26/09/2012
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16h00
Civilização maia tinha método sustentável para gerenciar água
RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Os antigos maias construíram um sistema hidráulico sofisticado e
sustentável que foi sendo aperfeiçoado por mais de mil anos para servir a
uma população crescente. O colapso posterior dessa civilização da
América Central tende a ofuscar sucessos anteriores como esses.
Os detalhes desse sistema de coleta e armazenamento de água foram
revelados por uma escavação arqueológica nas ruínas da antiga cidade de
Tikal, na Guatemala, por uma equipe internacional de pesquisadores
coordenados por Vernon Scarborough, da Universidade de Cincinnati, em
Ohio, e descritos em artigo recente na revista científica "PNAS".
As descobertas incluem a maior represa antiga da área maia; a construção
de uma barragem ensecadeira para fazer a dragagem do maior reservatório
de água em Tikal, a presença de uma antiga nascente ligada ao início da
colonização da região, em torno de 600 a.C., e o uso de filtragem por
areia para limpar a água dos reservatórios. O sistema também tinha uma
estação que desviava a água para os diferentes reservatórios de acordo
com a estação e incluía um segmento de canal cortado na pedra.
Divulgação/Science | ||
Templo no reino de Tikal, um dos mais importantes do período clássico da civilização maia |
Também há evidências de reparos e ampliação do sistema, assim como
plantio de vegetação para impedir a erosão do solo em torno dos
reservatórios.
Com isso os maias, em torno do ano 700, podiam prover de água uma
população estimada em 80.000 em Tikal. Há estimativas de que haveria 5
milhões de pessoas na região das planícies maias ao sul, uma população
"uma ordem de grandeza da que é suportada na região hoje", escreveram
Scarborough e colegas.
Durante uma sessão de escavação, mesmo na estação seca, a água ainda
percolava em um dos locais de teste, e os trabalhadores locais preferiam
tomar essa água em vez daquela disponível sua vila.
A área foi abandonada no final do século 9. Os motivos do colapso maia ainda são debatidos entre os pesquisadores.
"É um tópico muito difícil. Pode haver tantas explicações como existem
arqueólogos trabalhando no campo. Minha visão pessoal é que o colapso
envolveu diferentes fatores que convergiram de tal modo nessa sociedade
altamente bem sucedida que agiram como uma 'perfeita tempestade'. Nenhum
fator isolado nessa coleção poderia tê-los derrubado tão severamente",
disse Scarborough à Folha.
"É importante lembrar que os mais não estão mortos. A população agrícola
que permitiu à civilização florescer ainda é muito vital na América
Central", diz ele; "o que entrou em colapso foi o seu nível de
complexidade social.
Ele elenca entre as causas a mudança climática seca; "como eles eram
muito dependentes dos reservatórios preenchidos pela chuva sazonal,
vários anos de seca repetidos significariam desastre", diz o
pesquisador. E justamente por serem inteligentes e criado um sistema
hidráulico sofisticado, a população pode ter crescido muito além da
capacidade do ambiente, dadas as limitações tecnológicas da civilização.
Além disso, diz o arqueólogo, é provável que a elite local não tomasse
decisões sábias. "Aqui nos Estados Unidos parece que nós temos as três
forças se repetindo-- e se nós no Ocidente tivermos um período de 1.500
anos de sobrevivência e sucesso como os maias, eu ficarei espantando",
conclui Scarborough.
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