23/10/2012 - 05h00
Bactérias sobreviveriam a explosão de estrela, diz estudo
SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Cientistas recriaram em laboratório os efeitos de uma supernova --detonação explosiva de uma estrela gigante-- para saber se a vida seria capaz de aguentá-los. Aparentemente, ao menos no que diz respeito à radiação produzida, a resposta é sim, com um pouco de sorte, é claro.
O estudo foi apresentado na 37ª reunião anual da Sociedade Astronômica Brasileira, que ocorreu em Águas de Lindoia (interior de SP).
A bactéria escolhida foi a Deinococcus radiodurans, famosa por sua notável resistência à radiação.
O experimento, conduzido por Douglas Galante, do IAG-USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas), foi realizado no Diamond Light Source, um laboratório de luz síncrotron no Reino Unido.
"Esse é um dos primeiros estudos em que tentamos simular os efeitos biológicos de uma supernova em laboratório", afirma Galante.
O estudo expôs as bactérias a um nível de radiação similar ao que seria gerada num evento de supernova.
PROTEÇÃO
Três modalidades do experimento foram conduzidas, com exposição direta dos micro-organismos e com exposição sob uma camada de grãos de arenito ou basalto. A ideia era verificar se o substrato daria mais proteção às criaturas bombardeadas.
Daí veio a primeira surpresa: aparentemente, tanto o basalto quanto o arenito (em quantidade menor) emitem radiação secundária quando irradiados, o que torna a sobrevivência ainda mais difícil para as bactérias. Viveram mais as que estavam livres.
BOA NOTÍCIA
E a boa notícia é que elas resistiram --ou pelo menos uma parte delas. "Uma supernova estando até cerca de 30 parsecs de distância conseguiria matar 90% de uma população dos organismos mais radiorresistentes que conhecemos", diz Galante.
Um parsec é a medida favorita dos astrônomos e equivale a 3,26 anos-luz, ou 31 trilhões de quilômetros.
O estudo se restringiu aos efeitos da radiação. Nada sobre a onda de choque ou modificações atmosféricas causadas por uma supernova próxima foi investigado, o que torna as estimativas de sobrevivência mais otimistas.
Contudo, também é improvável uma detonação de uma supernova a meros 30 parsecs daqui. E o fato de que, mesmo a essa pequena distância (em termos astronômicos), uma parcela das bactérias pôde resistir mostra que extinguir a vida completamente pode ser bem difícil.
Não que os humanos devessem se confortar. Mas há razão para festa entre as bactérias radiorresistentes.
FONTE: Folha.com/Ciência
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