20/03/2013
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10h31
DA BBC BRASIL
Maria Toorpakai Wazir, de 22 anos, é uma jogadora de squash com uma promissora carreira internacional.
Nascida no Waziristão, uma região altamente conservadora do Paquistão,
ela teve de se fazer passar por um menino quando decidiu abraçar o
esporte. Depois, sofreu inúmeras ameaças por praticar squash usando
shorts.
Divulgação |
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Maria Toorpakai, melhor jogadora de squash do Paquistão |
''Sou uma guerreira, nasci uma guerreira. Morrerei uma guerreira'', afirma.
Maria Toorpakai é corajosa. E teve de ser para jogar squash em uma região em que até a educação escolar é negada a meninas.
Quando ela tinha quatro anos de idade, teve de vestir as roupas de seu
irmão, cortou os cabelos curtos e teve todas suas roupas de meninas
queimadas.
''Meu pai começou a rir e disse, 'Lá vamos nós, temos um Gengis Khan na
família''', conta ela, em referência ao guerreiro mongol do século 12.
Ao ficar mais velha, Maria constantemente se envolveu em brigas. Ela
conta, no entanto, que essa foi a forma pela qual ela acabou fazendo
amigos. ''Minhas mãos, cotovelos e joelhos estavam sempre sangrando. Meu
rosto e meus olhos estavam sempre inchados.''
'Gengis Khan'
Há dez anos, quando estava com 12, seu pai decidiu canalizar as energias
da jovem para o esporte, mais especificamente para o levantamento de
peso.
''Ele ficava meio constrangido em contar às pessoas que eu era uma
menina, por isso, dizia: ''Esse é meu filho e o nome dele é Genghis
Khan'', lembra Maria.
Após alguns meses, ela foi registrada em um torneio para meninos - e venceu.
''Ter dado a ela um falso nome de menino permitiu que ela participasse
dos jogos que queria'', afirma o pai de Maria, Shamsul Qayyum Wazir.
"Na época, alguém me disse que se ela continuasse a levantar pesos, ela
não cresceria mais, e iria ficar atarracada e pesada. Então, eu
incentivei o interesse dela pelo squash'', afirma o pai.
Squash é um esporte popular no Paquistão e o país já produziu vários
campeões mundiais. As paquistanesas também jogam, ainda que não no
Waziristão ou em outras áreas tribais altamente conservadoras.
Divulgação |
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Atleta fingiu ser menino para não sofrer represálias de islâmicos extremistas |
AMOR À PRIMEIRA VISTA
Maria conta ter se apaixonado pelo esporte logo que assistiu a uma
partida. ''Eu gostava de como os meninos tinham determinação, gostava
das belas raquetes, das bolas de squash, dos uniformes.''
Seu pai a levou para uma academia de squash em Peshawar, administrada pela Força Aérea Paquistanesa.
Em seu primeiro mês praticando squash, as pessoas não sabiam que ela era
uma menina. Quando a verdade veio à tona, outros jogadores começaram a
provocá-la.
''Eles costumavam me provocar, falar palavrões. Era intolerável e desrespeitoso, um bullying extremo'', lembra a jovem.
Ela não desistiu. Se trancava na quadra de squash e jogava por horas, da
manhã até a noite, mesmo terminando com as mãos inchadas e até
sangrando.
O esforço foi recompensado. Ela venceu vários campeonatos juvenis e se
tornou profissional em 2006. No ano seguinte, recebeu uma premiação do
presidente do Paquistão.
A exposição também rendeu problemas a ela e à sua família na tensa região em que ela vive.
As forças paquistanesas têm lutado para manter controle sobre as tensas
regiões tribais ao longo da fronteira do Paquistão com o Afeganistão,
que abriga militantes da milícia islâmica extremista Talebã.
Divulgação |
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Maria, de 22 anos, é uma jogadora de squash com uma promissora carreira internacional |
VIOLÊNCIA CONTRA MENINAS
Foi nessa região fronteiriça que, em outubro de 2012, um atirador ligado
ao Talebã feriu gravemente na cabeça a blogueira Malala Yousafzai, de
14 anos, que militava pelo direito de meninas irem à escola.
''Na nossa região, meninas não podem nem mesmo deixar as suas casas'',
explica o pai de Maria. ''Elas usam véu o tempo todo e estão sempre
acompanhadas de homens de sua família. Quando as pessoas viram Maria e
perceberam que ela não usava véu e jogava de shorts, ficaram chocadas.
Eles disseram que ela trazia desonra para nossa tribo e criticaram-na
muito por isso.''
Uma carta contendo ameaças foi deixada no carro do pai da jovem, dizendo
que jogar squash era ''anti-islâmico'' e que se ela não abandonasse a
prática do esporte sofreria ''graves consequências''.
Mas a Federação Paquistanesa de Squash forneceu à jovem atleta
segurança, montando um posto de controle próximo à sua casa, e
posicionando atiradores de elite perto da quadra onde ela jogava.
Mas Maria começou a temer que poderia estar colocando a segurança de
outros em risco. ''Uma quadra (moderna) de squash tem muito vidro. Se
uma bomba explode dentro da quadra, muitos inocentes poderiam morrer'',
afirma.
BUSCA
Foi então que seu pai decidiu que era melhor enviá-la ao exterior. Para
conseguir isso, ela passou a enviar diariamente, ao longo de três anos e
meio, e-mails para clubes, academias, escolas e universidades no
ocidente. Quaisquer locais que contassem com uma quadra de squash.
Um desses e-mails chegou ao campeão canadense de squash Jonathon Power.
Ele descobriu que ela havia chegado em terceiro lugar no Campeonato
Mundial Feminino Juvenil de Squash. ''Eu mal pude compreender que uma
menina daquela parte do mundo quisesse virar uma profissional de squash.
Mas pensei, 'isso é uma tremenda conquista'. Então, tive de achar uma
maneira de ajudá-la.''
Ele respondeu, se prontificando a ensiná-la a jogar no Canadá.Alguns
meses depois, em 2011, ela chegava a Toronto para começar a treinar com
ele.
''Ela tem talento e determinação para se tornar a melhor jogadora do
mundo. Vai demorar um pouco, ela passou uns quatro anos evoluindo pouco
porque ficava praticando apenas em seu próprio quarto'', afirma.
Mas agora, acrescenta, seu instrutor, ''ela está em um excelente ambiente e conta com pessoas notáveis a seu redor", comenta.
Atualmente, Maria é a melhor jogadora de squash de seu país e ocupa a 49ª posição no ranking mundial feminino.
O pai de Maria não esconde o seu orgulho pela filha.
"O Paquistão e todo o mundo islâmico deveriam estar orgulhosos dela", diz ele.
"Em nossa sociedade as pessoas comemoram quando nasce um menino e
lamentam quando nasce uma menina - essa atitude tem que mudar. Gostaria
que todas as garotas de tribos tivessem as mesmas chances que outras".
FONTE: Folha.com/BBC BRASIL
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