segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O MISTÉRIO DO VALE SAGRADO DOS INCAS ( PARTE II )

O mistério do Vale Sagrado dos Incas
Conheceremos um dia o segredo que os antigos andinos possuíam para moldar as pedras de seus templos?


Texto e fotos: Haroldo Castro
OS TEMPLOS que imperam no topo da montanha representam uma admirável obra de arquitetura. Nas últimas três décadas em que visito a região, ouvi as mais diversas teorias sobre as técnicas incas para cortar pedras. Para os arqueólogos, o trabalho foi feito com outras pedras, mais duras. “Os antigos usaram um material lítico mais resistente para abrandar o material usado nos templos e palácios”, diz Manuel Ollanta, arquiteto da municipalidade de Cuzco. Outros afirmam que os incas teriam usado ferramentas à base de obsidiana, hematita (um minério de ferro) e até diamante. Mas isso teria demandado milhões de horas de mão-de-obra.
Faustino Espinoza foi o fundador da Academia do Idioma Quéchua em 1953. Se estivesse vivo, teria hoje 100 anos. Ouvi desse grande conhecedor da cultura indígena que “os incas cortavam a pedra como se fosse barro mole, como se fosse manteiga”. Espinoza nunca descobriu quais eram os ingredientes secretos que amoleciam a pedra. Um indígena de um vilarejo distante estava prestes a lhe mostrar uma planta que “derretia” os ossos dos animais que a ingeriam. Mas, na hora marcada, o camponês não apareceu, e Espinoza nunca mais o encontrou. Teria sido essa planta o ingrediente principal para desmanchar a rocha? Ou uma mistura de ervas?
Acima: Nas ruínas de Ollantaytambo, o contraste entre a montanha bruta e a pedra perfeitamente talhada pelos incas.

À direita: Um bloco de pedra em Ollantaytambo pode ajudar a desvendar o mistério de como os incas moldavam esse material. A face superior da pedra é lisa, enquanto a parte inferior ainda está bruta, sem ser trabalhada. A fresta no meio (cercada pela linha vermelha) não é natural e possui espessura constante. Poderia ser ela a prova de que os incas tinham técnicas, hoje desconhecidas, para moldar a pedra?
Há mais de 20 anos, encontrei por acaso, no topo das ruínas de Ollantaytambo, um bloco de pedra que poderia explicar como essa matéria-prima era moldada. A face superior da pedra é lisa, como se alguém a tivesse lixado. Na parte de baixo, porém, ela ainda está bruta, sem ser trabalhada. No meio, entre os dois tipos de pedra, há uma fresta. Não se trata de uma fenda natural: ela é retilínea e possui sempre 0,7 milímetro de espessura, suficiente apenas para permitir a passagem de um cartão de crédito. Parece ter sido talhada com uma serra. Mas que instrumentos os incas teriam usado para isso? Utilizaram algum líquido para facilitar o corte? Poderia ser essa obra inacabada a prova de que os antigos sabiam como cortar a pedra?
O CERTO É QUE em vários lugares vemos rochas que parecem cortadas com uma espátula. São como cadeiras ou tronos, mas na verdade podem ser o que restou depois de um bloco ter sido retirado. Estamos diante de um dos maiores mistérios da cultura inca, que parece longe de ser decifrado. Após a conquista, os indígenas se calaram e mantiveram sigilo sobre seus conhecimentos. Depois de cinco séculos de silêncio, será que esse segredo já se perdeu na memória do tempo?
Duas meninas gêmeas seguram algumas espigas do milho branco gigante de Cuzco. O produto é a grande estrela agrícola do Vale Sagrado.
Embora esteja entre 2.800 e 3.000 metros de altitude, o Vale Sagrado é o celeiro de Cuzco. Dali saem os cereais e as verduras consumidos pelos cuzquenhos. A grande estrela agrícola é o milho branco de Urubamba, ou milho branco gigante de Cuzco: tal como um vinho francês, ele possui seu certificado internacional de Denominação de Origem desde 2006. Somente os milhos brancos colhidos no Vale Sagrado dos Incas – nas províncias de Calca e Urubamba – podem usar esse nome.

FONTE: Revista Época

Nenhum comentário: