640 e 1.730 de nossa era (Beta 156408 e Beta 154636). Portanto, até essa data os rios corriam no vale da Pedra Furada. Uma vegetação abundante, perenifólia, assegurava a alimentação para a fauna, majoritariamente herbívora e de grande porte. Durante milênios, espécies da megafauna existiram na região e co-habitaram com os grupos humanos que a povoavam. As espécies mais comuns da megafauna eram a preguiça gigante (Catonyx cuvieri e Eremotherium lundi), o tigre-de-dente-de-sabre (Smilodon populator), o mastodonte (Haplomastodon waringi), o tatu gigante (Glyptodon clavipes), as lhamas (Palaeolama major e Paleolama niedae) e cavalos (Hippidion bonaerensis e Hippidion sp.) (Guérin, 1991). Junto a esta fauna gigante, existiam também as espécies de médio e pequeno porte, que foram fontes de alimentação das populações que aí viviam.

Trecho de mata na Serra da Capivara
Nesta região existem evidências de presença humana que remontam a 60.000 anos. O sítio Toca do Boqueirão da Pedra Furada, escavado entre 1978 e 1988, forneceu a mais completa estratigrafia até hoje encontrada nas Américas (Parenti, 2002, Parenti et al, 1990, Guidon and Delibrias, 1986, Guidon et al., 1994). Hoje podemos afirmar que a entrada de Homo sapiens para o continente americano fez-se em vagas que, saindo de diferente lugares, seguiram diferentes caminhos e que as primeiras devem ter entrado na América entre 150.000 e 100.000 anos atrás. A razão nos faz supor que um continente como o americano, que vai do Pólo Norte ao Pólo Sul, deve ter sido ocupado a partir de diversos pontos de penetração, que incluem também a via marítima. Não devemos esquecer que o nível do mar variou durante as diferentes épocas, caracterizadas por avanços e recuos das glaciações e que, em certos momentos, chegou até a 150 metros abaixo do nível atual, o que significa que um maior número de ilhas afloravam e a plataforma continental era bem mais ampla.
Dispomos, para o sítio Toca do Boqueirão da Pedra Furada, de 63 datações por C-14, realizadas em laboratórios da Europa, América e Austrália que permitiram o estabelecimento de uma coluna crono-estratigráfica sem inversões, que vai de 59.000 até 5.000 anos antes do presente (Parenti, 2002; Parenti et al., 1999; Santos et al., no prelo). Essas datações antigas levantaram objeções entre certos colegas americanos e a polêmica se instalou (Meltzer et al., 1994; Guidon et al., 1996). Objetavam esses colegas que as peças líticas podiam ser o resultado de lascamentos naturais, que os carvões eram o resultado de fogos naturais e que os fogões encontrados eram também formados por fenômenos naturais, diversos blocos caídos perto um do outro. Essas objeções foram destruídas por uma série de trabalhos feitos. Gisele Daltrini Felice (Felice, 2002) realizou uma série de sondagens, descendo a encosta do sítio, até o fundo do vale, subindo a encosta oposta até o paredão da cuesta. Se os carvões do sítio Toca do Boqueirão da Pedra Furada tivessem sido originados por incêndios naturais, a pesquisadora deveria ter encontrado as mesmas camadas de carvões nas encostas, ou no vale. Fora do sítio não foram encontradas camadas de carvões correspondentes às encontradas dentro do abrigo, o que elimina a possibilidade de fogos naturais. pois sabemos que o fogo sobe encostas e não é lógico pensar que ele se declarou unicamente dentro do abrigo que tem cerca de 70 metros de comprimento por 15 de largura. Análises ao microscópio de varredura, realizadas na Texas A & M University confirmam a origem antrópica dos lascamentos.

