08/09/2012
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04h55
Mudança no gelo do mar do Ártico veio para ficar
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE "CIÊNCIA+SAÚDE"
EDITOR DE "CIÊNCIA+SAÚDE"
Ainda há uma enorme massa de incertezas sobre como será o clima da Terra
no fim deste século, mas as últimas semanas deixaram ao menos um fato
claro: o Ártico nunca mais será o mesmo, para o bem e para o mal.
O indício mais forte vem da queda recorde na extensão do gelo marinho de
verão. O gelo atingiu 4,1 milhões de quilômetros quadrados na semana
passada, a menor medida feita por satélite desde que esse tipo de dado
começou a ser recolhido, no fim dos anos 1970.
Jefferson Cardia Simões, diretor do Centro Polar e Climático da UFRGS
(Universidade Federal do Rio Grande do Sul), nem titubeia ao responder
se o fenômeno veio para ficar: "Sim, é irreversível", afirma ele.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Simões lembra ainda que o ineditismo da baixa no gelo ártico de verão
provavelmente diz respeito a um período bem maior do que meros 30 e
poucos anos.
"Embora os dados de satélite remontem a 1979, nós temos registros
escritos da extensão do gelo entre as comunidades da Islândia, da
Escandinávia e, mais recentemente, da Groenlândia", diz o glaciologista
gaúcho.
Esses dados indicam que o degelo é provavelmente o mais extenso em 500 anos, pelo menos, segundo Simões.
MAR NÃO SOBE
Recordes à parte, e daí? Uma coisa que não deve preocupar ninguém no
caso do degelo marinho é o aumento do nível dos mares -como esse gelo já
está no oceano, não faz diferença para o nível da água se ele está
presente na forma sólida ou líquida.
Mas é claro que um mar ártico mais quente e com menos gelo tem
repercussões consideráveis. A primeira é o que os cientistas chamam de
feedback positivo: quanto menos gelo na água, mais o gelo que sobrou
tende a derreter de vez.
Isso ocorre porque a água do mar, mais escura do que o gelo (é claro),
absorve proporcionalmente mais radiação solar e esquenta ainda mais.
"Achávamos que o degelo visto hoje só iria ocorrer daqui a duas ou três décadas", afirma Simões.
As vítimas mais óbvias de mudanças numa escala de tempo tão curta são
ursos-polares, raposas-do-ártico e outros animais que dependem do gelo
marinho como plataforma para caçar.
Por outro lado, frotas comerciais começam a ter imensas avenidas para
carregar seus produtos pelo extremo norte do mundo. Frotas militares não
precisarão mais de submarinos para atravessar o Ártico por baixo do
gelo, o que pode ter implicações geopolíticas, lembra Simões.
E a exploração de petróleo em plataformas deve crescer em todos os
países árticos, lembra o pesquisador. "Já vi tanto a Chevron quanto a
Shell dizendo que pretendem investir por lá."
CETICISMO
O climatologista americano Patrick "Pat" Michaels, do Centro para o
Estudo da Ciência do Instituto Cato, vê como menos urgente a situação do
Ártico. Ele afirma que as projeções atuais usadas pelo IPCC, o painel
do clima da ONU, não são confiáveis.
"Os modelos usados pela ONU previram um aquecimento muito maior do que o que estamos vendo", diz.
Outros especialistas que minimizam a mudança climática chegaram a
afirmar que o recorde de degelo foi estimulado por tempestades que
atingiram o Ártico e fragmentaram mais o gelo marinho.
FONTE: Folha.com/Ciência
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