Genética
Tamanho de estrutura no DNA pode prever expectativa de vida de animais selvagens
Pesquisa mostra que o tamanho do telômero presente no cromossomo de pássaros ajuda a prever quanto tempo o animal ainda pode viver
'Acrocephalus sechellensis': pesquisa com o pássaro das
Ilhas Seicheles mostra que parte do DNA pode determinar tempo de vida
(University of East Anglia)
Uma pesquisa que será publicada nesta quinta-feira (22) na revista Molecular Biology mostra
que a análise de estruturas presentes no DNA de um animal pode ajudar a
prever sua expectativa de vida. Os pesquisadores da Universidade da
Anglia Oriental, na Inglaterra, estudaram o tamanho do telômero presente nos cromossomos de 204 pássaros selvagens da espécie Acrocephalus sechellensis, que habitavam uma ilha isolada ao leste da África.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Telomere length and dynamics predict mortality in a wild longitudinal study
Onde foi divulgada: revista Molecular Ecology
Quem fez: David S Richardson, Emma Barrett, Terry Burke, Jan Komdeur e Martijn Hammers
Instituição: Universidade da Anglia Oriental, na Inglaterra
Dados de amostragem: 204 pássaros da espécie Acrocephalus sechellensis
Resultado: Os pesquisadores mediram o tamanho dos telômeros nos cromossomos dos animais e os acompanharam até a morte. Analisando os dados, descobriram que telômeros mais curtos, e a velocidade dessa redução, poderiam ajudar a prever a expectativa de vida de um indivíduo.
Os telômeros são estruturas encontradas no final de todos os
cromossomos, que impedem a degeneração dos genes localizados nas pontas
do DNA. Eles funcionam de modo parecido com as proteções de plástico nos
cadarços. Pesquisas anteriores já haviam ligado o tamanho dessa
estrutura à idade do indivíduo. "Ao longo do tempo e da divisão celular,
esses telômeros começam a se quebrar e a se tornar menores. Quando eles
atingem um tamanho pequeno demais, fazem com que as células onde estão
alojados parem de funcionar", diz o pesquisador David Richardson, da
Universidade de Anglia Oriental, um dos autores do estudo.
A pesquisa durou vinte anos e é a primeira a medir os telômeros nas
células de uma população de animais selvagens ao longo de toda a vida
dos indivíduos. Como resultado, os pesquisadores descobriram que cada
animal apresenta uma taxa diferente de redução da estrutura. Além disso,
os telômeros menores, independentemente da idade em que foram medidos,
estão associados a aumento no risco de morte.
Segundo os pesquisadores, o tamanho do telômero pode ser usado como um
melhor indicador da expectativa de vida do que a atual idade de um
indivíduo. "Esse é um mecanismo que evoluiu para prevenir que as células
se replicassem além do controle. No entanto, ele também tem um efeito
adverso, e o crescimento das células em nosso organismo acaba levando à
degeneração, ao envelhecimento, a problemas de saúde e até à morte", diz
Richardson.
Saiba mais
TELÔMEROSSão as 'tampas' das extremidades do cromossomo, uma forma de proteção similar à presente nas pontas de um cadarço de tênis. Sempre que um cromossomo é replicado para a divisão celular, os telômeros encurtam. Esse encurtamento tem sido visto por diversos cientistas como um marcador biológico do envelhecimento, o relógio que marca a duração da vida de uma pessoa e sua condição de saúde.
Pássaros — Os Acrocephalus sechellensis são
pequenos pássaros que vivem na Ilha Cousin, uma porção de terra pequena
e isolada que faz parte da República de Seicheles, formada por um
conjunto de ilhas no leste da África. Durante as últimas duas décadas,
os pesquisadores retiraram amostras de sangue dos 205 animais duas vezes
ao ano, e mediram o tamanho dos telômeros de cada um. "Nossa intenção
era entender o que acontece ao com a estrutura ao longo de toda a vida.
Por isso esses animais foram um excelente objeto de estudo. Eles ficam
isolados em uma ilha tropical distante, sem nenhum predador, de modo que
podemos seguir os indivíduos até a velhice”, afirma o pesquisador.
Como a população dos animais era razoavelmente estável — nenhum deles
conseguia escapar da ilha — os pesquisadores conseguiram medir o tempo
de vida de cada um deles e compará-los à última medida de seus
telômeros. "Descobrimos que os telômeros pequenos, ou que estavam se
encurtando rapidamente, ajudavam a prever quais pássaros poderiam morrer
dentro de um ano. Também vimos que indivíduos que possuíam estruturas
maiores tinham maior expectativa de vida", diz Richardson.
A pesquisa também conseguiu descobrir que, apesar de o tamanho dos
telômeros diminuir com idade, ele tem uma taxa de redução diferente em
cada indivíduo. "Seu tamanho pode ser usado como medida da quantidade do
dano que um animal acumulou. Ele pode ser um indicador melhor da
expectativa de vida do que a idade cronológica, pois é capaz de
registrar o quanto de seu tempo de vida o indivíduo já gastou", diz o
pesquisador.
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Em humanos – Essa diferença no tamanho dos telômeros
entre indivíduos da mesma idade acontece porque essas estruturas são
atacadas pela oxidação, e o número dessas reações químicas varia
conforme a história de vida de cada um. "Nos humanos, atos como fumar,
se alimentar de comidas que não são saudáveis ou colocar o corpo sob
extremo estresse físico e mental têm o efeito de diminuir os telômeros",
diz Richardson.
O acúmulo dessas células desgastadas dentro de um mesmo tecido pode
resultar na falha de um órgão e, consequentemente, na morte. No entanto,
os pesquisadores ainda não sabem dizer se a longevidade depende
diretamente dos telômeros ou se os telômeros mais curtos são apenas
sinais de outros fatores que determinam a mortalidade.
FONTE: Revista Veja
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