Machadinha
usada para cortar e raspar
Os vestígios da cultura material descobertos indicam a existência de uma única primeira cultura, que atravessa os milênios inovando tecnicamente e fazendo escolhas entre os muitos recursos naturais disponíveis. Os instrumentos cortantes e pontiagudos, dos tipos facas, raspadores, perfuradores, são feitos em quartzo e quartzito. São peças líticas pouco trabalhadas, talhadas segundo as necessidades do momento, utilizadas e logo abandonadas. Os instrumentos são feitos de maneira a serem utilizados em funções gerais tais como cortar ou raspar sem que exista a procura da especialização. Os artefatos foram achados nos solos arqueológicos junto às estruturas de fogueiras. Dessas fogueiras foram extraídos os carvões de lenha que, submetidos a análises de C-14, forneceram as datações dos referidos solos arqueológicos e dos vestígios que neles foram encontrados. Enormes oficinas líticas, isto é locais onde os homens pré-históricos obtinham a matéria prima e a lascavam para fabricar ferramentas, foram descobertas, na região norte do Parque Nacional, em 2002. Eram locais junto a antigas quedas d'água, atualmente secas, nos quais afloram blocos de metaquartzito, rocha excelente para o lascamento. Em uma delas, milhares de vestígios líticos coalhavam o solo sobre uma superfície de cerca de 25.000 metros quadrados. A qualidade técnica das peças dessas oficinas é excelente, a mesma qualidade que é encontrada no paleolítico europeu ou na África. Serão realizadas escavações nesses locais buscando datar esses sítios.
A técnica de realização das ferramentas líticas também se transforma lenta mas marcadamente. Apesar de prosseguirem utilizando as matérias primas da indústria do Pleistoceno, passam a empregar também uma nova rocha, mais adequada ao lascamento: o sílex e a calcedônia, que devem procurar em certos locais específicos. O número e a diversidade dos tipos de ferramentas é maior. A manufatura dos instrumentos torna-se mais especializada e adequada às suas funções, esta procura da especificidade é uma das grandes diferenças com a tecnologia pleistocênica. São comuns os raspadores, facas, lascas retocadas, seixos lascados e percutores. Alguns artefatos apresentam marcas de intensa utilização permitindo observar o desgaste diferenciado. Neste período em que a tecnologia lítica se torna mais complexa e precisa, aparecem instrumentos novos, como as pontas de projétil. Junto à tecnologia cada vez mais requintada de lascamento aparecem técnicas de polimento em torno de 9.200 anos BP [Before present=antes do presente], datação de um machado de pedra polida descoberto nas escavações arqueológicas da Toca do Sítio do Meio. A utilização da argila para a realização de artefatos cerâmicos torna-se mais complexa. A utilização da argila, apenas secada ao sol, que devia caracterizar a tecnologia pleistocênica é substituída pelo emprego de procedimentos de queima, o que dá lugar ao aparecimento da cerâmica. A descoberta, na Toca do Sítio do Meio, de cacos de cerâmicas datados de 8.900 anos BP, situa cronologicamente essa técnica e envelhece o aparecimento da cerâmica no continente americano.
Muitos vestígios da cultura material do período mais antigo se desintegraram pela fragilidade de seu suporte. A cestaria, o trançado, tecnologias que devem ter existido, não suportaram os efeitos do tempo e da umidade. O mesmo aconteceu com os objetos feitos sobre matérias primas orgânicas.
Os abrigos sob rocha da serra não eram utilizados como lugares de habitação. Muitos deles tinham depressões rochosas onde acumulava-se água da chuva. Essas depressões são localmente denominadas caldeirões, sendo freqüentadas para outros usos ou como pontos de caça, aproveitando a vinda de animais para beber. Como locais de moradia foram escolhidos outros espaços: locais mais abertos, na desembocadura de boqueirões, de vales largos, alto da chapada, perto de fontes de água, de rios ou córregos que eram abundantes nessa época úmida.
A mais importante característica cultural dos grupos étnicos desta região é ter desenvolvido um sistema de comunicação social através de um registro gráfico de caráter narrativo. No período pleistocênico, as populações já tinham atividades gráficas. Fragmentos de parede, com traços de pintura, foram achados caídos sobre solos arqueológicos. Neles as figuras desenhadas não são identificáveis, mas confirmam a prática dessa atividade. Sobre as paredes dos abrigos do Parque Nacional existe uma densa quantidade de pinturas rupestres realizadas durante milênios. As representações animais são muito diversificadas, sendo possível reconhecer espécies inexistentes hoje na região e outras totalmente extintas, como camelídeos e preguiças gigantes. Existem também reproduções de capivaras, veados galheiros, caranguejos, jacarés e certas espécies de peixes, hoje desaparecidas na área, extremamente árida para poder abrigá-las. Até agora já foram descobertos 550 sítios de arte rupestre, pinturas e gravuras, mais uma prova da antiguidade da presença humana na região e da prática rupestre.
Podemos seguir a evolução desta arte rupestre que, ao longo de cerca de 30.000 anos, mesmo mantendo os mesmos temas, mostra mudanças no que diz respeito às técnicas de desenho e pintura e na forma como dispunham as figuras sobre o suporte rochoso. Tivemos na região duas tradições, Nordeste e Agreste. A primeira apresenta um estilo inicial, Serra da Capivara, cuja característica é a eclosão do movimento, do dinamismo e da encenação esfuziante de alegria e ludismo. O estilo final, Serra Branca, se caracteriza pelos componentes ornamentais, as vestimentas e os cocares, que resulta em uma decoração gráfica muito particular que persiste e que contrasta com as características do estilo inicial. São adotadas formas de tipo retangular muito decoradas. Os grupos do estilo Serra Branca escolhem o caráter ornamental como seu traço de identificação étnica. Entre esses dois estilos podemos observar um processo evolutivo gradativo e lento, que forma o complexo Serra Talhada (Pessis, 1987, 1992, 1993, 1999).
Assim que as chuvas diminuíram, o clima atual começa a se instalar, a partir de 6.000 BP. A vegetação também diminui, as fontes de alimentação se tornam escassas e a megafauna desaparece totalmente da região, junto com as espécies dos ecossistemas úmidos. As transformações da vegetação e a extinção de uma parte da fauna não afetou a sobrevivência dos grupos humanos, que tinham como fonte de alimentação as espécies de médio e pequeno porte e que sobreviveram às transformações climáticas.
As escavações arqueológicas permitiram provar que os rios corriam na região até a chegada do colonizador que, cortando as florestas-galeria e queimando anualmente toda a região para cultivo da cana e a criação extensiva de gado, sendo o solo frágil e arenoso, provocou processos erosivos e o assoreamento dos vales. Até os primeiros anos da década de 80, parte da população que vivia fora dos povoados e cidades, ocupava abrigos, os mesmos que haviam sido pintados pelo homem pré-histórico. Aproveitavam a parede do fundo e o teto rochoso e construíam paredes de pau-a-pique na parte aberta, na frente. A fumaça de seus fogões e fornos de mandioca ou dos engenhos de açúcar destruíram muitas pinturas. Quando a equipe da Missão Franco-Brasileira iniciou os trabalhos na região os vales eram cobertos por florestas de angico, pau d'arco, aroeira e outras árvores de grande porte. Tudo foi cortado e queimado e hoje impera a caatinga arbustiva; processos erosivos imensos formaram vossorocas que avançam inexoravelmente, criando o deserto (Guidon et al., 2002). A cidade de São Raimundo Nonato era banhada pelo rio Piauí e, do alto da ponte, moradores pescavam. Cerca de 10 lagoas abrigavam garças, patos, toda sorte de fauna e flora aquáticas. Hoje todas foram aterradas, sofrendo o mesmo destino do rio Piauí, que não corre mais. De uma região verde, opulenta, habitada por um povo feliz e rico porque não passava fome e tinha tempo para criar uma civilização que nada deve a similares de todo o mundo, passamos a ser uma área em vias de desertificação, com a fauna e a flora exauridas, onde vive um povo que somente conhece a ignorância e a fome. Os pesquisadores e técnicos da equipe lutam hoje para que o imenso tesouro natural e cultural da região possa ser o motor para o desenvolvimento social e econômico. Assim, a arte rupestre pré-histórica e as maravilhas da natureza permitirão que o sudeste do Piauí volte a ser o que era até a chegada dos colonizadores: uma cultura de primeiro mundo!
Niéde Guidon é coordenadora da Fundação Museu do Homem Americano e Universidade Federal de Pernambuco.
Bibliografia
_ Felice, G.D., 2002. A controvérsia sobre o sítio Toca do Boqueirão da Pedra Furada. Piauí - Brasil. Fumdhamentos II, São Raimundo Nonato - Pi. 143-178.
_ Guérin C. 1991. La faune de vertebrés du Pléistocène supérieur e l'aire archéologique de São Raimundo Nonato (Piauí, Brésil), C. R. Acad. Sci. Paris, 312 série II, 567-592.
_ Guidon, N., and Delibrias, G., 1986. Carbon - 14 dates point to man in the Americas 32,000 years ago. Nature 321, 769-771.
_ Guidon, N., Parenti, F., Da Luz, M. d. F., Guérin, C., Faure, M., 1994. Le plus anciens peuplement de l'Amérique : le Paléolithique du Nordeste brésilien, Bulletin de la société préhistorique française 91, 246-250.
_ Guidon, N., Pessis, A. M., Parenti, F.,Fontugne, M., Guérin, C., 1996. Nature and age of the deposits in Pedra Furada, Brazil : reply to Meltzer, Advasio & Dillehay, Antiquity 70, 268, 408 - 421.
_ Guidon, N., Vidal, I.A., Buco, C., La Salvia, E.S., Felice, G.D., Pinheiro, P., 2002. Notas sobre a pré-história do Parque Nacional Serra da Capivara, Fumdhamentos II, São Raimundo Nonato - Pi. 105-141
_ Meltzer D. J., Advasio, J. M., Dillehay, T. D., 1994. On a Pleistocene human occupation at Pedra Furada, Brasil, Antiquity 68, 695 - 714.
_ Parenti F., Mercier N., Valladas H., 1990. The oldest hearths of Pedra Furada, Brasil: Thermoluminescence analysis of heated stones, Current Research in the Pleistocene, 7, 36- 38.
_ Parenti, F., Fontugne, M., Guidon, Guérin, C., Faure, M., 1999. Chronostratigraphie des gisements archéologiques et paléontologiques de Sao Raimundo Nonato (Piaui, Brésil) : contribution à la connaissance du peuplement pléistocène de l'Amérique, Supplément 1999 de la Revue d'Archéométrie,327 - 332.
_ Parenti, F., 2002. Le gisement quaternaire de la Pedra Furada (Piaui, Brésil), Stratigraphie, chronologie, évolution culturelle, Editions Recherches sur les civilisations, Paris.
_ Pessis, Anne-Marie, 1987. Art rupestre préhistorique : premiers registres de la mise en scène. Nanterre, Université de Paris X, 502 p.
_ Pessis, Anne-Marie, 1992. Identidade e classificação dos registros gráficos pré-históricosdo Nordeste do Brasil. CLIO - série Arqueologia, nº 8, Recife, UFPe, 35-68.
_ Pessis, Anne-Marie, 1993. Registro rupestres, perfil gráfico e grupo social. CLIO - série Arqueologia, nº 9, Recife, UFPe., 7-14.
_ Pessis, Anne-Marie, 1999. Pré história do Parque Nacional Serra da Capivara in Pre-história da Terra Brasilis, UFRJ, Rio de Janeiro, 61-75.
_ Santos, G.M., Bird, M.I. Parenti, F., Fifield, L.K., Guidon, N., Hausladen, P.A, A Revised Chronology of the Lowest Occupation Layer of Pedra Furada Rock Shelter, Piaui, Brazil: The Antiquity of Peopling of South America, to be published in Quaternary Science Reviews.
_ H. Valladas, N. Mercier., M. Michab, J.L. Joron, J. L. Reyss, N. Guidon . TL age-estimates of burnt quartz pebbles from the Toca do Boqueirão da Pedra Furada (Piaui, Northeastern Brasil). No prelo. 

