domingo, 1 de janeiro de 2012

O FIM ESTÁ PRÓXIMO ! ( "Conhece São Francisco? Nunca foi a Tóquio ou Veneza? Então aproveite as férias escolares e faça as malas já. Nas próximas décadas, vários cartões-postais famosos correm o sério risco de desaparecer, devastados por vulcões, terremotos e outras catástrofes" )

AMBIENTE
Ilustrações: Otavio Silveira Luciano Veronesi

corra!

O fim está proximo!

Conhece São Francisco? Nunca foi a Tóquio ou Veneza? Então aproveite as férias escolares e faça as malas já. Nas próximas décadas, vários cartões-postais famosos correm o sério risco de desaparecer, devastados por vulcões, terremotos e outras catástrofes


Tiago Cordeiro
Mundo Estranho - 07/2011
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CIDADE MARAVILHOSA SUBMARINA
Rio de Janeiro pode perder suas praias com a elevação do nível do mar


Estimativas científicas preveem que, ao longo dos próximos 100 anos, o nível dos oceanos deve subir, em média, 1,60 m. No Rio de Janeiro, a situação pode ser pior. Só na década passada, a estação de medição de Macaé, a 180 km da capital, registrou um aumento de 15 cm (enquanto a média mundial foi 17 cm, mas ao longo de todo o século 20!). O Ministério do Meio Ambiente já considera a região uma das mais frágeis do litoral brasileiro. O urbanista britânico Gordon McGranahan, do International Institute for Environment and Development, concorda. "O Rio tem uma grande faixa de terras em níveis baixos e por isso apresenta altíssimo risco. No pior cenário, de derretimento da Groenlândia, o mar pode subir até 12 m."

Veja como o desastre alteraria a cidade:


Que calor!

A temperatura do Rio deverá subir 4,8 oC até 2101, podendo chegar a 30,8 oC na média durante o verão, com máximas de 42,8 oC! O aquecimento global deverá alterar a geografia de 10% da área total do município (cerca de 118 km2, ou o equivalente a toda a Barra da Tijuca!)
Áreas de risco Para o Instituto Pereira Passos, que cuida da cartografia da cidade, uma das áreas mais atingidas vai ser a Barra da Tijuca. Já o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) fez um estudo que aponta outra vítima: o complexo de lagoas de Jacarepaguá, que deve desaparecer
Futevôlei vai virar biribol A Baixada Fluminense e a região de Niterói também correm o risco de acabar submersas. A praia do Arpoador, além de enfrentar as mudanças climáticas, sofre com um vizinho: ela vem perdendo grandes quantidades de areia para o Leblon

LÁ FORA É MUITO PIOR
Em Miami, nos EUA, o caos vai rolar bem antes

Até 2026

Com o mar 20 cm mais alto (uma estimativa perfeitamente possível segundo estudiosos), 65% da rede de esgotos seria inutilizada. O sistema de água potável também sofreria
Até 2061

A cidade perde 10% de sua área e 1,5 milhão de moradores ficão desabrigados. O arquipélago de Florida Keys, a 25 km da costa, é engolido pelas águas
Até 2151

Com o mar 3 m mais alto, 91% da área urbana está arrasada. A vida na atual 11a maior economia dos EUA se torna praticamente inviável

A TRAGÉDIA SE REPETE
São Francisco tem 75% de chance de sofrer um grande terremoto até 2086


Em 1906, um abalo de 7,9 graus na escala Richter quase acabou com São Francisco, nos EUA. De seus 400 mil habitantes, 225 mil ficaram desabrigados. A história tem tudo para se repetir, com consequências piores, até 2086. Pesquisadores da Universidade da Califórnia estimam que a chance de um abalo acima de 7 graus é de 75%. "Nosso software analisou o histórico da região e a provável movimentação das placas tectônicas", diz o cientista da computação John Rundle. Associado ao baixo crescimento vegetativo da população nos últimos 50 anos, o terremoto poderia tornar o lugar uma cidade fantasma

Falha gigante
Cidade está em zona de atrito de placas tectônicas

1. São Francisco está situada entre duas das principais placas tectônicas (ou litosféricas) que compõem o planeta: a do Pacífico e a da América do Norte. A região é chamada de falha de San Andreas
2. As placas não são fixas: elas são impulsionadas pelo movimento do magma incandescente no interior da Terra. Uma trombada entre placas produz um choque, como em uma batida de carros
3. Essa energia é dispersada na superfície em forma de ondas sísmicas, que fazem o chão (e tudo mais) tremer

