10/09/2012
-
09h48
Apneia do sono pode ser diagnosticada pelo som do ronco
FERNANDO MORAES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Certa vez, durante um congresso, o físico Adriano Alencar dividiu o
quarto com um colega que sofria de apneia do sono. Após uma noite em
claro devido aos roncos, ele se perguntou por que não havia conseguido
dormir. "Percebi que o problema não era o barulho do ronco, mas a
irregularidade dos ruídos."
O "insight" foi o estopim de um experimento que ele, o médico Geraldo
Lorenzi-Filho, do Laboratório do Sono do Incor, e colegas da USP
realizaram, rendendo um artigo que será publicado em breve no periódico
"Physica A".
Nele, os pesquisadores apresentam uma maneira alternativa de
diagnosticar a apneia obstrutiva do sono, baseada na análise das
irregularidades do ronco. A doença, estima-se, atinge 32% da população
da Grande São Paulo e pode aumentar o risco de problemas como doenças do
coração e diabetes.
O diagnóstico padrão é feito por meio da polissonografia, um exame que
avalia uma série de dados durante o sono, como ondas cerebrais,
respiração e oxigenação sanguínea. Mas, para fazê-lo, o paciente precisa
passar a noite toda no consultório.
O ronco é um fenômeno comum e, muitas vezes, não está ligado a nenhuma
doença. Por outro lado, o ronco irregular é um dos principais
indicadores de apneia do sono.
Segundo Alencar, que é professor do Instituto de Física da USP, "outros
pesquisadores procuraram entender a relação entre ronco e apneia pela
intensidade do barulho ou pela frequência.
Nós simplificamos o modelo e nos baseamos apenas nos intervalos irregulares entre um ronco e outro".
No experimento, 17 pacientes do laboratório do sono do Incor foram
submetidos a uma polissonografia e, ao mesmo tempo, seu ronco era
gravado. Os sinais acústicos foram analisados por um software
desenvolvido pelos próprios pesquisadores.
Eles partiram da hipótese de que, em pacientes com apneia do sono, os
intervalos entre um ronco e outro ocorreriam entre 10 s e 100 s, e
propuseram um índice baseado no número desses intervalos dividido pelo
tempo.
A comparação desse índice com a medida padrão, o número de eventos de
apneia registrados numa noite dividido pelo tempo, apresentou uma
correlação expressiva.
Editoria de arte/folhapress | ||
O próximo passo, já em andamento, é repetir o experimento com 200
pacientes. Desta vez, os pesquisadores vão submetê-los primeiro ao
diagnóstico pelo ronco e conferir se os resultados batem com os da
polissonografia.
Para Simone Fagondes, do Departamento do Sono da Sociedade Brasileira de
Pneumologia e Tisiologia, "os resultados da pesquisa são promissores, e
o estudo representa um importante avanço para estabelecer parâmetros e
recomendações para a avaliação e a classificação do ronco, além de ter
confirmado a relação entre o ronco e a apneia do sono."
Alencar afirma que a ideia não é substituir o diagnóstico padrão pela
análise do ronco. "Nossa proposta é de um complemento, um pente fino,
que indicará ou descartará o uso do exame mais detalhado nos pacientes".
FONTE: Folha.com/Equilíbro e Saúde
Nenhum comentário:
Postar um comentário