quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

TECNOLOGIA LÍTICA DE POVOS DA ATUALIDADE ( Machados de Pedra Polida "Cerimoniais"/Povos de Papua Nova-guiné-OCEANIA )

MACHADOS CERIMONIAIS

Uma das tradições na região das montanhas é o uso de machados com ponta de pedra. Até bem pouco, as guerras tribais faziam parte do cotidiano de Papua Nova Guiné (PNG) e seria um risco sair de casa sem nenhuma proteção. Hoje as batalhas entre clãs diminuíram bastante, mas os machados continuam sendo um símbolo para os homens que vivem nas montanhas. Qualquer ancião, chefe ou guerreiro precisa ter uma arma desse tipo em suas mãos ou em sua cintura.
Os machados mais famosos são os de Mount Hagen, onde estamos. O cabo do machado é de madeira, na qual é amarrada uma pedra polida. Essa pedra pode ser antiga e ter passado por várias gerações. Do lado oposto à pedra (como se o machado tivesse dupla face) coloca-se outro artefato. Pode ser um pedaço de osso afiado ou uma madeira pontiaguda. Tanto a pedra polida como a madeira ou o osso são amarrados com ratan ou qualquer outra fibra, para que fiquem bem presos ao cabo.
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O machado é parte inseparável do homem das montanhas de PNG
Em Paiakona, um vilarejo de 500 habitantes (sobre o qual falarei bastante nessas próximas semanas), encontro Gabriel Kuk, de 50 anos. Ele mora em Pogla, um outro vilarejo, a um par de horas dali, onde planta café. Quase todos os vilarejos nas montanhas de Mount Hagen possuem um Centro Cultural. Kuk é um dos líderes da organização. Ele veio a Paiakona para participar de um sing-sing. Junto, veio seu machado cerimonial.
Fico encantado com o machado. Kuk tira o artefato da cintura e me explica como foi confeccionado. Diz que a pedra, quando é esverdeada como esta, é boa e dura. Sua brincadeira preferida é fingir que vai abrir meu crânio com o machadinho. Durante os três dias que estamos no mesmo vilarejo, sempre que Kuk me vê, ele chega perto e me mostra o machadinho. Faço questão de tomá-lo nas mãos, dizer que é uma arma potente e também elegante. E sempre devolvo. Jamais falamos de compra ou venda.
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Gabriel Kuk, que vive em Pogla, viajou com seu machado até Paiakona
No último dia, Kuk me entrega o machado. Depois de tantas conversas sobre o artefato, ele tem certeza que eu vou apreciar. “Quero que você leve um pouco de PNG para seu país”, afirma Kuk. Também sei que só posso aceitar se der algo em troca. Considerando que minhas únicas armas são as Nikons, das quais eu não posso me separar, a única solução é dar a Kuk algumas dezenas de Kinas. Kina é uma concha que, durante muito tempo, foi usada como moeda corrente nas montanhas. Mas, a partir de 1975, também é o nome da moeda do país…

FONTE: Revista ÉPOCA/Haroldo Castro.

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