O mistério do Vale Sagrado dos Incas
Conheceremos um dia o segredo que os antigos andinos possuíam para moldar as pedras de seus templos?
Texto e fotos: Haroldo Castro
Conheceremos um dia o segredo que os antigos andinos possuíam para moldar as pedras de seus templos?
Texto e fotos: Haroldo Castro
O rio Vilcanota no Vale Sagrado dos Incas, pouco antes de sua passagem por Ollantaytambo.
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O Vale Sagrado dos Incas foi criado pelas correntezas do rio
Vilcanota, também chamado de Wilcamayu, ou rio Osagrado. Posicionado no
sentido lesteoeste, ele recebe sol durante o dia e é protegido do frio e
do vento. Por isso, é um dos mais férteis da região de Cuzco. Seu clima
é o que o vale tem de mais sagrado. No século 16, as primeiras
espanholas grávidas saíam de Cuzco para dar à luz ali, onde os bebês
tinham mais chances de sobrevivência.
O vale do Vilcanota está a algumas dezenas de quilômetros da
antiga capital incaica. Para chegar até lá, é preciso atravessar um
pequeno planalto. Nessa região se cultiva muita batata, planta nativa
dos Andes. No inverno, alguns lavradores ainda fazem suas últimas
tarefas no campo, antes de deixar a terra descansar. No povoado de
Chinchero, é interessante não só admirar as muralhas incas, mas também
observar uma camponesa espalhando, na grama do sítio arqueológico, as
batatas recém-colhidas. Em uma semana, o sol forte do dia e a noite
gelada transformarão o tubérculo em chuño, a batata desidratada. É o
modo mais prático para guardar alimento. “O chuño dura pelo menos um
ano. E, para cozinhar, basta adicionar água”, diz a moradora Rosa
Quispe.
A descida de Chinchero até o povoado de Urubamba segue uma
série de curvas sinuosas. O Vilcanota, que nessa época do ano possui uma
coloração esverdeada, está mais próximo a cada virada que damos.
Atravessamos a ponte e continuamos seguindo o rio, em direção a
Ollantaytambo.
Situada em uma das extremidades do Vale Sagrado, Ollantaytambo é
uma das mais belas fortalezas incas. O lugar testemunhou uma vitória
histórica da resistência incaica sobre os conquistadores, logo depois da
tomada de Cuzco. Quando, em 1536, Francisco Pizarro e seu exército se
aproximavam do povoado, Manco Inca mandou desviar o leito do rio. A
estratégia dificultou o avanço das tropas inimigas, principalmente da
cavalaria. Após uma batalha sangrenta, os incas derrotaram os espanhóis.
Mais tarde, a reação foi implacável e os espanhóis dominaram
Ollantaytambo. Manco Inca desapareceu no meio da selva e refugiouse em
Vilcabamba.
Acima: Faustino Espinoza, fundador da
Academia do Idioma Quéchua. Grande conhecedor da cultura indígena, ele
dizia que “os incas cortavam a pedra como se fosse barro mole, como se
fosse manteiga”.
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Uma lenda diz que Ollantaytambo deve seu nome a
uma história de amor. Apaixonado pela filha do imperador inca
Pachacutec, o chefe Ollanta decidiu raptá-la. Para resgatar sua filha,
Pachacutec atacou a cidade e deu início a um conflito que durou dez
anos. Mas o amor se mostrou o verdadeiro vencedor. Após a morte de
Pachacutec, seu filho, o novo imperador, concedeu a mão de sua irmã Cusi
a Ollanta, que passou a ser um oficial de confiança.
Ollantaytambo é um exemplo vivo de cidade inca. Nunca deixou de
ser habitada pelos indígenas e manteve sua estrutura urbana
praticamente intacta, com pouca influência colonial. As portas têm
formas trapezoidais típicas e as residências guardam as características
inconfundíveis da arquitetura incaica. De vocação essencialmente
agrícola, Ollantaytambo teria sido concebida como uma espiga de milho,
com as residências distribuídas como grãos, as maiores juntas e as
menores na ponta.
FONTE: Revista Planeta
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