quinta-feira, 4 de abril de 2013

AS ÚLTIMAS MULHERES QUE COBRAM PARA CHORAR EM TAIWAN ( Curiosidades )


DA BBC BRASIL
Chorar por vontade própria não é tarefa fácil. Mas é o que faz todos dias Liu Jun-Lin. Ela é a carpideira mais famosa de Taiwan e todos os dias se põe aos prantos em velórios de gente que nunca viu.
Já são poucas as mulheres que choram para ganhar a vida no país, embora cada sessão de choro renda a Liu cerca de R$ 1.200.
A profissão também é polêmica, já que muitos a consideram a comercialização do luto.
BBC
As últimas mulheres que cobram para chorar em Taiwan
As últimas mulheres que cobram para chorar em Taiwan
Liu lembra que se trata de uma profissão antiga. Segundo a tradição taiwanesa, os mortos precisam de uma despedida ruidosa para passar à outra vida.
"Quando um ente querido morre, tudo é tão dolorido que na hora do funeral já não restam lágrimas", diz Liu.
"Como é que se muda o estado de ânimo para demostrar toda essa tristeza?', questiona Liu.
Ela mesmo responde dizendo que sua profissão ajuda a família a dar o tom adequado à despedida.
A tradição teria começado quando as mulheres da família muitas vezes estavam distantes na hora dos funerais, por viverem em outras cidades.
Para substituir o choro das mulheres, as famílias passaram a contratar carpideiras.
Os tradicionais funerais taiwaneses são elaborados e combinam um luto sombrio com outro de tom mais alegre.
Além de chorar, Liu e sua equipe de carpideiras se vestem com roupas coloridas e fazem alguns passes de danças quase acrobáticos. Seu irmão, A Ji, toca instrumentos de corda tradicionais.
Liu depois se veste de branco e se acerca ao caixão. Ali realiza seu choro mais conhecido, enquanto o irmão toca órgão.
Os grunhidos são prolongados e abafados, uma mescla de choro e canto.
Perguntada sobre como faz brotar as lágrimas em seu rosto, ela insiste em dizer que é um choro real.
"Em cada funeral eu sinto que a família é minha família, e coloco meus próprios sentimentos alí", diz.
"Quando vejo as pessoas aflitas, fico ainda mais triste".
Negócio familiar
Com suas grandes sobrancelhas e voz de soprano, Liu, de 30 anos, parece mais jovem do que é.
E a boa aparência ajuda na profissão segundo Lin Zhenzhang, diretor de uma funerária na qual Liu trabalhou por anos.
"Geralmente pensamos que este é um trabalho para mulheres de outra geração. Mas Liu é jovem e bonita, e desperta a curiosidade das pessoas", diz.
A avó e a mãe de Liu eram carpideiras profissionais. Ele casa ela imitava a mãe durante os ensaios.
Os pais de Liu morreram quando ela era ainda uma criança, deixando-as aos cuidados da avó.
Para ajudar na renda familiar, Liu passou a chorar aos 11 anos.
Ela conta que se levanta antes do amanhecer para ensaiar e muitas vezes trocava a sala de aula por velórios.
No colégio, os colegas também faziam piadas de sua profissão, conta.
E mesmo durante o trabalho, a função nem sempre é fácil.
"As vezes, antes de começar, as famílias dos falecidos não nos tratam bem. Mas depois da atuação, eles choram e nos agradecem", diz.
É nesta ocasião que Liu se dá conta do verdadeiro propósito de seu trabalho, conta.
Profissão em extinção
Liu conta que seu trabalho "ajuda as pessoas a se soltarem e dizer em voz alta o que não se atrevem", explica.
"Também ajudou quem não se atreve a chorar, porque ao fim todos choramos juntos", diz.
Graças ao choro de Liu, os negócios prosperam. Hoje cada um de seus irmãos tem uma casa e todos são partes da equipe funerária.
Mas Liu sabe que esta é uma profissão em extinção, por causa da preferência por funerais mais simples.
Ela já está mudando o perfil dos negócios. Hoje os 20 funcionários de sua empresa trabalham sobretudo no embalsamento de corpos e na organização de funerais.
Mas ela diz que nunca vai deixar de ser carpideira.
"É algo que me levou muito tempo para construir, desde o zero, com minha avó. Devo ensinar a outras pessoas o que ela me ensinou e seguir com a tradição", diz. 

FONTE: Folha.com/BBC Brasil

Nenhum comentário: