segunda-feira, 4 de abril de 2011

OS BICHOS DA SÊCA ( Animais do semi-árido nordestino ) "Parte 1"

Revista CHC | Edição os-bichos-da-seca

Os bichos da seca

Conheça os mamíferos típicos da caatinga, no Nordeste brasileiro!
Por: Pablo Rodrigues Gonçalves, Departamento de Vertebrados, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro
Publicado em 15/05/2002 | Atualizado em 03/08/2010
Os bichos da seca
(Ilustração: Maurício Veneza).
Passe o protetor solar e coloque um chapéu. Capriche no desodorante. Encha vários cantis com água. E esqueça o guarda-chuva. Vamos para um lugar onde o sol é escaldante, a temperatura chega a 40º C, há pouca água e chove raramente. Mesmo assim, é habitado por vários animais! Aposto como você já imaginou um imenso deserto cheio de camelos. Mas não é preciso levar a imaginação tão longe para descobrir qual é o nosso destino! Basta pensar na caatinga, um ecossistema típico do Nordeste brasileiro, que reúne todas essas características e onde vivem diversos mamíferos! Quer conhecê-los? Então, diga "muito prazer"!
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Observe, em amarelo, a área do território brasileiro ocupada pela caatinga.
Devido à pouca quantidade de chuvas, a caatinga também é chamada de semi-árido brasileiro. Esse ecossistema ocupa os estados do Ceará, do Piauí, de Pernambuco e da Bahia, parte da Paraíba e de Alagoas e o norte de Minas Gerais.

Viver na caatinga, onde a água existe em pouca quantidade, não é fácil. Plantas, como os cactos, conseguem resistir porque se adaptam ao ambiente -- armazenam ou evitam ao máximo perder água.  Será que os animais também são capazes de suportar as altas temperaturas diárias e a falta de chuva?

Os biólogos estimam que cerca de 140 espécies de mamíferos -- na maioria, morcegos e roedores -- vivam na caatinga. Aproximadamente 19 delas são encontradas apenas nesse ecossistema. Preferência pela vida dura? Nem tanto! Os mamíferos que habitam somente a caatinga usam algumas estratégias para garantir sua sobrevivência!

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O mocó pode medir até 40 centímetros de comprimento. Mas é dócil e não ataca quem chega perto (foto: Gisele M. Lessa).
O roedor Kerodon rupestris , mais conhecido popularmente como mocó, por exemplo, vive entre rochedos e lajes de pedra, onde há sombra e maior umidade. Assim, está protegido do intenso calor da caatinga. O fato de o mocó evitar a exposição excessiva ao sol garante a sua sobrevivência, mesmo quando a seca é prolongada. Os abrigos que esse mamífero constrói para si e para os seus filhotes são encontrados, freqüentemente, em buracos ou fendas entre as pedras. A gestação do mocó dura 75 dias e, normalmente, apenas um filhote nasce.

Para encontrar um mocó, basta procurar fezes em cima de rochedos ou manter os ouvidos atentos. Esse roedor emite sons de alarme quando se sente ameaçado. Então, não se assuste com o barulho e... nem com o tamanho do mocó! Apesar de o Kerodon ser relativamente grande para um rato -- na idade adulta, ele pode atingir 50 centímetros de comprimento e pesar um quilo --, o mocó é extremamente dócil e não ataca quem se aproxima dele.

Outro roedor que chama a atenção no semi-árido brasileiro é o Wiedomys pyrrhorhinos . Por causa da cor avermelhada do seu focinho, ele ganhou o nome popular de rato-bico-de-lacre. Ele tem uma cauda longa e peluda, que usa para se equilibrar quando escala árvores para buscar alimento ou construir seus ninhos. Apesar de ter essa habilidade, o rato-bico-de-lacre locomove-se, em geral, pelo chão.

Ao contrário do mocó, o rato-bico-de-lacre não é encontrado apenas em rochedos. Ele também habita outros ambientes dentro da caatinga, como áreas -- chamadas caatinga baixa -- onde há muitos arbustos pequenos. Por essa razão, o rato-bico-de-lacre constrói seus abrigos em lugares variados e usa, para fazê-los, desde restos de cupinzeiro até ninhos abandonados de passarinhos. Às vezes, é possível encontrar de oito a 13 roedores vivendo no mesmo refúgio.

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