23/05/2013
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03h30
REINALDO JOSÉ LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Dois fósseis aparentemente insignificantes --uma mandíbula e um único
dente-- acabam de ajudar os cientistas a traçar um quadro mais claro da
origem do grupo de primatas ao qual pertence o homem.
Ambos os fósseis têm 25 milhões de anos. O primeiro representa o mais
antigo hominoide, ou grande macaco --animais como chimpanzés, gorilas,
orangotangos e o Homo sapiens. Já o segundo é o mais velho entre os macacos com rabo do Velho Mundo, animais como babuínos e resos, por exemplo.
Ilustração Mauricio Antón/Divulgação |
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Reconstrução artística do Rukwapithecus (à esq.) e do Nsungwepithecus (à dir.) |
A pesquisa descrevendo os fósseis está na revista científica "Nature" e
tem como primeira autora Nancy Stevens, da Universidade de Ohio (EUA).
Os dois bichos viviam na Tanzânia, na África Oriental --região que já é
famosa por outros fósseis importantes para entender a evolução humana.
Para quem acha estranho que cacos tão diminutos sejam usados para
batizar duas espécies, é importante lembrar que, no caso dos mamíferos,
as características da mandíbula e dos dentes são muito típicas de cada
animal, ajudando a inferir não apenas sua dieta como também, em geral,
suas relações de parentesco.
Em entrevista à Folha, Stevens contou que o maior dos bichos, o hominoide Rukwapithecus fleaglei, devia ter uns 12 kg. É mais difícil estimar o tamanho do outro macaco, o Nsungwepithecus gunnelli, já que ele é só conhecido com base num dente, mas ele devia ter um pouco menos do que isso.
Os bichos viviam num ambiente um tanto apocalíptico: montanhas
vulcânicas ladeavam uma região semiárida, na qual também havia pântanos e
lagos. Na época, já estava começando a surgir o imenso vale que
caracteriza a África Oriental de hoje, formado pelo afastamento de duas
placas tectônicas --era isso o que gerava o vulcanismo na região.
E essa pode ser uma das peças do quebra-cabeça para explicar por que,
afinal, os macacões ancestrais do homem surgiram nesse momento,
separando-se dos macacos com cauda.
"Antes, havia ali inúmeros primatas relativamente pequenos", conta
Stevens. "Milhões de anos mais tarde, quando a África se encontra com a
Ásia [antes, o continente era uma ilha], surgem primatas de maior
tamanho, e uma das ideias é que eles tivessem evoluído para se adaptar à
competição com a fauna asiática que invadiu a África."
No entanto, o notável a respeito das novas espécies é que elas já são
grandinhas. "Isso pode indicar que a formação do vale e dos vulcões na
região criou ambientes heterogêneos, que favoreceram a diversificação
dessas espécies", diz o australiano Eric Roberts, geólogo da
Universidade James Cook que é coautor do estudo. "Mas ainda não temos
certeza disso."
FONTE: Folha.com/Ciência
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