FONTE: Com Ciência Arqueologia e Sítios Arqueológicos

VESPA PARASITA TRANSFORMA JOANINHA EM GUARDA-COSTAS "ZUMBI" ( Curiosidades do Mundo Animal )

30/06/2011 - 08h17

Vespa parasita transforma joaninha em guarda-costas 'zumbi'

DA BBC BRASIL
Cientistas canadenses descobriram que uma espécie de vespa parasita consegue se proteger de seus predadores durante a fase de casulo ao transformar joaninhas em guarda-costas "zumbi".
Os pesquisadores da Universidade de Montreal descobriram que, depois que uma vespa fêmea consegue injetar seu ovo na joaninha, a larva se alimenta dos tecidos internos do inseto. Em alguns casos, a joaninha, parcialmente paralisada, continua sentada no parasita, enquanto ele se desenvolve em um casulo.
Fanny Maure/Universidade do Canadá
Vespa parasita transforma joaninha em guarda-costas 'zumbi'
Vespa parasita transforma joaninha em guarda-costas 'zumbi'
Depois de ser injetada na joaninha, a larva de vespa se desenvolve por 20 dias dentro do abdômen da hospedeira. Depois deste período, a vespa sai e cria um casulo entre as pernas da joaninha.
Os pesquisadores sugerem que o veneno da vespa faz com que a joaninha tenha espasmos. O inseto se debate e treme, o que espantaria os predadores.
Este comportamento diferente da joaninha começa no momento em que o parasita sai de dentro de seu corpo.
Os cientistas Jacques Brodeur, Fanny Maure e equipe descobriram que os casulos guardados pelas joaninhas vivas sofriam menos ataques de outros insetos inimigos naturais, do que os casulos que estavam sozinhos ou guardados por uma joaninha morta.
Os detalhes da pesquisa foram publicados na revista especializada "Biology Letters da Royal Society".
SUSTENTO
Ao usar uma joaninha como guarda-costas viva de seu casulo, a vespa parasita Dinocampus coccinellae também precisa arcar com o custo de sustentar o inseto hospedeiro (Coleomegilla maculata).
A necessidade de sustentar sua "guarda-costas zumbi" e de produzir ovos são conflitantes, por isso a vespa parasita que usa a joaninha produz menos ovos, mas sua longevidade não é afetada. A joaninha, no entanto, permanece parcialmente paralisada.
Mathieu Bélanger-Morin/Universidade de Montreal
Cientistas canadenses descobriram a vespa parasita consegue se proteger de seus predadores
Cientistas canadenses descobriram a vespa parasita consegue se proteger de seus predadores
"Tanto no laboratório como em campo, observamos que (a joaninha) que está parcialmente paralisada demonstra um comportamento em que se agarra ao casulo e se contorce em intervalos regulares", escreveram os pesquisadores na revista "Biology Letters".
"Nossa hipótese é que este comportamento resulta da manipulação da hospedeira pelo parasita para converter a joaninha em uma guarda-costas."
O exato mecanismo que a vespa usa para manipular a joaninha ainda não foi esclarecido, mas os pesquisadores desconfiam que envolve o veneno deixado pela larva no corpo da joaninha.
Entre as joaninhas transformadas em guarda-costas pelas vespas, os pesquisadores descobriram que apenas 25% se recuperaram do período em que ficaram com a vespa parasita. 

FONTE: Folha.com/BBC Brasil

quarta-feira, 29 de junho de 2011

CIENTISTAS RUSSOS PREVEEM ENCONTRAR ALIENÍGENAS ATÉ 2031 ( Ufologia )

27/06/2011 - 15h39

Cientistas russos preveem encontrar alienígenas até 2031


DA REUTERS, EM MOSCOU
Cientistas russos esperam que a humanidade encontre civilizações alienígenas dentro das próximas duas décadas, disse hoje um importante astrônomo do país.
"A criação da vida é tão inevitável quanto a formação dos átomos. A vida existe em outros planetas e vamos encontrá-la em até 20 anos", afirmou Andrei Finkelstein, diretor do Instituto de Astronomia Aplicada da Academia Russa de Ciências, citado pela agência Interfax.
Em discurso em um fórum internacional dedicado à busca de vida extraterrestre, Finkelstein declarou que 10% dos planetas conhecidos que orbitam em torno de sóis na galáxia se assemelham à Terra.
Se for possível encontrar água neles, também se poderá encontrar vida, completou o astrônomo, ressaltando que os alienígenas tenderiam a se parecer com os humanos, com dois braços, duas pernas e uma cabeça. "Eles poderiam ter pele de cores diferentes, mas até nós somos assim."
O instituto comandado por Finkelstein mantém um programa lançado na década de 1960, no auge da corrida espacial durante a Guerra Fria, para monitorar e difundir sinais de rádio no espaço. 

