quarta-feira, 3 de julho de 2013

JAPONESES CRIAM FÍGADO DE LABORATÓRIO PARA USO EM TRANSPLANTE ( Artigo Científico )

RAFAEL GARCIA
DE SÃO PAULO

Cientistas japoneses conseguiram recriar pela primeira vez em laboratório um fígado funcional usando células reprogramadas. O órgão humano em fase precoce de desenvolvimento foi então implantado em camundongos com falência hepática, que apresentaram melhora.
A técnica, descrita em estudo na edição desta semana da revista "Nature", foi desenvolvida por Takanori Takebe, da Universidade da Cidade de Yokohama. O fígado foi construído a partir de células de pluripotência induzida (conhecidas como iPS), reprogramadas para se tornarem tão versáteis quanto células-tronco embrionárias.
Elas foram então tratadas para se tornarem hepatócitos, as células operacionais do fígado. E, após serem misturadas a dois tipos de células embrionárias de vasos sanguíneos, começaram a se transformar espontaneamente em pequenos "brotos" de fígado (veja quadro abaixo).
Se o plano dos cientistas der certo, o material pode um dia ser usado no lugar de fígados humanos transplantados para doentes graves.
O que Takebe obteve em laboratório foram pequenos brotos hepáticos, estruturas que são essencialmente fígados em fase embrionária. Implantados na cavidade abdominal de camundongos doentes, eles colonizaram lacunas no órgão danificado e restauraram a função hepática dos animais.
Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress
No experimento, cada camundongo recebeu 12 brotos hepáticos de 4,5 mm cada. Adaptar a técnica para uso em humanos, porém, será mais difícil, pois a ideia é produzir brotos microscópicos que possam ser injetados no sangue. Dessa forma, eles migrariam espontaneamente para o fígado, num procedimento menos invasivo.
"O que consideramos para aplicação clínica é criar dezenas de milhares de brotos hepáticos in vitro, mas isso não está a nosso alcance ainda", disse Takebe ontem em entrevista por teleconferência. "Precisamos criar um sistema de ponta para cultivar em grande escala os brotos hepáticos derivados de células iPS. Isso deve levar uns cinco ou seis anos."
Mesmo que tudo corra bem, diz o cientista, o primeiro teste clínico da técnica em humanos deve ocorrer só daqui a cerca de dez anos.
Além de conseguirem tratar camundongos com falência hepática, os cientistas conseguiram comprovar que os brotos de laboratório, produzidos a partir de células humanas, estavam mesmo se comportando como fígados humanos, e não de roedores.
Isso foi feito numa etapa anterior, na qual os implantes era colocados no cérebro dos animais. O procedimento um tanto quanto bizarro foi necessário para que os cientistas tivessem fácil acesso aos brotos hepáticos para verificar se ele estavam produzindo as proteínas certas, como a albumina.
COQUETEL DE CÉLULAS
O segredo dos japoneses para recriar fígados em laboratório foi usar o "coquetel de células" correto para que o broto hepático se organizasse espontaneamente.

Outros cientistas, que vinham tentando criar órgãos apenas com hepatócitos derivados de células-tronco, não vinham tendo sucesso. No caso do fígado, os dois ingredientes que faltavam eram o tecido de veias de cordão umbilical e as células-tronco mesenquimais (outro tipo de material embrionário).
Segundo Takebe, a mesma técnica deve dar certo para criar também pâncreas, rins e pulmões em laboratório. "Já estamos tentando aplicar essa técnica de auto-organização à formação do pâncreas, e estamos tendo bons resultados", diz o cientista.

FONTE: Folha.com/Ciência

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