18/09/2012
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20h27
Papiro do século 4º menciona "mulher de Jesus"
DO EDITOR DE "CIÊNCIA+SAÚDE"
Atualizado às 21h19.
À primeira vista, parece que o enredo do best-seller "O Código da Vinci"
virou fato: um fragmento de papiro que provavelmente data do ano 350 da
Era Cristã retrata Jesus usando a expressão "minha mulher". É bom ir
devagar com o andor, contudo.
Segundo a historiadora da Universidade Harvard (EUA) responsável pela
análise do texto antigo, que ela apelidou de "Evangelho da Mulher de
Jesus", o fragmento não traz informações confiáveis sobre a figura
histórica de Cristo, já que a narrativa quase certamente teria sido
composta séculos depois da morte dele.
O que o texto mostra, no entanto, é o intenso debate sobre os prós e
contras do sexo e do casamento nos primeiros séculos do cristianismo
-uma controvérsia que ainda deixa marcas em temas como o celibato dos
padres ou a ordenação de mulheres, por exemplo.
Editoria de arte/Folhapress | ||
O "Evangelho da Mulher de Jesus" vem a público com uma aura de mistério,
além da inevitável polêmica que o tema do fragmento traz.
Sua procedência exata é desconhecida. Sabe-se apenas que, em 2010, um
colecionador de antiguidades (cuja identidade, por enquanto, está sendo
preservada) mandou um e-mail para Karen King, especialista em
cristianismo antigo da Escola de Teologia de Harvard.
O colecionador queria ajuda para traduzir o fragmento -uma única folha
de papiro, medindo 8 cm de largura por 4 cm de comprimento. O texto foi
escrito em copta, idioma descendente da língua dos faraós que era falado
pela maioria dos egípcios na época do Império Romano (e ainda é usado
na liturgia dos cristãos do Egito).
No ano passado, o dono do papiro concordou em deixá-lo com King. A
pesquisadora pediu a ajuda de outros especialistas em papiros e na
língua copta e acabou por decifrar o que restou do texto (veja quadro
acima). A descoberta foi anunciada pelo jornal "New York Times".
Os fragmentos dizem, entre outras coisas, "Maria [Madalena?] é digna
disso" e, logo depois da menção a "minha esposa", "ela será capaz de ser
minha discípula" e "eu habito com ela".
Dá para esperar um debate acadêmico feroz em torno do manuscrito. Entre
os especialistas que revisaram o artigo da revista especializada "The
Harvard Theological Review" no qual está a análise do manuscrito, dois
chegaram a questionar a autenticidade do material.
Outros especialistas em papiros, no entanto, ressaltaram que o padrão de
manchas e fibras marcadas por tinta, já esmaecidas, seria difícil de
forjar. A datação do texto, por ora, é indireta, baseada no estilo da
escrita.
Já se sabe há tempos que o Egito foi palco de uma imensa diversidade de
ideias nos primeiros séculos do cristianismo. Prova disso é a
"biblioteca" de textos cristãos de Nag Hammadi, descoberta em 1945, na
qual predominam os chamados textos gnósticos -corrente de pensamento
para a qual o mundo físico é obra de divindades malévolas, e não de
Deus.
Vem de Nag Hammadi o Evangelho de Filipe, também em fragmentos, mas que
mencionaria Jesus beijando Maria Madalena, que a cultura pop atual vê
como mulher de Cristo.
Durante os primeiros séculos depois de Jesus, os cristãos estavam
divididos a respeito de como lidar com o sexo e o casamento. Uns, como o
apóstolo Paulo, defendiam que o celibato era a melhor opção, embora não
condenassem o casamento. Outros diziam que os melhores candidatos a
líderes da igreja eram os homens casados. E havia ainda os que
condenavam todo tipo de contato sexual. No caso de Jesus, o mais
provável é que ele tenha mesmo sido solteiro. (REINALDO JOSÉ LOPES)
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