FONTE: Folha.com/Ciência

MAIS DE 1 000 NOVAS ESPÉCIES DESCOBERTAS EM 10 ANOS NA NOVA GUINÉ ( Biodiversidade )

27/06/2011 - 12h21

Mais de 1.000 novas espécies descobertas em 10 anos na Nova Guiné

Karl Malakunas
Em Manila

Ratos de um metro, rãs com caninos, cobras cegas e um golfinho de cabeça redonda fazem parte de mais de mil espécies descobertas em 10 anos na ilha de Nova Guiné, dotada de uma impressionante biodiversidade, anunciou nesta segunda-feira o Fundo Mundial para a Natureza (WWF).
Os cientistas fizeram as surpreendentes descobertas, incluindo dezenas de borboletas e invertebrados, a um ritmo de duas por semana entre 1998 e 2008, informou o WWF em um relatório sobre a biodiversidade desta ilha compartilhada pela Indonésia e Papua Nova Guiné.
"Este estudo mostra que as selvas e os rios da Nova Guiné se encontram entre os mais ricos, em termos de biodiversidade, no mundo", resumiu Neil Stronach, chefe para a Melanésia Ocidental do Fundo Mundial para a Natureza
"Esta biodiversidade é tamanha que ainda atualmente é possível fazer novas descobertas", segundo o relatório.
A Nova Guiné, que se estende da Ásia à Oceania, só cobre 0,5% da superfície da Terra, mas possui até 8% das espécies catalogadas no mundo.
Um único quilômetro quadrado de floresta tropical pode abrigar mais de 150 espécies de pássaros, de plumagens muito coloridas. Os cientistas viram igualmente a maior borboleta existente, com uma envergadura de 30 cm, e ratos gigantes de cerca de um metro de comprimento.
Entre as 1.060 espécies descobertas em 10 anos, uma das mais notáveis é a do golfinho de cabeça redonda e nadadeiras levantadas, que vive em águas pouco profundas das desembocaduras dos rios.
Esta descoberta, feita em 2005 na Papua-Nova Guiné, foi a primeira de uma nova espécie de golfinhos em três décadas, segundo o WWF.
Também foram registradas 580 novas espécies de invertebrados, entre elas um caracol amarelo fluorescente, e 71 peixes.
Entre as 43 espécies de répteis figura uma das tranquilas serpentes do mundo: ela mede apenas de 12 a 14 cm, não vê nada, não morde e carece de veneno.
"Litoria sauroni" é o nome que os cientistas deram a uma rã cujos olhos com manches rubro-negras recordam Sauron, o personagem maléfico da saga "O senhor dos anéis". Uma rã mede apenas um centímetro de comprimento, enquanto que outra possui patas aladas.
Apesar da empolgação dos cientistas por estas descobertas, o WWF adverte que a intensificação das atividades humanas ameaça seriamente o ecossistema de Nova Guiné.
Muito rica em matérias-primas, a Nova Guiné é, de fato, vítima do desmatamento, legal ou não, para o desenvolvimento de minas, plantações e a construção de estradas.
"A estas ameaças ambientais se soma a mudança climática, que aumenta a quantidade de incêndios florestais, a erosão e a afluência da água do mar nas áreas costeiras habitadas pelas espécies animais", enfatiza WWF.

FONTE: UOL Notícias/Ciência

QUEM É E O QUE FAZ O ARQUEÓLOGO ( Arqueologia )

Quem é e o que faz o arqueólogo?
Em busca de uma arca desaparecida que concederia poderes fantásticos, o arqueólogo Indiana Jones cruza desertos e enfrenta agentes nazistas que atravessam seu caminho. Com direção de Steven Spielberg, o filme Caçadores da arca perdida, que traz o ator Harrison Ford no papel de "Indy", foi sucesso de público em 1981 e vencedor de 5 Oscars no ano seguinte. O estereótipo da imagem do arqueólogo-super-herói criado pelo cinema norte-amerciano, e difundido por boa parte do planeta, pode ser rapidamente rebatido pela realidade vivida por um profissional da área. "As expedições arqueológicas são, na verdade, somente uma parte do trabalho do arqueólogo e, normalmente, acontecem apenas em algumas épocas do ano, quando as condições climáticas são mais propícias". A afirmação é da arqueóloga Tania Andrade Lima, do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O mercado de trabalho para o profissional de arqueologia é bastante amplo. De acordo com Eduardo Góes Neves, do Museu de Arqueologia (MAE) da USP, o arqueólogo pode dar aulas, trabalhar em pesquisas acadêmicas, em museus, em órgãos estatais ou em empresas - trabalho conhecido como arqueologia de contrato.
Atualmente, cerca de 95% dos arqueólogos do Brasil trabalham com arqueologia de contrato. Grande parte dos sítios arqueológicos são descobertos ao acaso, em meio a uma construção ou uma obra. Nesse caso, uma equipe de arqueólogos é contratada (daí o nome "arqueologia de contrato") para promover um salvamento do sítio, caso ele esteja em destruição iminente. Se não houver risco de destruição, o sítio deverá ser cadastrado no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para posterior pesquisa. Então, entra o trabalho da arqueologia acadêmica. Na realidade, o profissional que trabalha por contrato passa mais tempo em expedições do que o arqueólogo acadêmico, justamente porque migra de um sítio ao outro.
Andre Poirier Prous, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diz que o fato da grande maioria dos arqueólogos brasileiros trabalhar por contrato representa um ponto negativo para a arqueologia nacional. "As pesquisas são direcionadas e a academia fica prejudicada com isso", afirma.
O lado positivo da arqueologia de contrato é apontado por Neves. "O arqueólogo tem que ser ágil, rápido, tem que seguir o ritmo da obra, da conclusão do gasoduto, da rodovia. Isso pode trazer experiências positivas também para a arqueologia acadêmica", afirma. "Por outro lado, a arqueologia acadêmica permite que o pesquisador estabeleça o ritmo de sua pesquisa e, se necessário, retorne ao sítio várias vezes para que seja realizado o seu trabalho".
Do campo ao laboratório
Em seu depoimento, Prous evidencia as dificuldades encontradas no trabalho de campo, seja por contrato ou realizando pesquisas acadêmicas. "O trabalho nos sítios não é fácil, você precisa ficar confinado, convive com um grupo limitado de pessoas muitas vezes por um longo tempo, se submete a variações climáticas. É preciso ser apaixonado pela profissão para ser arqueólogo."

Arqueólogo Andre Prous em expedição
Neves reclama da saudade enquanto está em expedição: "Eu adoro trabalho de campo, se eu pudesse passaria a vida no campo, mas é difícil por causa do distanciamento da família".
Neves em sua sala de trabalho
De acordo com Pedro Paulo Funari, do Departamento de História da Unicamp, o trabalho do arqueólogo pode ser dividido em quatro etapas: campo, processamento em laboratório, estudo e publicação.