TEMPO-ESGOTADO?
Veneza tenta última cartada para impedir o avanço das águas


As 116 pequenas ilhas que compõem Veneza, na Itália, parecem não mais suportar o peso dos 270 mil moradores e 3 milhões de visitantes a cada ano. No século passado, o solo cedeu 24 cm. Até 2050, vai afundar mais: de 20 a 50 cm, na estimativa das autoridades locais - considerada conservadora por muitos especialistas. "O processo de afundamento está acelerado", diz o arqueólogo americano Albert Ammerman, da Universidade Colgate, que publicou um estudo com previsões catastróficas na revista Science em 2000. "Aquele trabalho se baseava em certa expectativa de aumento do nível do mar. Hoje, 11 anos depois, sabemos que a água subirá ainda mais. Veneza não chegará inteira ao século 22", conclui

Represa automática
Governo aposta em barragens hidráulicas, mas obras já estão atrasadas

1. Todo outono, o mar Adriático sobe de nível e alaga partes da cidade, como a famosa praça São Marcos. O fenômeno, conhecido como "acqua alta", é maior a cada ano - em 2009, atingiu patamares nunca antes vistos
2. Desde 2003, o governo concentra suas esperanças no Módulo Experimental Eletromecânico (cuja sigla italiana, MOSE, faz referência a Moisés, que dividiu o mar Vermelho). Depois de vários atrasos, a promessa é que ele comece a funcionar em 2014
3. O MOSE são 78 barreiras móveis nas três entradas para o lago de Veneza, que circunda a cidade. Quando a água ameaçar subir, elas serão acionadas por um sistema de bombas hidráulicas, protegendo a cidade
4. O arqueólogo Albert Ammerman tem dúvidas sobre a eficácia da iniciativa. Enquanto isso, as autoridades têm reforçado as fundações dos edifícios de maior risco. Pesquisadores da Universidade de Pádua propõem injetar água salgada no solo para fazê-lo "inchar" e se tornar mais compacto

A PRÓXIMA POMPEIA
Erupções cíclicas do Vesúvio podem aniquilar Nápoles


Para os napolitanos, na Itália, uma sinistra contagem regressiva já começou. O vulcão Vesúvio, que tem entrado em erupção a cada 100 anos, em média, só tem mais 33 anos para completar seu ciclo - o último ataque foi em 1944. Ele já fez uma vítima famosa, no ano de 79 d.C.: a cidade de Pompeia. Se uma tragédia tão grande quanto a de 20 séculos atrás rolar de novo, atingirá uma região com 4 milhões de pessoas (500 mil só na "zona vermelha", a mais próxima ao vulcão). O Vesúvio já vem demonstrando atividade intensa nos últimos anos e o governo italiano prevê algo parecido com a erupção de 1631, que lançou cinzas num raio de 7 km

Por dentro e por fora
Veja como um vulcão explode e quais áreas serão afetadas pelo Vesúvio


1. Assim como os terremotos, vulcões do tipo explosivo também acontecem na fronteira entre placas tectônicas. O Vesúvio é resultado do encontro entre a placa da África e a da Eurásia
2. A movimentação e acomodação das placas pode alterar a pressão exercida sobre o magma, nas camadas inferiores. É isso que provoca a erupção. Na saída, o magma (que passa a ser chamado de lava) se mistura com a água do mar, lançando poeira, gases e vapor na atmosfera
3. O golfo de Nápoles tem 18 km de extensão e abriga também as ilhas de Ischia, Procida e Capri. É um importante destino turístico por causa das ruínas de Pompeia
4. A erupção de 79 d.C., além de aniquilar Pompeia, tirou do mapa a cidade de Herculano. Estábia e Oplontis também foram seriamente atingidas
5. A explosão de 1906 foi a que levantou a maior quantidade de lava já registrada na história do Vesúvio. Matou 100 pessoas. A de 1944 destruiu as vilas de San Sebastiano al Vesuvio, Massa di Somma e Otaviano e partes de outras localidades, como San Giorgio e Cremano

Já era
Várias cidades importantes já desapareceram
Casos como o de Pompeia são comuns ao longo da história. "A maioria dos grandes centros urbanos do passado deixou de existir por algum motivo. Sobreviventes como Roma, Pequim e Jerusalém são exceções", diz a economista Cristina Martinez-Fernandez, pesquisadora da University of Western Sydney. O reino de Tambora, na Indonésia, e a cidade grega de Akrotiri também foram destruídas por um vulcão. Em outros casos, o problema é o declínio da civilização ou uma derrota militar - como ocorreu com Chichen Itza (México), Machu Picchu (Peru), Petra (Jordânia) e Angkor (Camboja).

