08/11/2012
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03h02
Fama da Toscana já atiça a memória antes da viagem
HÉLIO SCHWARTSMAN
ENVIADO ESPECIAL À TOSCANA
ENVIADO ESPECIAL À TOSCANA
Viajar é mergulhar numa sopa de ilusões. E o processo começa muito antes
de você embarcar. A primeira escala é a memória e sua irmã gêmea, a
imaginação.
Como explica Dan Gilbert em "Stumbling on Happiness", embora tenhamos a
impressão de que a memória é uma espécie de filmadora intracraniana, que
registra as coisas como aconteceram, ela na verdade reconstrói o
episódio lembrado cada vez que o acessa. Nesse processo, pedaços são
continuamente descartados e coisas novas são criadas, ao sabor de nossos
desejos e inclinações.
É por isso que não hesitamos muito antes de repetir erros que deveriam
ser conhecidos, como voltar a passar o Natal na casa da sogra. Sob a
excitação da perspectiva de sair em férias, o cérebro imagina o futuro
mobilizando apenas as lembranças positivas das estadias prévias e
ignorando as negativas.
Nesse contexto, uma viagem à Toscana acumula pontos extras no cérebro
antes de partirmos. Essa região da Itália, afinal, é praticamente
sinônimo de arte, paisagens deslumbrantes, ruínas antiquíssimas, boa
comida e, dizem, excelentes vinhos.
GALERIA DE FOTOS:
O tema escolhido pela Agenzia di Promozione Economica della Toscana, que
custeou parte do périplo, foi Toscana Insólita, isto é, as áreas menos
visitadas da região. Isso significa excluir megadestinos turísticos como
Florença e Pisa. Tratando-se da Itália, podemos tirar tudo isso que
ainda sobra muita, muita coisa.
O primeiro ponto de visitação foi Carrara. As ilusões visuais atacam
assim que avistamos uma cordilheira de cumes brancos. O cérebro
rapidamente categoriza a paisagem como neve. Só que não há neve no verão
naquela parte da Itália. E a resposta, que só vem com a explicação do
guia, é que as montanhas são brancas porque são feitas de mármore, o
mais legítimo mármore de Carrara.
O mármore branco começou a ser extraído pelos romanos 2.500 anos atrás e
não há sinal de que vá acabar (o negro, que ocorria em frações muito
menores, já se foi).
Helio Schwartsman/Folhapress | ||
Vista de montanha de mármore em Carrara; pedra começou a ser extraída pelos romanos há 2.500 anos |
É possível contratar um guia com um jipe 4x4 que o levará por
estradinhas sinuosas até o alto das montanhas, de onde os blocos são
extraídos. Como o mármore mais externo é de pior qualidade, em certos
pontos os donos das minas foram cavando para dentro e criaram
gigantescas cavernas que podem ser visitadas.
E já que o assunto são ilusões, vale a pena visitar algum dos ateliês de
escultura. Ali você vai descobrir que há algo de podre no reino das
artes plásticas. As figuras de mármore que vemos por aí não são
necessariamente feitas pelos escultores que as assinam. Trabalhar com
mármore não é para qualquer um e, quando se erra, não há volta.
Assim, muitos escultores entregam um modelo em gesso (ou um programa de
computador) de sua concepção a um desses ateliês, e os artesãos locais o
transformam numa peça de mármore valendo-se de paquímetros e "pointing
machines".
FONTE: Folha.com/Turismo
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