Sítio Piracanjuba, em Piraju (SP): planimetria de decapagem
em núcleo de solo antropogênico (piso de habitação).
Crédito: José Luiz de Morais

Sítio Engenho do Salto, Piraju (SP): evidenciação das fundações de muro
de arrimo de engenho de cana do século 19. As estruturas foram inundadas
pelo enchimento do reservatório da Usina Piraju.
Crédito: José Luiz de Morais
Antes de ir a campo, o arqueólogo deve ter em mente o trabalho que irá realizar. Após realizada uma prospecção inicial, de superfície ou aérea, inicia-se o trabalho de escavação. "Usamos ferramentas normais de pedreiro e fazemos a escavação com as próprias mãos", afirma Neves. Durante as escavações, os materiais encontrados são registrados e descritos em fichas de campo. Numa fase posterior, o material é selecionado e apenas parte dele é levado para laboratórios específicos para que sejam estudados, analisados e, muitas vezes, comparados com o material encontrado em outros sítios.
Atualmente, as datações de todo material arqueológico encontrado no Brasil são feitas em laboratórios no exterior por meio de "testes cegos" (teste realizados em dois laboratórios diferentes para que os resultados possam ser comparados e, assim, mais precisos). Por isso, uma datação realizada por carbono catorze ainda é muito cara no Brasil.
"A datação não é Deus que te responde a idade de uma pedra, mas pode dizer, por exemplo, que um pedacinho de carvão foi queimado há mais ou menos 2500 anos", explica Neves. Datado o material, cabe ao arqueólogo trabalhar o contexto do fóssil. "O arqueólogo tem que mostrar, por exemplo no caso de um esqueleto encontrado, que o peixe do qual esse osso fazia parte morreu há tantos anos atrás, foi trazido para o sítio arqueológico porque foi pescado e consumido por uma comunidade. Os materiais que são datados estão no contexto de uma intervenção humana", conclui.
Por último, cabe também ao arqueólogo publicar o material trabalhado em catálogos de artefatos e fazer o relato da expedição que, muitas vezes, é publicado em algum periódico específico da área.
Como se tornar um arqueólogo no Brasil?
A dificuldade em se tornar arqueólogo começa no longo caminho que deve ser percorrido até a obtenção do título. No Brasil, não existe atualmente nenhuma graduação em arqueologia. "Poucos países do mundo têm essa graduação", afirma Prous, "não há necessidade de uma graduação específica em arqueologia", complementa.
O curso, no entanto, já foi ministrado no Brasil. Em 1976, a Faculdade Marechal Rondon, no Rio de Janeiro, criou a primeira graduação em arqueologia do país. Dois anos depois, a faculdade foi absorvida pela atual Universidade Estácio de Sá.
De acordo com a arqueóloga Tania Andrade Lima, que é graduada em arqueologia e chegou a lecionar na Universidade, o curso funcionou por cerca de 25 anos e recentemente deixou de ser oferecido. "Não creio que se possa dizer que o curso não tenha dado certo porque formou centenas de profissionais que se encontram em atividades hoje no país, alguns deles ocupando destacadas posições na academia, em órgãos federais, ou a serviço de empresas", afirma Lima. Para a pesquisadora, a arqueologia é uma disciplina eminentemente científica, o que é pouco atrativo para uma instituição particular. "Idealmente este é um curso que deveria funcionar em uma universidade pública", diz Lima.
A arqueologia começou a se mostrar no Brasil pouco após a Segunda Guerra Mundial, mas foi somente nas décadas de 60 e 70 que a área foi se firmando, principalmente após a formação do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (Pronapa). Nessa época, e nas décadas seguintes, os interessados na área se encaminhavam ao exterior para fazer seus estudos, já que existiam poucos profissionais no país que pudessem orientar suas pesquisas.
Atualmente, para quem deseja ser arqueólogo no Brasil, o caminho mais fácil é fazer uma graduação em alguma área das ciências humanas, ou da biologia, e depois fazer um mestrado em arqueologia. "Mas até quem fez direito pode se tornar um arqueólogo e acabar trabalhando com questões jurídicas dos sítios arqueológicos, por exemplo", complementa a arqueóloga. Eduardo Góes, que tem formação em história, ressalta que é importante que o estudante faça um estágio ou uma iniciação científica na área ainda durante a graduação.
É exatamente isso que fazem Marília Bueno de Araujo, que cursa história, e Alexandre Hering de Menezes, estudante de ciências sociais, ambos na USP. Os dois trabalham no Laboratório de Lavagem do Museu de Arqueologia (MAE) da USP.

Estudantes no laboratório de lavagem do MAE
Para Tania Lima, esses estudantes estão no caminho certo. "É preciso adquirir conhecimentos básicos durante a graduação, sem os quais o aluno não terá condições de fazer uma pós-graduação na área", afirma.
O Brasil conta hoje com três pós-graduações em arqueologia, em São Paulo, no Rio Grande do Sul e em Pernambuco (ver BOX). A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) estuda a possibilidade de também implantar sua pós-graduação na área.
Mercado em expansão
"Faltam arqueólogos no mercado, estamos sobrecarregados." A frase de Tania Lima é confirmada por Pedro Paulo Funari que, em 2000, calculou em trezentos o número de arqueólogos em todo o país. "A arqueologia no Brasil é recentíssima, o número de arqueólogos profissionais reduzidíssimo e os centros de formação pouco numerosos" afirma.
Ele destaca um aumento do interesse pelo passado, por parte dos próprios brasileiros, evidenciado em exposições e mostras que trazem informações sobre arqueologia nacional. "Há uma crescente conscientização do valor social do passado", complementa.
Para Neves, essa expansão do mercado de trabalho tem relação direta com a mudança na constituição de 1988 e com a criação do Conama.
A profissão ainda não é regulamentada no Brasil, o que faz com que exista uma discussão a respeito de quem pode se responsabilizar por uma pesquisa arqueológica ou assinar um laudo arqueológico (resultado de uma peritagem em um sítio). Cabe ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) autorizar uma pesquisa arqueológica e, nesse caso, são levadas em consideração a experiência e a formação do profissional para que seja concedida uma autorização.
Ao falar do trabalho do arqueólogo, sobretudo o acadêmico, Funari é conclusivo: "Tornar-se arqueólogo não compromete uma remuneração fabulosa, mas oferece oportunidades excepcionais para refletir sobre a sociedade, para agir com a comunidade em prol tanto da preservação do passado como para a transformação do presente".
(SR)
Pós-Graduações em Arqueologia no Brasil
Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - Museu de Arqueologia e Etnologia
Área de Concetração: Arqueologia
Mestrado, Doutoramento e Livre-Docência
Av. Prof. Almeida Prado 1466, Cidade Universitária, São Paulo/SP CEP 05508-900
Fone: (11) 818-4905 / 818-4899
www.mae.usp.br
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Programa de Pós-Graduação em História
Área de Concentração: Arqueologia
Mestrado e Doutoramento
Av. Ipiranga 6681, Prédio 03, Sala 321. Caixa Postal 1429, Porto Alegre /RS. CEP 90619-900
Fones: (51) 320-3534 / 320-3500 - ramal 4167.
www.pucrs.br
Universidade Federal de Pernambuco
Programa de Pós-Graduação em História
Área de Concentração: Pré-História do Brasil
Mestrado e Doutoramento
Centro de Filosofia e Ciências Humanas - 10º andar. Depto. de História Cidade Universitária, CEP 50670-901, Recife/PE
Fone: (81) 3271-8292
www.ufpe.br 

