05/11/2012
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04h10
Japão investe em energia geotérmica
YURIKO NAGANO
DO "NEW YORK TIMES"
DO "NEW YORK TIMES"
YUZAWA, Japão - Tarobee Ito, 69, é o guardião de um legado familiar que
sobrevive há mais de 12 gerações: ele administra o Tarobee Ryokan, um
tradicional "onsen ryokan" (hotel junto a fontes termais) no
desfiladeiro de Oyasu.
No mesmo local, perto da cidade de Yuzawa, no norte do Japão, há cerca de uma dúzia de outros estabelecimentos do tipo.
Recentemente, o vapor branco dessas fontes também atraiu planos para a
construção de uma usina geotérmica na região, considerada um monumento
nacional.
O Japão busca fontes energéticas alternativas -como a geotérmica- desde
março do ano passado, quando um tsunami destruiu a usina nuclear de
Fukushima Daiichi.
Os 54 reatores atômicos do país foram paralisados, e só dois retomaram as operações desde então.
As usinas nucleares forneciam 30% da eletricidade japonesa. Sua interdição causou uma escassez energética nacional.
Segundo a Associação Geotérmica Internacional, o Japão tem a terceira
maior reserva de energia geotérmica do mundo, atrás dos EUA e da
Indonésia, mas ocupa apenas a oitava colocação em termos de produção.
O governo japonês diz que pretende triplicar o uso de energias renováveis, inclusive a geotérmica, até 2030.
Neste ano, o governo destinou 9 bilhões de ienes (US$ 115 milhões) para
levantamentos geotérmicos e solicitou 7,5 bilhões de ienes para
continuar o trabalho em 2013. Reservou também 6 bilhões de ienes para um
programa de ajuda a desenvolvedores de energia geotérmica e está
pedindo 9 bilhões adicionais para prorrogar essa iniciativa.
A primeira usina geotérmica japonesa começou a funcionar em 1966, numa região próxima a Yuzawa.
Há, atualmente, 17 usinas geotérmicas no país, mas desde 1974 a
construção de novas unidades está suspensa, devido a preocupações
ambientais.
As usinas geotérmicas geram 535 megawatts, ou 0,2% do total nacional.
Mas seu potencial é enorme: mais de 20 gigawatts de energia geotérmica
poderiam ser produzidos no Japão, segundo um relatório governamental.
"Ao contrário das energias solar ou eólica, que dependem das condições
climáticas, a energia geotérmica é bastante consistente e estável em
termos de produção", disse Keiichi Sakaguchi, chefe do grupo de
pesquisas geotérmicas do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias
Industriais Avançadas.
Quase 80% das reservas geotérmicas japonesas ficam em áreas tombadas como monumentos ou parques nacionais.
Em março, o governo suspendeu a proibição de novas usinas geotérmicas
nesses locais, o que pode resultar em cinco projetos em monumentos e
parques nacionais.
"Muitos moradores da cidade, inclusive eu, apoiam o desenvolvimento da
energia geotérmica. Ela nos diferencia dos municípios vizinhos", disse
Shoji Sato, 77, presidente da ONG Conselho de Facilitação do
Desenvolvimento Geotérmico da Cidade de Yuzawa.
Sato admite que os operadores de pousadas em Oyasu estão "um pouco nervosos" com o risco de perderem suas águas termais.
A empresa petrolífera japonesa Idemitsu Kosan é um dos desenvolvedores
desse projeto, e seus representantes já se reuniram com líderes
comunitários para explicar os planos.
A Idemitsu quer perfurar um poço exploratório de mais de 1.500 metros
para testar o volume e a temperatura das águas termais e dos
reservatórios de vapor.
Outro grande projeto geotérmico está previsto para a Prefeitura
(província) de Fukushima. Lá, grupos locais de "onsens" ainda estão
avaliando a situação, e o levantamento técnico não foi iniciado.
Sakaguchi disse que projetos geotérmicos fora do Japão já causaram o
esgotamento de duas fontes termais, mas que "a tecnologia para detectar
movimentos subterrâneos e a tecnologia de simulação realmente melhoraram
nas últimas duas décadas, então o risco é muito menor".
O desenvolvimento de uma usina geotérmica geralmente leva 20 anos,
inclusive por causa da demora em obter a confiança e a cooperação dos
locais, segundo Sakaguchi.
Ito, do Tarobee Ryokan, está preocupado. "Parece que há algum risco envolvido", disse. "Nada é um negócio fechado."
FONTE: Folha.com/Ambiente
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