Enquanto isso, no pé da bota...
Vulcão na Sicília ajuda na agricultura


Se o Vesúvio acordar de vez, não será o único "esquentadinho" no território italiano. O Etna, na ilha da Sicília, já tem passado as últimas décadas em constante atividade. Em maio deste ano, houve mais uma erupção, cujas cinzas lançadas no ar forçaram o fechamento do aeroporto de Catania. Mas ele não é considerado muito perigoso porque sua lava escorre por uma área desabitada. E ele até ajuda na economia local: além de atrair turistas, suas cinzas fertilizam o solo.

E O VENTO LEVOU
Próximos furacões em Nova Orleans devem ser piores que o Katrina


Em 2005, o furacão Katrina destruiu 80% da área de Nova Orleans, nos EUA. Seus ventos de 280 km/h provocaram uma inundação cujas águas atingiram 4,50 m de altura. A tragédia teve várias causas, como a falha nas comportas que deveriam ter retido a enchente e o fato de mais da metade da cidade ficar abaixo do nível do rio Mississippi. Mas uma delas é inalienável (e tende a piorar): a força dos furacões no golfo do México. "Nunca na história ventos tão fracos se tornaram furacões tão violentos. Foi o caso do furacão Dennis, de 2005", diz Eric Blake, especialista do National Hurricane Center

Funis de destruição
Fenômeno é causado por mudanças de temperatura e pressão

1. Um furacão surge quando a água evapora em quantidades gigantescas, geralmente no meio do oceano, em lugares quentes e com ventos calmos. Por causa do aquecimento global, esses fenômenos devem ficar ainda mais agressivos nos próximos anos
2. O calor faz a água evaporar, e o ar quente e muito úmido sobe. Na atmosfera, o vapor se condensa (virando nuvem e chuva). Mas, nesse processo, libera calor latente, que aquece o ar frio ao redor
3. O ar aquecido sobe, sendo substituído por mais ar quente e úmido vindo do oceano, reiniciando o ciclo. Eventualmente, essa troca provoca uma diferença de pressão, que cria um padrão de vento circular, alimentado por outros ventos convergentes. Eis um furacão!

VARRIDA PELO MAR
Desastre em Tóquio de março deste ano pode acontecer de novo até 2061


Em março, o terremoto seguido por um tsunami que atingiu Tóquio mostrou o quanto até mesmo um país precavido como o Japão sofre diante da fúria da natureza. O pior é que a capital está sujeita a pelo menos outro incidente similar nos próximos 50 anos. Desde 2007, o instituto de pesquisas americano Worldwatch Institute tem uma lista de 33 metrópoles costeiras que podem ser muito prejudicadas pelo aquecimento global. Tóquio já era considerada uma das mais ameaçadas - e, com o nível do mar subindo, os terremotos que constantemente afligem a região vão gerar tsunamis piores. "Tóquio é o maior caso de sucesso na preparação contra catástrofes, mas sua história sempre vai ser marcada por tragédias", diz a cientista política Patricia McCarney, professora da Universidade de Toronto

Prédio antiterremoto

Recursos de engenharia tentam evitar desabamentos
Amortecedores

Os chamados "amortecedores de massa sintonizados" fazem oscilar blocos de concreto ou metal, que contrabalanceiam vibrações mecânicas
Fibras externas

Essa malha reforça a fachada e previne rachaduras no concreto
Redes de metal

Fixadas do lado de fora das janelas ou colocadas entre duas placas de vidro, reduzem a quantidade de estilhaços
Estrutura de apoio

Desenvolvido na Universidade de Stanford em 2009, o sistema usa escoras e cabos de aço para dissipar parte da energia do abalo, diminuir danos e agilizar a reocupação
Molas e cilindros hidráulicos Instalados na fundação, ajudam a absorver o impacto dos tremores

UM BRINDE À DESTRUIÇÃO
Extração de água do subsolo tem feito a Cidade do México afundar a cada ano

Cada vez que bebem um gole de água, os moradores da Cidade do México estão contribuindo para destruir seu lar. Destruir mesmo: a terceira maior metrópole do mundo tem bairros que afundaram 9 m nos últimos 100 anos. Ela foi construída sobre um complexo hidrográfico, no lago Texcoco, e o crescimento nas últimas décadas vem fazendo o solo ceder. Além disso, 70% da água consumida pelos 18 milhões de habitantes vem dessa rede de rios e lagos subterrâneos. "Mesmo que a cidade não desabe em breve, a falta de água será crônica em 20 anos", afirma Ismael Herrera, geofísico da Universidad Nacional Autónoma de México