FONTE: Com Ciência Arqueologia e Sítios Arqueológicos

terça-feira, 28 de junho de 2011

IBAMA FLAGRA DESMATAMENTO COM AGROTÓXICO NO ESTADO AMAZONAS ( Meio Ambiente )

28/06/2011 - 09h49

Ibama flagra desmatamento com agrotóxico no Amazonas


KÁTIA BRASIL
DE MANAUS

O Ibama apreendeu na sexta-feira (17) quatro toneladas de agrotóxicos que seriam utilizados para desmatar 3.000 hectares de floresta nativa da União em Novo Aripuanã, sul do Amazonas.
O único registro de uso de agrotóxico em desmatamentos no Estado ocorreu em 1999. Durante um sobrevoo, fiscais do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) encontraram uma área de 250 hectares, no município de Boca do Acre, já destruída por ação do veneno Tordon 2,4 D.

Ibama/Divulgação
Agrotóxicos apreendidos na Amazônia seriam usados para devastar floresta, desfolhando as árvores
Agrotóxicos apreendidos na Amazônia seriam usados para devastar floresta, desfolhando as árvores
Pulverizados sobre a floresta, os agrotóxicos têm o poder de desfolhar as árvores.
"A floresta vira um grande paliteiro, facilitando o desmatamento. É o mesmo processo usado pelo exército norte-americano para encontrar os vietnamitas na guerra do Vietnã", disse o superintendente do Ibama no Amazonas, Mário Lúcio Reis.
OPERAÇÃO
Os fiscais do Ibama monitoravam o envio da carga de Rondônia para Novo Aripuanã (227 km de Manaus) havia uma semana.
Na sexta-feira, os produtos foram apreendidos em uma região de floresta desabitada às margens do rio Acari (afluente do Madeira), que fica nos limites entre a RDS (Reserva de Desenvolvimento Sustentável) do Juma e uma propriedade de um fazendeiro de Rondônia.
Os produtos químicos estavam escondidos debaixo de uma lona. Na carga, foram identificados os agrotóxicos 2,4 D Amina 72, U46BR, Garlon 480 e óleo mineral. Eles são comercializados legalmente como herbicidas para matar ervas daninhas em plantações de arroz e milho.
O nome do fazendeiro, que já foi multado por desmatar floresta nativa em outra ocasião, está sob sigilo devido às investigações do novo crime ambiental. A multa pode chegar a R$ 2 milhões.
Reis afirma que os fiscais encontraram uma pista de pouso na fazenda, de onde partiria um avião pulverizador para jogar os agrotóxicos sobre a floresta.
QUEIMADAS
Ainda de acordo com o superintendente, após a pulverização as árvores que têm valor comercial são derrubadas com motosserras. "Depois, eles fazem queimadas para limpar o terreno. No lugar da floresta, o fazendeiro iria criar um grande pasto."
Segundo o agrônomo e pesquisador do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) Hiroshi Noda, ao serem lançados sobre a floresta, os agrotóxicos contaminam solo, lençóis freáticos, animais e seres humanos.
"Eles causam uma reação química no metabolismo das árvores, provocando seu colapso imediato", disse.
Noda afirmou que, meses após a pulverização dos agrotóxicos, a terra pode ser utilizada para pastagens. 

FONTE: Folha.com/Ambiente

BLOCOS USADOS EM MURO CONTÊM INSCRIÇÕES DE DINASTIA EGÍPCIA ( Descobertas Arqueológicas )

27/06/2011 - 16h35

Blocos usados em muro contêm inscrições de dinastia egípcia


DA EFE
Uma missão de arqueólogos franceses descobriu no Egito centenas de blocos de pedra com inscrições e desenhos de cores vivas que datam da dinastia 22 (945-712 a.C.), anunciou nesta segunda-feira o Ministério de Estado para as Antiguidades.
Descobertas na região de San el Hagar, na província de Sharqiya, no nordeste do país, as pedras foram reutilizadas por outras dinastias na construção do muro de um lago sagrado destinado ao templo do deus Mut.

Egypt's Supreme Council Of Antiquities/Associated Press
Detalhe de bloco descoberto por arqueólogos franceses; acredita-se que foi usado para muro de lago sagrado
Detalhe de bloco descoberto por arqueólogos franceses; acredita-se que foi usado para muro de lago sagrado
Os arqueólogos devem continuar as escavações na área até localizar todos os blocos, cerca de 2.000 peças, para poder reconstruir o templo antigo do qual faziam parte seguindo as inscrições.
Dos blocos recuperados, os arqueólogos limparam até agora 120 peças, das quais 78 possuem inscrições.
Há um ano, a missão de arqueólogos franceses tenta descobrir também o lago sagrado, que tem superfície de 30 metros, largura de 12 metros e profundidade de seis metros.
Segundo o comunicado, a descoberta arqueológica atribui mais importância à localidade de San el Hagar, conhecida na antiguidade como o Luxor do norte do Egito. 

FONTE: Folha.com/Ciência

TRIPULAÇÃO DEIXA "ISS" APÓS AMEAÇA DE LIXO ESPACIAL ( Espaço )

28/06/2011 - 10h07

Tripulação deixa ISS após ameaça de lixo espacial


DA FRANCE PRESSE, EM MOSCOU
Os seis membros da tripulação da ISS (Estação Espacial Internacional) foram forçados nesta terça-feira a deixá-la e seguir para a nave Soyuz devido à proximidade de restos de lixo espacial, informou a agência Interfax, citando uma fonte espacial russa.
"Restos espaciais foram localizados muito tarde para que a estação espacial fizesse uma manobra para evitá-los. Os seis membros da tripulação receberam a ordem de subir a bordo da nave Soyuz", indicou a fonte.
O lixo orbital passou a 250 metros da estação, e a tripulação que havia se refugiado na nave de socorro pôde voltar à estação, indicou a agência.
Segundo uma porta-voz do TSOuP (centro de controle russo de voos espaciais), quando a ISS se vê ameaça por restos de lixo espacial, a tripulação recebe ordem para ir a bordo das naves de resgate e poder fugir da estação, caso necessário. "Trata-se de um procedimento normal de evacuação em caso de necessidade, e os astronautas têm instruções permanentes nesse sentido", explicou.
Três russos, dois americanos e um japonês fazem parte atualmente a tripulação da ISS.

