A água vai se tornar um bem precioso neste século em que o aumento populacional agravará as dificuldades para obtê-la. Um relatório produzido pelo Programa de Avaliação Mundial da Água (WWAP), da ONU, traça uma radiografia grave da situação nas diferentes regiões do mundo
Extraído do relatório Managing water under uncer uncertainty and risk, da WWAP
O acesso à água tende a se tornar cada vez mais complicado nas próximas décadas, conforme a população humana crescer, ficar mais urbana e afluente. Além disso, outras variáveis, como a mudança climática, devem interferir com mais frequência na questão, aumentando o risco de escassez desse bem comum. A quarta edição do relatório Managing water under uncertainty and risk, produzido pelo Programa de Avaliação Mundial da Água (WWAP, na sigla em inglês), da ONU, aborda a situação atual e as perspectivas futuras de diversas regiões do planeta em relação ao tema.
África
Na África Subsaariana apenas 5% da água doce renovável é utilizada anualmente. O abastecimento de água potável nas áreas rurais cresceu para 47% até 2008, mas estagnou em 80% nas áreas urbanas desde 1990. Só 31% da população usa instalações sanitárias adequadas.
Entre meados da década de 1990 e 2008, o número de pessoas desnutridas aumentou de 200 milhões para 350-400 milhões. Desde meados dos anos 1960, a produção agrícola aumentou em média menos de 2% ao ano, enquanto a população cresceu 3%. A falta d'água e a seca afetam o crescimento do PIB em um terço dos países.
Apenas um em cada quatro africanos tem acesso à eletricidade. A energia hidrelétrica fornece um terço da energia do continente, mas poderia suprir todas a sua necessidade de eletricidade. Apenas 3% dos recursos hídricos renováveis são atualmente explorados para a hidreletricidade. Mas os países africanos já começaram a abordar as questões transfronteiriças da água, relacionadas ao desenvolvimento hídrico, por meio de consórcios multinacionais de energia como o South African Power Pool e o West African Power Pool.
Países árabes e Ásia Ocidental
Cerca de dois terços da água de superfície disponível na região provêm dela, alimentando conflitos com os paí ses a montante. No passado, disputas criaram hordas de pessoas deslocadas internamente e destruíram a infraestrutura de água em países como Iraque, Kuwait e Líbano, esgotando recursos necessários para a recuperação. A fim de neutralizar o conflito potencial sobre os recursos hídricos, foram feitas tentativas de compartilhar a água escassa. A Liga dos Estados Árabes criou o Conselho Ministerial de Água Árabe e elaborou uma Estratégia de Segurança Árabe da Água.
A escassez tem gerado preocupações sobre a segurança alimentar. Gêneros alimentícios importados, especialmente grãos, respondem por uma quantidade considerável do consumo de água virtual na região. A produção local de cereais foi impulsionada pelo aumento do uso de águas subterrâneas para irrigação.
No entanto, como os aquíferos sofrem rebaixamento, o bombeamento de água está se tornando cada vez mais caro e insustentável. O custo econômico da água de má qualidade no Oriente Médio e Norte da África varia de 0,5% a 2,5% do PIB. A governança da água precisa urgentemente de reforço para lidar com esses desafios.
No alto, seca no sul da França, área que deverá sofrer com a escassez de água. Acima, voluntários enchem tanque no Sudão; à direita, menino cuida de estação de água no Quênia durante a estiagem de 2009. |
As mudanças climáticas devem elevar a temperatura, aumentar a aridez do solo e mudar os padrões sazonais de chuva. Isso já pode ser visto na Síria e na Tunísia, por exemplo. A região também deve esperar inundações e secas mais frequentes, menos neve e derretimento em algumas regiões montanhosas e ao nível do mar e salinidade em aquíferos costeiros. O cenário é de alto risco.
FONTE: Revista Planeta
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