VÓRTICES CICLÔNICOS DA ALTA TROPOSFERA QUE ATUAM SOBRE A REGIÃO NORDESTE DO BRASIL
1-Introdução
Um dos principais sistemas meteorológicos que provoca
alterações no tempo da região Nordeste do Brasil é
o vórtice ciclônico da alta troposfera. Origina-se sobre o Oceano
Atlântico entre a faixa de 20oW-45oW e 0o-28oS e quando penetra no Brasil
produz tempo bom na região sul e central do Nordeste e chuvas no setor
norte do Nordeste (Gan e Kousky, 1986). Os vórtices ciclônicos em
altos níveis que atuam sobre a Região Nordeste (NE) são de
origem tropical e em geral são persistentes. Frank (1970) observou que o
tempo de vida dos ciclones tropicais frios varia consideravelmente, de algumas
semanas a algumas horas. Ele apresenta um núcleo relativamente frio em
relação a sua periferia, com subsidência que inibe a
nebulosidade no seu centro. Os vórtices deslocam-se lentamente do oceano
para o continente e vice-versa. Nebulosidade e instabilidades ocorrem nos
setores leste e nordeste do vórtice. A Figura 1 mostra aglomerados de
cumulonimbus na costa norte do Nordeste, associados a um vórtice
ciclônico, os quais provocam chuvas intensas nessa região;
próximo ao centro existem cumulonimbus devido ao efeito da
variação diurna. A sudeste do vórtice ciclônico
existe uma frente fria com posicionamento quase norte-sul, a qual provoca
chuvas ao longo da zona frontal e tempo bom à sua retaguarda. Em casos
quando a configuração vórtice-frente permanece por
vários dias pode se ter uma situação de Zona de
Convergência do Atlântico Sul (ZCAS).
Os vórtice ciclônicos da alta troposfera que atuam no NE
são observados nas estações de primavera, verão e
outono, com máxima frequência no mês de janeiro. A vida
média desse sistema varia consideravelmente, uns duram apenas algumas
horas, enquanto outros mais de duas semanas. A trajetória dos
vórtices é irregular, porém existe uma tendência
para ser anticiclônica, iniciando o círculo sobre o oceano
Atlântico Sul nas latitudes subtropicais. A formação deste
sistemas ciclônicos coincide com a época do ano onde o escoamento
em altos níveis (200 hPa) apresenta-se meridional, de sul a norte, sobre
o Brasil a leste do meridiano de 50o W. No verão o intenso aquecimento
do continente causa desenvolvimento de um anticiclone (Alta da Bolívia)
sobre a América do Sul tropical (Figueroa et al. 1995, Carvalho, 1989),
e um cavado no Oceano Atlântico próximo ao litoral nordeste do
Brasil, nos altos níveis. A intensidade do anticiclone sobre o
continente em 200 hPa, determina a formação dos vórtices
ciclônicos sobre o oceano (Gan e Kousky 1986, Rao e Bonatti 1987).
A maioria dos vórtices ciclônicos da alta troposfera estão
confinados nos altos níveis (acima de 5000m de altura), pois cerca de
60% não atingem o nivel de 700 hPa e em torno de 10% atingem a
superfície (Frank, 1966). Sua circulação ciclônica
(horária no Hemisfério Sul) surge inicialmente nas partes mais
alta da troposfera ( em torno de 12 Km de altura), estendendo-se gradualmente
para os níveis mais baixos (Gan, 1983). Os ventos são fracos nos
níveis baixos e médios, aumentando sua velocidade com a altura e
atingindo velocidade máxima em torno de 200 hPa. Essses vórtices
ciclônicos são caracterizados por um movimento descendente de ar
frio e seco no seu centro e um movimento ascendente de ar quente e úmido
na sua periferia, possuindo portanto uma circulação direta. Esse
fato ocasiona transformação de energia potencial em energia
cinética.
Os vórtices ciclônicos provocam alteração no tempo
e, dependendo de sua intensidade e permanência, causam sérios
problemas locais e regionais. Ao se deslocar para oeste sobre a Região
Nordeste, este sistemas com o centro sobre o interior do continente, inibem
chuvas sobre esta região. O vórtice também impede o
deslocamento dos sistemas frontais para o litoral do nordeste, contribuindo
para a permanência dos mesmos sobre a Região Sudeste onde causam
precipitações persistentes
2-Ocorrências no período de 1987 a 1995
Com a utilização do boletim Climanálise, foi feito um
levantamento do número de vórtices ciclônicos em altos
níveis que atuaram sobre a região NE, no período de 1987 a
1995. A identificação desses sistemas é realizada com a
utilização dos seguintes recursos: a) imagens no canal
infravermelho geradas pelo satélite geoestacionário GOES, (em
alguns períodos pelo METEOSAT), em diversos horários, b) campos
de linhas de corrente em 250 hPa das 00 e 12 UTC obtidos a partir das
análises do NCEP (National Center for Environmental Prediction), e c)
dados de precipitação obtidos a partir da carta sinótica
de superfície das 12 UTC.
A Tabela 1 abaixo mostra a freqüência dos vórtices
ciclônicos em altos níveis que atuaram sobre a Região
Nordeste do Brasil no período de 1987 a 1995. Pode-se verificar que
esse levantamento confirma a estação de maior
freqüência como dez-jan-fev com 6,8 vórtices nesses 3
meses.
A Tabela 2 destaca os vórtices ciclônicos em altos níveis
que atuaram mais de oito dias sobre a Região Nordeste. Estes tiveram
origem no Oceano Atlântico e se deslocaram para o interior do continente.
Os centros destes sistemas permaneceram em sua maioria sobre o Estado da
Bahia.
A
Fig. 1 mostra a trajetória de um vórtice que atuou no
período de 02-07 de fevereiro de 1996 sobre a Região Nordeste.
Verifica-se que o vórtice deslocou-se para norte sobre o oceano nos
primeiros 3 dias e posteriormente para oeste sobre o continente. A Fig. 2
mostra o escoamento em altos níveis nos dias 4 e 5 onde pode-se notar o
vórtice no litoral da Região Nordeste. A imagem de
satélite Meteosat-5 do dia 5 mostra o vórtice posicionado sobre o
Nordeste do Brasil ( Fig. 3 ).
Figura 1 - Trajetória do vórtice ciclônico em altos níveis no mês de fevereiro de 1996. A posição do centro do vórtice está indicada pelos círculos com os respectivos dias de ocorrência.
Figura 2 - Escoamento no nível de 250 hPa nos dias 4 e 5 de fevereiro de 1996. C indica a posição do centro do vórtice ciclônico. (FONTE: CPC/NWS) |
Figura 3 - Imagem do Satélite Meteosat-5 no canal infravermelho, do dia 05 de fevereiro de 1996 às 06 UTC. (FONTE: INPE/DSA).
FONTE: Wikipédia, a Enciclopédia Livre.
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