FONTE: Folha.com/Ciência

NOVOS DADOS LANÇAM DÚVIDAS SOBRE O HOMEM AMERICANO ( Arqueologia )

Novos dados lançam dúvidas sobre o homem americano
O povoamento do continente americano é um enigma a ser decifrado para a compreensão da evolução de nossa espécie, chamada pelos cientistas de Homo sapiens. Ao deixar a África, onde surgiu aproximadamente entre 200 mil e 100 mil anos, o homem primitivo deu início à sua dispersão territorial e colonizou novos continentes, adaptando-se a novas regiões de clima e recursos naturais variados. Num movimento cuja direção levou ao estreito de Bering, a porta de entrada das Américas, nossos ancestrais deixaram vestígios nos lugares por onde passaram e fixaram residência. Esses locais, conhecidos como sítios arqueológicos foram encontrados em maior número na Europa, Ásia e Oceania do que na América do Norte, Central e do Sul que também são mais recentes. Essa lacuna na história do desenvolvimento humano há muito tempo mobiliza arqueólogos, lingüistas, antropólogos físicos e sociais, biólogos e geólogos, que procuram conhecer a origem, as características e quando e como chegou à América a nossa espécie.
"Hoje, as perguntas que estão sendo feitas sobre o povoamento da América são: de onde vieram os primeiros colonizadores? Que rota seguiram? A migração foi contínua ou interrompida por lapsos de tempo? Quando ocorreu essa migração, ou quando ocorreram essas migrações?", explica Francisco Salzano, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), empenhado em desvendar as origens do homem americano por meio da análise genética de grupos indígenas. Para ele, existe o consenso entre os cientistas de que não existiram populações originadas no continente, pois aqui ainda não foram encontrados vestígios muito antigos de fósseis humanos. Além disso, a hipótese mais aceita é a de que a rota de entrada no continente passou pelo estreito de Bering. "Mesmo com relação a este último ponto, no entanto, há vozes discordantes. As discussões quanto à região original de migração envolvem ou a Mongólia ou a Sibéria, numa ou mais rotas de migração, que podem ter sido terrestres, interiores, costeiras ou marítimas", diz Salzano.
Um dos debates mais intensos sobre o surgimento do homem americano diz respeito ao tempo de sua chegada ao continente. Até meados do século passado, os achados arqueológicos que ofereciam dados mais antigos sobre a presença humana nas Américas derivavam de materiais encontrados no Novo México, EUA. Trata-se da cultura Clóvis, assim batizada com o mesmo nome do sítio arqueológico em que foram encontrados artefatos produzidos por pessoas que habitaram a região entre 10.500 e 11.400 anos atrás. Esse grupo era formado por caçadores de grandes animais, tais como mamutes e mastodontes, que eram abatidos por pontas de pedra lascada bastante afiadas, cuja técnica de produção permitia que fossem colocadas na ponta de um cabo.

Ponta de flecha tipo Clóvis
Fonte: Reprodução do catálogo da Mostra
do Redescobrimento Brasil + 500
Esses achados permitiram a construção do modelo teórico chamado "Clóvis-Primeiro", segundo o qual uma única leva de pessoas adentrou a América aproximadamente a 12 mil anos. Esse período correspondia a uma era geológica, o final do período Pleistoceno, em que, entre o Alasca e o estreito de Bering, formou-se um corredor de terra chamado Beríngia, graças ao rebaixamento do nível do mar, numa era glacial em que a água era retida em grande volume na forma de gelo. Além desse fato geológico, a teoria foi corroborada por outras descobertas em sítios arqueológicos nos Estados Unidos, onde os artefatos de pedra lascada encontrados eram bastante semelhantes aos da cultura Clóvis. Desse modo, passou-se a acreditar que dessa cultura descendiam os demais grupos humanos espalhados pelo continente, idéia defendida ferrenhamente pelos pesquisadores norte-americanos, que olham com ceticismo a produção científica sul-americana.
Mas a teoria de que a cultura Clóvis era a primeira e mais antiga da América, aos poucos, foi perdendo espaço diante das novas descobertas arqueológicas que atestaram uma presença humana mais remota em algumas regiões fora da América do Norte, tornando mais acirradas as discussões sobre a origem do homem em nosso continente. No final dos anos 90, trabalhos publicados por cientistas norte-americanos sobre escavações realizadas na América do Sul indicavam datas de ocupação de períodos contemporâneos aos de Clóvis.
No sítio de Monte Verde explorado pelo arqueólogo Tom Dillehay, ao sul do Chile, foram encontrados vestígios arqueológicos que sugerem uma presença humana há 12.300 anos. Os estudos da pesquisadora Anna Roosevelt sobre Pedra Pintada, sítio localizado na cidade de Monte Alegre, Pará, indicam a ocupação do homem na floresta amazônica por volta de 11.300 anos atrás. Os resultados obtidos nesse local levaram a pesquisadora apresentar um outro modelo teórico de explicação da ocupação da América, o qual foi chamado de "Clóvis em contexto". Segundo esse modelo, a cultura Clóvis não era a mais antiga ocupação no continente da qual derivam todas as demais populações americanas.
Achados em outros sítios arqueológicos espalhados pela América do Sul reforçam a teoria de uma ocupação pré-Clóvis do continente, no final do período Pleistoceno, anterior a 10 mil anos, e no início do Holoceno, nossa atual era geológica. Em Taima-Taima, sítio venezuelano, há indícios de presença humana que remontam a 15 mil anos. Na Argentina, nos sítios de Piedra Museo e Los Toldos, existem vestígios humanos de aproximadamente 13 mil anos. Os sítios de Tibitó, Colômbia, e os de Quebrada Jaguay e Pachamachay, no Peru, possuem datações antigas de até 11.800 anos. No Brasil, em Lapa do Boquête, Vale do Peruaçu, e em Lapa Vermelha e Santana do Riacho, Lagoa Santa, todos estes em Minas Gerais, e no Boqueirão da Pedra Furada, São Raimundo Nonato, Piauí, foram encontradas evidências remotas, anteriores a 10 mil anos.
Atualmente, reivindica-se ao sítio arqueológico do Boqueirão da Pedra Furada, os vestígios mais antigos deixados pelo homem nas Américas. Datações feitas a partir de carvões originados de fogueiras e pedras lascadas indicam uma ocupação humana que remonta a cerca de 60 mil anos. Porém, entre os arqueólogos, é discutido se realmente tais vestígios foram produzidos por homens ou se são resultado de algum tipo de ação natural. Para a arqueóloga Niéde Guidon, que escava a região desde os anos 80, não há dúvidas de interpretação a respeito da ação humana nesse contexto. "Colegas americanos da Texas A & M University, EUA, analisaram as peças líticas e, como nós, as consideram indubitavelmente feitas pelo homem. Para rebater a idéia de que o carvão podia vir de incêndios naturais, fizemos sondagens em todo o vale da Pedra Furada e o carvão somente existe dentro do sítio. Incêndios naturais deixam carvão para todos os lados", explica a pesquisadora.
Para Niéde Guidon, a partir dos vestígios do sítio de Pedra Furada, considerando dados da paleoclimatologia, da paleoparasitologia e da genética, seria possível propor uma teoria sobre a ocupação da América por grupos humanos diferentes, vindo de diferentes regiões, em diferentes épocas, ao longo dos últimos 100 mil anos. Mas, como ressalta a pesquisadora, sua proposta não é a de desvendar as origens do homem americano, mas sim descrever a história do homem na região do sudeste do Piauí.
"Todos partem do pressuposto de que estamos estudando a origem do homem americano. Nosso programa de pesquisa é outro. Iniciei as pesquisas partindo da hipótese de que, tratando-se de uma região de fronteira entre duas grandes formações brasileiras, o escudo pré-cambriano da depressão periférica do São Francisco e a bacia sedimentar Maranhão Piauí do período devoniano-permiano, haveria uma profusão de ecossistemas diferentes, o que aumentaria a quantidade e diversidade dos produtos naturais disponíveis. Esse fato poderia ser o gerador de condições favoráveis para o desenvolvimento de culturas diferentes e, principalmente, de grandes culturas nesta região. Estudamos também todo o processo de evolução climática e da paisagem, desde a chegada do homem até hoje. Essa hipótese se mostrou verdadeira e até hoje estamos descobrindo novos sítios, figuras rupestres que foram comparadas pelos técnicos da Unesco às pinturas das grutas francesas, sendo classificadas como obras primas da humanidade. A quantidade de sítios, de pinturas, gravuras, material lítico e cerâmico demonstra uma presença antiga e contínua. Portanto, se enganam aqueles que pensam que estamos pesquisando para descobrir o mais velho ocupante da América. Se os sítios mais antigos tivessem 9.000 anos continuaríamos com o mesmo programa", diz Guidon.
Achados arqueológicos pré-Clóvis, ou seja, mais antigos que 11.400 anos, também têm ajudado a embaralhar ainda mais outras duas peças do quebra-cabeça sobre a colonização primitiva da América que são: a origem do homem americano e o número de levas migratórias que o trouxeram para o continente. Na década de 80, a explicação mais aceita era fornecida pelo Modelo das Três Migrações, uma combinação de análises dentária, lingüística e de genética clássica. Segundo esse modelo, três populações originárias da Sibéria e do nordeste-asiático - ameríndios, na-denes e esquimós - adentraram respectivamente o território americano há 11 mil, 9 mil e 4 mil anos.
Porém, novos estudos em genética baseados na análise do DNA mitocondrial (mtDNA) e do cromossomo Y de populações indígenas americanas fornecem modelos alternativos sobre os grupos fundadores de novas culturas na América. Os pesquisadores Francisco Salzano (UFRGS) e Sandro Bonatto (PUCRS), baseados em resultados com mtDNA, sugerem uma entrada única no continente, por volta de 16 mil a 20 mil anos atrás. Mas Salzano explica que tais projeções sobre o tempo de presença do homem na América variam conforme a base de referência utilizada para estudos nesse sentido. Citando o exemplo da genética, o pesquisador diz que algumas pesquisas baseadas em análises do cromossomo Y, por exemplo, propõem números diferentes de migrações colonizadoras, uma ou mais, que ocorreram em épocas distintas.
Pesquisas em antropologia física, baseadas no estudo da morfologia craniana, também apresentam modelos distintos de ocupação da América, sugerindo a existência de quatro ondas migratórias ocorridas em períodos diferentes. Em artigo publicado na revista brasileira Scientific American, em agosto deste ano, os pesquisadores Walter Neves e Mark Hubbe, ambos da USP, defendem a idéia de que uma população distinta dos atuais índios americanos adentrou o continente através do estreito de Bering aproximadamente a 15 mil anos. Essa hipótese faz parte da teoria denominada "Modelo dos Dois Componentes Biológicos Principais", segundo a qual houve uma migração não mongolóide, que antecedeu a chegada dos ameríndios, na-denes e esquimós ao continente.
Essa teoria é sustentada pelo antropólogo físico Walter Neves desde meados dos anos oitenta, época em que ele analisou uma série de crânios encontrados no sítio Lapa Vermelha IV, região de Lagoa Santa, Minas Gerais, escavado por franceses e brasileiros sob a liderança da arqueóloga Annete Laming Emperaire, entre os anos de 1974 e 1976. A morfologia desses crânios apresenta traços característicos aos dos aborígines africanos e australianos, que são distintos dos traços característicos de povos com origem asiática, tais como chineses, japoneses e atuais indígenas americanos.

