12/07/2012 - 19h23
Amazônia já têm "dívida de extinções", afirma pesquisa britânica
RAFAEL GARCIA
DE WASHINGTON
DE WASHINGTON
Atualizado às 20h17.
O desaparecimento de alguns animais das áreas onde costumavam viver na Amazônia é algo que passa sem ser notado hoje, mas esse é um fenômeno que deve se tornar cinco vezes mais grave. "Cenários realistas sobre desmatamento sugerem que, em 2050, regiões locais terão perdido em média nove espécies de vertebrados e condenado outras 16 à extinção", afirma uma nova pesquisa.
Apesar de a floresta amazônica já ter pedido, como um todo, 17% de seu território, cada pequeno pedaço de terra na região perdeu em média apenas 1% das espécies de aves, anfíbios e mamíferos que possuía.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Um trio de ecólogos do Imperial College de Londres explica agora por que isso ocorre: a maioria das áreas está "devendo", em média, 5% de extinções para o futuro, e a situação pode piorar.
Em estudo na revista "Nature", os cientistas explicam que essa "dívida de extinções" ocorre em razão de alguns animais conseguirem evitar o sumiço logo de cara.
À medida que o tempo passa em uma área parcialmente desmatada, porém, populações de aves, mamíferos e anfíbios vão diminuindo a cada geração, e no final algumas acabam sumindo.
O trabalho publicado agora, liderado pelo ecólogo Robert Ewers, calcula quantas espécies são perdidas no curto e longo prazo, à medida que uma área da Amazônia é desmatada.
No estudo, os autores tratam apenas de fenômenos locais, analisando o que aconteceria em média com um terreno de 2.500 quilômetros quadrados na Amazônia. As previsões sobre extinções totais, porém, já começaram a ser feitas.
"Nós rodamos o modelo tentando prever extinção global também, e no cenário 'business as usual' [em que o ritmo de desmatamento segue quase sem controle da lei], terminamos com algo em torno de 45 espécies sendo extintas e mais de 100 sendo condenadas à extinção", disse Ewers à Folha. "Sob um cenário de governança [em que há intervenção mais forte do governo contra o desmate], claro, os números serão muito menores."
As extinções globais de espécies seriam mais numerosas que as locais porque muitas espécies amazônicas são endêmicas --só existem numa área muito restrita. Isso significa que não é preciso uma devastação muito ampla para fazer com que muitas delas desapareçam por completo.
Em um artigo comentando o estudo de Ewers, Thiago Rangel, ecólogo da Universidade Federal de Goiás, elogia o método estatístico criado pelos britânicos para medir o risco que o desmatamento implica para a biodiversidade.
"Antigamente a gente olhava para o mapa da Amazônia e via apenas quais regiões estão mais desmatadas e quais estão sofrendo desmatamento naquele momento", afirma, explicando que esse era o único tipo de informação crucial usado para guiar ações de conservação. "Agora é possível olhar para o mapa e enxergar uma medida combinada de desmatamento e de riqueza de espécies também."
Segundo Rangel, porém, os cenários de desmatamento com que Ewers trabalha podem ser comprometidos no futuro. Um problema é o estado de definição do novo Código Florestal --a lei que determina quantas e quais partes da mata os fazendeiros podem desmatar.
Ayrton Vignola - 17mai.05/Folhapress | ||
Desmatamento em Moraes Almeida (PA) mostra que devastação da Amazônia ocorre também dentro de áreas de mata preservada |
O outro é o movimento para reduzir áreas de conservação para acomodar represas de hidrelétricas. No fim, pode ser que o cenário considerado mais realista pelos britânicos passe a ser otimista demais.
Rangel também destaca que é difícil prever quando a "dívida de extinção" de uma área parcialmente desmatada será saldada. "Uma espécie de anfíbio vai ser afetada em cinco gerações, o que pode variar de três a quatro anos", diz. "Já uma espécie de mamífero de grande porte, com maior capacidade de locomoção e dispersão, pode resistir por até 50 anos."
Apesar das limitações, Ewers defende que o conceito que criou deve ser usado para planejar ações de conservação, incluindo a preservação de mata que cresce em fazendas abandonadas na Amazônia: "Claro que nosso método carrega um grau de incerteza, mas ele nos dá o poder de imaginar cenários e ver o que vai acontecer de 40 a 50 anos no futuro em algumas áreas, em razão das decisões que são tomadas hoje", afirma.
FONTE: Folha.com/Ciência
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