Evolução
Ilha do medo
Não há mamíferos nem fontes de água potável na Queimada Grande. Quem sobrevive nessa ilha paulista são milhares de cobras e aranhas venenosas. E a evolução se encarrega do resto
"A população está à beira de um colapso", acredita ele, ainda mais por
habitarem um lugar conhecido por suas queimadas naturais - daí o nome da
ilha. As excursões humanas levaram espécies invasoras, como o
capim-gordura e o sapé, que hoje formam capinzais que ocupam mais de 11
hectares da ilha. "Esse mato, quando seco, é muito vulnerável ao fogo.
Um grande incêndio poderia matar todos os indivíduos", alerta Aníbal
Megarejo, herpetólogo do Instituto Vital Brazil, no Rio de Janeiro.
Somam-se a esses fatores a presença de carrapato, comum em ilhas oceânicas - notamos algumas cobras com o corpo coberto por esses parasitas -, e uma possível escassez de alimentos, plausível em um lugar pequeno e sensível a mudanças climáticas. Basta imaginar um período sem chuvas, já que a água doce só é obtida em pequenos repositórios naturais, como as bromélias. Tais condições levaram o animal a ser considerado criticamente em perigo de extinção pela lista de espécies ameaçadas no Brasil e pela Lista Vermelha, da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).
O implante de chip sob a pele dos animais, feito por pesquisadores do Butantan, é um dos métodos para um monitoramento da população. Já para avaliar invasores, existem armadilhas fotográficas, instaladas em pontos estratégicos, que disparam se alguém passar na frente delas. O trabalho é coordenado por fiscais do Instituo Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), pois a ilha faz parte da Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) Ilhas Queimada Pequena e Queimada Grande.
Cientistas e ecologistas acreditam que o nível de proteção desse tipo de unidade de conservação ainda é baixo, pois apenas restringe o acesso a uma área de 1 quilômetro no entorno da ilha - além disso, a pesca, atividade comum na área, é feita sem nenhuma fiscalização. Por isso, começa a ganhar corpo o plano de transformar a Arie em parque nacional marinho. "O status de parque poderia atrair turistas interessados em mergulho, haja vista a grande biodiversidade de peixes naquela área", afirma Wilson Almeida Lima, chefe da reserva. "A presença dessas pessoas em volta da ilha vai inibir os biopiratas", acredita.
Mas salvar a jararaca-ilhoa depende também de ações localizadas, como a criação de animais em cativeiro. Além de possibilitar estudá-los de perto, essas criações mantêm uma reserva genética da espécie. Em um futuro hipotético, seus descendentes poderiam ser introduzidos na ilha.
As lanternas e a pequena chama do fogareiro são as únicas fontes de luz na noite sem estrelas. Depois de passar o dia à base de pão, macarrão instantâneo e atum enlatado, estamos empolgados com o projeto de cachorro-quente que ferve na panela. A cozinha é um abrigo sob uma rocha, cuja superfície irregular serve de prateleira para os poucos artigos de cozinha. Naquele espaço compartilhamos histórias, nos assustamos com aranhas armadeiras, que podem matar um homem com uma picada, e recarregamos nossa energia para voltar à mata em busca das ilhoas.
Na Queimada Grande, todo movimento deve ser calculado, desde onde pôr a mão até onde pisar. Mais de uma vez rolei no chão, escorreguei e me ralei nas pedras por não ter seguido essa regra à risca. Damasceno, o biólogo da expedição, sabe disso, mas não toma cuidado com algo aparentemente inofensivo: uma panela cheia de salsichas e molho. Ao tentar se servir, vira todo o nosso precioso jantar no chão. Eu e Rosa nos dividimos entre rir e tentar conter a frustração do companheiro com o movimento desastrado.
Somam-se a esses fatores a presença de carrapato, comum em ilhas oceânicas - notamos algumas cobras com o corpo coberto por esses parasitas -, e uma possível escassez de alimentos, plausível em um lugar pequeno e sensível a mudanças climáticas. Basta imaginar um período sem chuvas, já que a água doce só é obtida em pequenos repositórios naturais, como as bromélias. Tais condições levaram o animal a ser considerado criticamente em perigo de extinção pela lista de espécies ameaçadas no Brasil e pela Lista Vermelha, da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).
O implante de chip sob a pele dos animais, feito por pesquisadores do Butantan, é um dos métodos para um monitoramento da população. Já para avaliar invasores, existem armadilhas fotográficas, instaladas em pontos estratégicos, que disparam se alguém passar na frente delas. O trabalho é coordenado por fiscais do Instituo Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), pois a ilha faz parte da Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) Ilhas Queimada Pequena e Queimada Grande.
Cientistas e ecologistas acreditam que o nível de proteção desse tipo de unidade de conservação ainda é baixo, pois apenas restringe o acesso a uma área de 1 quilômetro no entorno da ilha - além disso, a pesca, atividade comum na área, é feita sem nenhuma fiscalização. Por isso, começa a ganhar corpo o plano de transformar a Arie em parque nacional marinho. "O status de parque poderia atrair turistas interessados em mergulho, haja vista a grande biodiversidade de peixes naquela área", afirma Wilson Almeida Lima, chefe da reserva. "A presença dessas pessoas em volta da ilha vai inibir os biopiratas", acredita.
Mas salvar a jararaca-ilhoa depende também de ações localizadas, como a criação de animais em cativeiro. Além de possibilitar estudá-los de perto, essas criações mantêm uma reserva genética da espécie. Em um futuro hipotético, seus descendentes poderiam ser introduzidos na ilha.
As lanternas e a pequena chama do fogareiro são as únicas fontes de luz na noite sem estrelas. Depois de passar o dia à base de pão, macarrão instantâneo e atum enlatado, estamos empolgados com o projeto de cachorro-quente que ferve na panela. A cozinha é um abrigo sob uma rocha, cuja superfície irregular serve de prateleira para os poucos artigos de cozinha. Naquele espaço compartilhamos histórias, nos assustamos com aranhas armadeiras, que podem matar um homem com uma picada, e recarregamos nossa energia para voltar à mata em busca das ilhoas.
Na Queimada Grande, todo movimento deve ser calculado, desde onde pôr a mão até onde pisar. Mais de uma vez rolei no chão, escorreguei e me ralei nas pedras por não ter seguido essa regra à risca. Damasceno, o biólogo da expedição, sabe disso, mas não toma cuidado com algo aparentemente inofensivo: uma panela cheia de salsichas e molho. Ao tentar se servir, vira todo o nosso precioso jantar no chão. Eu e Rosa nos dividimos entre rir e tentar conter a frustração do companheiro com o movimento desastrado.
FONTE: Revista Planeta Sustentável
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