21/11/2012
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18h11
Não sei o que seria de mim sem as Farc, diz guerrilheira holandesa
ADALBERTO ROQUE
DA AFP, EM HAVANA
DA AFP, EM HAVANA
A guerrilheira holandesa Tanja Nijmeijer, que integra a delegação das
Farc que participa das negociações de paz com o governo colombiano em
Havana (Cuba), afirmou que não imagina a sua vida fora da organização
insurgente, à qual aderiu há uma década.
"Não posso voltar atrás nem quero voltar atrás", disse Nijmeijer,
filóloga de 34 anos, em entrevista exclusiva à AFP na Praça da
Revolução, em Havana, diante da imagem do guerrilheiro argentino-cubano
Ernesto Che Guevara, a quem "todos os membros das Farc adoram", disse.
"Sinto-me realizada como guerrilheira das Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia) e não sei o que teria sido de mim. De
repente seria dona de casa, teria três filhos, estaria divorciada, mas
isso não teria me realizado da forma que me realiza ser guerrilheira",
acrescentou a holandesa, que está em Cuba desde 5 de novembro passado.
Ramon Espinosa-21.nov.12/Associated Press | ||
A guerrilheira holandesa Tanja Nijmeijer, que representa as Farc no diálogo de paz, em Havana (Cuba) |
Única integrante europeia conhecida da guerrilha das Farc, Nijmeijer
ganha um brilho nos olhos quando fala da chegada, há mais de uma década,
à guerrilha mais antiga da América Latina, considerada organização
terrorista por Washington e pela União Europeia.
"Estou nas Farc porque é a forma de luta que o povo colombiano escolheu,
porque não lhe restou outra opção a não ser lutar com armas", afirmou
Nijmeijer, que tem como nome de guerra 'Alexandra' e que, na guerrilha,
faz trabalhos de tradução, comunicação e ensino do marxismo.
"No fim das contas, o que me motivou para estar nas fileiras das Farc é
que concebo a luta 'fariana' [das Farc] como um centro de luta no mundo e
penso que o povo colombiano é uma vanguarda de luta", acrescentou,
falando um espanhol fluente, com sotaque colombiano.
Ela admitiu que "foi muito dura" sua adaptação à vida na guerrilha e,
sobretudo, "à cultura do camponês colombiano. "Tem sido um sacrifício,
por um lado, mas me sinto muito realizada e muito contente de estar nas
fileiras" das Farc. "Estou há dez anos casada com o Exército do povo e
estou me saindo muito bem", afirmou.
DIÁLOGO
Nomeada pelas Farc uma de suas delegadas para o diálogo com o governo do
presidente Juan Manuel Santos, que está no seu terceiro dia
consecutivo, no Palácio das Convenções de Havana, Nijmeijer assegurou
que a organização guerrilheira está preparada para lutar pela paz "com
ou sem fuzil".
"Nós lutamos com fuzil ou sem fuzil e estamos aqui em Havana para lutar
sem fuzil. Queremos lutar por um processo de paz, queremos que o povo
colombiano possa viver em paz", disse Nijmeijer, a integrante da
delegação insurgente mais perseguida por jornalistas da América Latina e
da Europa em Havana.
"Para mim é uma honra estar aqui, uma honra poder contribuir com o
processo de paz na Colômbia, e, quanto a Cuba, aqui me sinto bem, Cuba é
linda", afirmou Nijmeijer, que teve a nomeação como porta-voz
interpretada como um golpe de imagem das Farc no exterior.
A guerrilheira, que viajou a Cuba depois que a Promotoria colombiana
suspendeu duas ordens de captura contra ela, uma pelo crime de rebelião e
outra com fins de extradição, espera que através das negociações "por
fim se possa fazer a paz" na Colômbia, mas "uma paz com justiça social,
com educação para todo o povo".
Nijmeijer é acusada nos EUA do sequestro, em 2003, de três empreiteiros
americanos, que foram libertados em uma operação das forças militares da
Colômbia, em 2008, juntamente com a ex-candidata à Presidência Ingrid
Betancourt, de nacionalidades colombiana e francesa.
PROTESTOS
Nijmeijer, que afirmou em Havana o desejo de viajar à Holanda para
explicar "o porquê da luta na Colômbia", elogiou os movimentos dos
"indignados" em todo o mundo, cuja luta considerou "muito importante".
"Quero parabenizar todos os jovens do mundo que estiverem lutando neste
momento, aos operários na Grécia, a todos os movimentos sociais que há
no mundo, porque estas lutas são muito importantes nesta época", disse a
guerrilheira.
Este diálogo que governo e as Farc celebram em Havana é a quarta
tentativa de paz entre as partes. O processo conta com o apoio de
Noruega e Cuba, como países garantes, e de Venezuela e Chile, como
acompanhantes.
Na Colômbia opera também a guerrilha guevarista Exército de Libertação
Nacional (ELN), que pode começar também um processo de paz com o governo
Santos, segundo declarou o grupo insurgente em um comunicado publicado
na segunda-feira da semana passada.
FONTE: Folha.com/Mundo
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