O mistério do Vale Sagrado dos Incas
Conheceremos um dia o segredo que os antigos andinos possuíam para moldar as pedras de seus templos?
Texto e fotos: Haroldo Castro
Conheceremos um dia o segredo que os antigos andinos possuíam para moldar as pedras de seus templos?
Texto e fotos: Haroldo Castro
OS TEMPLOS que imperam no topo da montanha
representam uma admirável obra de arquitetura. Nas últimas três décadas
em que visito a região, ouvi as mais diversas teorias sobre as técnicas
incas para cortar pedras. Para os arqueólogos, o trabalho foi feito com
outras pedras, mais duras. “Os antigos usaram um material lítico mais
resistente para abrandar o material usado nos templos e palácios”, diz
Manuel Ollanta, arquiteto da municipalidade de Cuzco. Outros afirmam que
os incas teriam usado ferramentas à base de obsidiana, hematita (um
minério de ferro) e até diamante. Mas isso teria demandado milhões de
horas de mão-de-obra.
Faustino Espinoza foi o fundador da Academia do Idioma Quéchua
em 1953. Se estivesse vivo, teria hoje 100 anos. Ouvi desse grande
conhecedor da cultura indígena que “os incas cortavam a pedra como se
fosse barro mole, como se fosse manteiga”. Espinoza nunca descobriu
quais eram os ingredientes secretos que amoleciam a pedra. Um indígena
de um vilarejo distante estava prestes a lhe mostrar uma planta que
“derretia” os ossos dos animais que a ingeriam. Mas, na hora marcada, o
camponês não apareceu, e Espinoza nunca mais o encontrou. Teria sido
essa planta o ingrediente principal para desmanchar a rocha? Ou uma
mistura de ervas?
Acima: Nas ruínas de Ollantaytambo, o contraste entre a montanha bruta e a pedra perfeitamente talhada pelos incas.
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À direita: Um bloco de
pedra em Ollantaytambo pode ajudar a desvendar o mistério de como os
incas moldavam esse material. A face superior da pedra é lisa, enquanto a
parte inferior ainda está bruta, sem ser trabalhada. A fresta no meio
(cercada pela linha vermelha) não é natural e possui espessura
constante. Poderia ser ela a prova de que os incas tinham técnicas, hoje
desconhecidas, para moldar a pedra?
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Há mais de 20 anos, encontrei por acaso, no topo das ruínas de
Ollantaytambo, um bloco de pedra que poderia explicar como essa
matéria-prima era moldada. A face superior da pedra é lisa, como se
alguém a tivesse lixado. Na parte de baixo, porém, ela ainda está bruta,
sem ser trabalhada. No meio, entre os dois tipos de pedra, há uma
fresta. Não se trata de uma fenda natural: ela é retilínea e possui
sempre 0,7 milímetro de espessura, suficiente apenas para permitir a
passagem de um cartão de crédito. Parece ter sido talhada com uma serra.
Mas que instrumentos os incas teriam usado para isso? Utilizaram algum
líquido para facilitar o corte? Poderia ser essa obra inacabada a prova
de que os antigos sabiam como cortar a pedra?
O CERTO É QUE em vários lugares vemos rochas
que parecem cortadas com uma espátula. São como cadeiras ou tronos, mas
na verdade podem ser o que restou depois de um bloco ter sido retirado.
Estamos diante de um dos maiores mistérios da cultura inca, que parece
longe de ser decifrado. Após a conquista, os indígenas se calaram e
mantiveram sigilo sobre seus conhecimentos. Depois de cinco séculos de
silêncio, será que esse segredo já se perdeu na memória do tempo?
Duas meninas gêmeas seguram algumas
espigas do milho branco gigante de Cuzco. O produto é a grande estrela
agrícola do Vale Sagrado.
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Embora esteja entre 2.800 e 3.000 metros de altitude, o Vale
Sagrado é o celeiro de Cuzco. Dali saem os cereais e as verduras
consumidos pelos cuzquenhos. A grande estrela agrícola é o milho branco
de Urubamba, ou milho branco gigante de Cuzco: tal como um vinho
francês, ele possui seu certificado internacional de Denominação de
Origem desde 2006. Somente os milhos brancos colhidos no Vale Sagrado
dos Incas – nas províncias de Calca e Urubamba – podem usar esse nome.
FONTE: Revista Época
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