Annete escava local onde foi encontrada a mandíbula de Luzia
Foto cedida por André Prous
A idéia de que o território americano foi ocupado por populações de componentes biológicos distintos ganhou visibilidade com a publicação, em 1998, de um estudo feito por Neves a partir de um esqueleto encontrado na Lapa Vermelha, considerado um dos mais antigos encontrados na América. Com a idade entre 11 mil e 11.500 anos atrás, esse esqueleto pertencia a uma mulher jovem batizada pelos arqueólogos de Luzia. O estado de conservação de seu crânio permitiu a realização de uma reconstituição facial, cuja aparência revela traços semelhantes aos de africanos e australianos.

A busca continua
A origem primitiva do homem americano permanece um mistério para a ciência. Os pesquisadores que procuram desvendá-la, dispõem de escassas evidências e utilizam diferentes bases de referência metodológica (lingüística, arqueológica, antropológica, genética etc), que são difíceis de serem encaixadas num mesmo modelo teórico. De certa forma, as discussões giram em torno de quem possui os dados mais precisos e mais antigos sobre a presença humana em nosso continente. Além disso, os embates científicos parecem estar polarizados pelas velhas teorias de colonização e os novos vestígios arqueológicos encontrados na América do Sul.
Para Niéde Guidon, as teorias sobre a ocupação da América dos anos 50 eram baseadas na falta de dados. "Os dados foram surgindo, mas muitos ficaram aferrados a uma teoria sem bases. Os conhecimentos sobre a pré-história da Europa, da África, mudaram e muito. A cada ano temos novos recuos para o aparecimento do gênero Homo, para as relações genéticas entre Homo e os outros grandes primatas africanos. Somente a teoria americana sobre o povoamento da América não pode ser tocada. Em alguns artigos recentes, a submissão é tal que somente o que é feito pelos americanos pode ser considerado", comenta a arqueóloga.
O arqueólogo André Prous (UFMG), que participou da missão franco-brasileira para a escavação do sítio de Lapa Vermelha IV, onde foi encontrada a Luzia, acrescenta que a determinação de um período para a ocupação do homem na América depende da descoberta de sítios arqueológicos devidamente escavados e interpretados. Diz ele, "o dia em que tivermos sítios, se é que eles irão aparecer, mais antigos e em boas condições, já com vestígios inquestionáveis, com estratigrafias claras e datações precisas, teremos dados mais seguros sobre uma presença bastante primitiva do homem em determinada região. Para isso, é preciso multiplicar os números de pesquisas, procurar supostos sítios pleistocênicos com vestígios preservados etc. Teríamos que ter uma multiplicidade de estudos arqueológicos a esse respeito, pois as pesquisas acadêmicas sobre o tema são raras. Além disso, no final, devemos contar com boa dose de sorte para achar esses locais".

FONTE: Com Ciência Arqueologia e Sítios Arqueológicos