No buraco
Saiba por que o solo está cedendo sob a capital mexicana


1. A origem da cidade está ligada a Tenochtitlán, capital asteca. Instalada em uma ilha plana no centro do lago Texcoco, ela tinha três grandes pontes de acesso e um sistema de diques que servia para proteção e fornecimento de água
2. Conquistada em 1521, Tenochtitlán foi arrasada pelos espanhóis, que não queriam deixar registro de sua existência. A Cidade do México se desenvolveu sobre essas ruínas. Os lagos foram aterrados nos trechos mais rasos e cobertos em partes mais fundas
3. Entre as áreas da cidade sob maior risco estão a sede do Congresso, a Bolsa de Valores e o maior aeroporto do México. Atualmente é comum encontrar calçadas, ruas e edifícios cheios de rachaduras
4. O país corre para evitar que a cidade afunde. Uma rede com 60 km de túneis está sendo construída para facilitar o escoamento de água da chuva, que tem deixado o solo ainda mais fragilizado
5. Igrejas no centro histórico estão ganhando injeções de toneladas de concreto sob suas fundações. E os lagos subterrâneos estão sendo drenados: sai a água (reservada para consumo) e entram terra e concreto

DESASTRES ECONÔMICOS

Em alguns destinos, a força da grana pode ser pior que um desastre natural


Detroit Antes conhecida como a capital automotiva dos EUA, está virando uma cidade fantasma. Desde 1950, já perdeu dois terços de sua população. A culpa é a falta de emprego. "Locais com grande vocação industrial no século 20 agora sofrem concorrência de outros pontos do mundo, como a China", diz Jasmin Aber, urbanista e pesquisadora do Shrinking Cities International Research Network

Ivanovo

Mais um caso de devastação causada pelo desemprego. Há 20 anos, esta cidade russa tem mais homens que mulheres. A previsão é que esteja totalmente vazia em poucas décadas. Algo similar está rolando em Leipzig, na Alemanha, e em Manchester e Liverpool, na Inglaterra. "Se elas não conseguirem se reinventar, vão desaparecer, porque as pessoas vão simplesmente fazer as malas e ir embora", diz Aber

Ilha de Páscoa

Localizada na Polinésia Francesa, mas pertencente ao Chile, esta ilha ficou famosa pelos moais, as estátuas gigantescas erguidas pelo povo rapanui. A curiosidade alheia, porém, está destruindo esta herança histórica: o total de visitantes anuais saltou de 5 mil, em 1995, para 60 mil, em 2009! Além do aumento no vandalismo contra os pontos turísticos, há sobrecarga na infraestrutura da ilha, cuja população fixa é só de cerca de 4.800 pessoas

Galápagos

No arquipélago visitado por Charles Darwin, com 2 mil espécies exclusivas de animais, o total de visitantes subiu 200%: de 40 mil, em 1996, para 120 mil, em 2010. Para piorar, a população local também está crescendo. Tanta gente afeta o equilíbrio ecológico: 180 das 500 plantas nativas estão ameaçadas e o lixo, cada vez em maior quantidade, agora é queimado a céu aberto
• Se o mar realmente subisse 12 m, a água chegaria ao quarto andar dos prédios que ficam na beira da praia na Zona Sul
• A tragédia no Florida Keys já está rolando: uma floresta de pinhos nas ilhas já está alagada
• As cheias do Mississippi também estão maiores. A previsão é que Nova Orleans perca pelo menos 15% de sua área para a água até 2100
• Entre 1970 e 2000, a região foi atingida por sete furacões do nível 5, o mais alto. Entre 2001 e 2010, foram oito

Fontes - Peter W. Harlem, pesquisador do Southeast Environmental Research Center da Florida International University; Ismael Herrera, geofísico da Universidad Nacional Autónoma de México; Albert Ammerman, professor da Universidade Colgate; Cristina Martinez-Fernandez, pesquisadora da University of Western Sydney; Patricia McCarney, professora da Universidade de Toronto; Ministério do Meio Ambiente, International Institute for Environment and Development, Instituto Pereira Passos, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, National Hurricane Center, Shrinking Cities International Research Network e relatório Global City GDP Rankings 2008-2025, da Pricewaterhouse Coopers
 
FONTE: Revista Planeta Sustentável 

Um comentário:

Unknown disse...

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