ESPAÇO
Estudo mostra que moléculas essenciais para o surgimento da vida podem ter se formado na superfície de cometas e chegado à Terra por meio deles
Juliana Santos

Cometas e meteoritos podem ter 'adubado' o planeta para o surgimento da vida
(Thinkstock)
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade da Califórnia em
Berkeley e da Universidade do Havaí em Manoa sugere que moléculas
complexas, que deram origem à vida, podem ter chegado à Terra através de
cometas ou meteoritos. Os resultados serão publicados no periódico The Astrophysical Journal no dia 10 de março.
Conheça a pesquisa
TÍTULO ORIGINAL: On the formation of dipeptides in interstellar model icesONDE FOI DIVULGADA: periódico The Astrophysical Journal
QUEM FEZ: R. I. Kaiser, A. M. Stockton, Y. S. Kim, E. C. Jensen e R. A. Mathies
INSTITUIÇÃO: Universidade da Califórnia em Berkeley e Universidade do Havaí em Manoa
RESULTADO: Moléculas orgânicas complexas, como dipeptídeos, que são essenciais para o surgimento da vida, podem ter ser originado na superfície de cometas e meteoritos e ter sido trazidos para a Terra por eles.
O experimento mostrou que as condições do espaço eram capazes de criar
dipeptídeos (par de aminoácidos interligados), essenciais para a
formação de proteínas, enzimas e moléculas mais complexas, que são
necessárias à vida.
Apesar de os cientistas já terem descoberto moléculas orgânicas mais
simples, como aminoácidos, em meteoritos que caíram na Terra, até hoje
não foram encontradas estruturas mais complexas. Por essa razão, a
teoria mais aceita é a de que a "química da vida" teria se originado nos
oceanos primitivos do planeta.
Experimento – Em uma câmara de vácuo, com temperatura
de dez graus kelvin (-263ºC) acima do zero absoluto (menor temperatura
possível, equivalente a -273,15 ° Celsius), os pesquisadores
reproduziram a camada de gelo que recobre a superfície dos cometas,
incluindo dióxido de carbono, amônia e hidrocarbonetos como metano,
etano e propano (compostos de carbono e hidrogênio). Quanto atingidos
por elétrons de alta carga energética, para simular os raios cósmicos no
espaço, os compostos químicos reagiram e formaram compostos orgânicos
complexos.
Os resíduos formados foram analisados em laboratório por um instrumento
ultrassensível de detecção de moléculas orgânicas no sistema solar, que
encontrou nove aminoácidos diferentes e dois dipeptídeos. Para os
autores, essas moléculas poderiam ter chegado à Terra por meteoritos e
cometas, originando a vida como conhecemos hoje.
Opinião do especialista
Douglas Galante
Pesquisador do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron e do Núcleo de Pesquisa em Astrobiologia da Universidade de São Paulo
Pesquisador do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron e do Núcleo de Pesquisa em Astrobiologia da Universidade de São Paulo
"Esse trabalho é de uma área conhecida como Astroquímica, que estuda a
formação de moléculas no meio espacial, seja em nuvens de gás, seja em
fase sólida, como o gelo de cometas ou na superfície de grãos de poeira,
abundantes no meio interestelar. É um estudo interessante e muito
cuidadoso, porém, como tudo em ciência, é baseado em outros trabalhos
anteriores.
"De fato, nós sabemos que por ano caem na Terra toneladas de material
(pequenos meteoros, cometas, poeira) vindo do espaço. A água de nosso
planeta, em grande parte, foi trazida para cá assim. Na formação do
planeta, bilhões de anos atrás, talvez esse processo tenha sido o
responsável por trazer, além da água, o material orgânico necessário
para que a vida surgisse. Por isso, é importante que saibamos quais as
reações e quais moléculas podem acontecer nos cometas, pois isso servirá
de base para dizermos se esse processo seria capaz de 'adubar' nosso
planeta para que a vida tenha surgido.
"Os peptídeos em geral, incluindo os dipeptídeos, são necessários para
a formação de moléculas com função biológica, como as enzimas e
proteínas. Em alguns casos, já foi mostrado que dipeptídeos podem servir
de base para formar açúcares e também para o DNA. Por si só eles não
são capazes de gerar uma célula, mas certamente são essenciais para
formar algo parecido com a vida como conhecemos. É mais uma parte de um
grande quebra-cabeça que ainda estamos montando".
FONTE: Revista Veja/Ciência
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