Unesco
Humanismo multicultural
Crises sucessivas e um grande número de refugiados estão transformando a paisagem sociocultural. Para enfrentar os desafios dessas mudanças é necessário um novo tipo de humanismo, capaz de responder às demandas de comunidades compostas por diferentes culturas em permanente multiplicação.
Por Asimina Karavanta*
Duas guerras mundiais, campos de concentração, fábricas com trabalhadores em condições análogas à escravidão e outros aparatos do capitalismo global, independentemente das suas diferenças de qualifi cação, estão defi nindo acontecimentos do século 20 como eventos de uma história sombria. Também as vítimas das guerras anticoloniais e civis devem ser levadas em conta. Esse quadro sinistro é uma evidência do potencial destrutivo oculto sob o manto dos fi lósofos do Iluminismo, uma vez que seus discursos humanistas foram transformados em privilégio ideológico de apenas um certo tipo de ser humano e de um certo tipo de sociedade, nomeadamente aquela com valores da cultura ocidental.
A discrepância entre as promessas de humanismo e seu papel instrumental no colonialismo, no imperialismo e no tráfi co de escravos gerou uma crítica severa aos seus princípios c o n t r a d i - tórios, éticos e políticos, que chegou a um clímax na década de 1960. A desconstrução do humanismo como verdade universal incontestável intensificou a necessidade de reconfigurá- lo a partir da perspectiva “daqueles que só recentemente foram reconhecidos como seres humanos e de suas respectivas comunidades e culturas, muitas vezes exiladas, multilíngues e interculturais”, como escreveu Joan Anim-Addo em Towards a Post-Western Humanism.
* Asimina Karavanta é professora de literatura na Universidade de Atenas e coautora, ao lado de Nina Mogan, de Edward Said and Jacques Derrida: Reconstellating Humanism and the Global Hybrid (Cambridge Scholars Publishing, 2008). |
O humanismo voltou à ordem do dia porque não é mais apenas o produto de monarquias e impérios europeus cujos projetos coloniais erigiram imperativos ideológicos com os ideais do Iluminismo. Também já não se define nação exclusivamente como uma construção monocultural e monolinguística. O renascimento do humanismo, como escreveu Bonnie Honig em Antigone’s Two Laws: Greek Tragedy and the Politics of Humanism, “í uma variante que reprisa o humanismo anterior no qual o que é comum aos humanos não é a racionalidade, mas o fato ontológico da mortalidade; não a capacidade de raciocinar, mas a vulnerabilidade ao sofrimento.”
FONTE: Revista Planeta
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