05/11/2012
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04h00
Nuvens ajudam previsão do tempo
DAVID FERRIS
DO "NEW YORK TIMES"
DO "NEW YORK TIMES"
Desde o início, o brasileiro Carlos F. Coimbra sabia que precisava decifrar o código das nuvens.
Professor de engenharia da Universidade da Califórnia em Merced, ele
liderou uma campanha bem sucedida para que 15% da energia da escola
viesse de um conjunto de painéis solares.
Em duas ocasiões, porém, as nuvens frustraram seus esforços, lançando
sombras inesperadas e forçando a escola a depender da energia
convencional.
Então, ele tentou um novo tipo de previsão. Ele escreveu um algoritmo de
computador para projetar como as nuvens se movimentam e mudam de forma.
Hoje, seis anos mais tarde, Coimbra, 44, e seu colaborador, Jan P.
Kleissl, 37, criaram um mecanismo de previsões que afirmam ser 20% a 40%
mais preciso do que o modelo comumente usado.
Especialistas em meteorologia, energia e rede elétrica dizem que a
inovação pode acelerar a adoção de fontes de energia renovável e
possibilitar a economia de bilhões de dólares.
"Não posso dizer o que vai acontecer às 16h23 de domingo", disse
Coimbra, cujas previsões se estendem por sete dias, mas com precisão
decrescente. "Mas posso dizer o que vai acontecer hoje entre o meio-dia e
as 18h."
O potencial de economia de custos atraiu o interesse de empresas que
constroem e operam usinas de energia solar, além de empresas de
eletricidade e operadores da rede elétrica.
Uma previsão certeira torna mais fácil o uso da energia esporádica do
sol e do vento, levando a energia renovável a ter um grau de
confiabilidade próximo ao de uma usina de combustível fóssil ou de
energia nuclear.
À medida que poupa dinheiro nos mercados energéticos, a tecnologia também dinamiza o mundo das previsões meteorológicas.
As previsões ajudam os aeroportos a ter uma noção mais exata de quando
tempestades vão chegar e ir embora, o que resulta em menos atrasos de
voos.
Essa tecnologia também pode dizer a agricultores quando será a primeira
geada do ano ou quando haverá um temporal, reduzindo a necessidade de
bombear água para a irrigação.
Além disso, uma boa previsão pode guiar bombeiros que combatem incêndios
florestais, projetar o percurso de um ataque de bioterrorismo ou
localizar com precisão o caminho que será seguido por um tornado.
É provável que as previsões tenham sua primeira aplicação em usinas de
energia solar e eólica, algumas das quais mantêm grandes e caros bancos
de baterias para armazenar energia extra e liberá-la, se necessário.
Operadores da rede elétrica se acotovelam para comprar energia no
mercado financeiro quando as fontes de energia relacionadas ao tempo
escasseiam, pagando dez a cem vezes a mais do que pagariam se comprassem
com um dia de antecedência.
Uma previsão perfeita dos ventos, se representasse 20% do fornecimento
energético, pouparia entre US$ 1,6 bilhão e US$ 4,1 bilhões por ano.
O instrumento mais importante da tecnologia criada por Coimbra é uma
câmera com uma lente grande-angular que faz fotos de 13 km2 do céu a
cada 30 segundos.
Esse aparelho monitora a velocidade das nuvens e gera uma previsão para os próximos três a 20 minutos.
Para períodos maiores de tempo, o algoritmo de computador digere dezenas
de medidas -irradiância solar, velocidade do vento, imagens de
satélite, umidade do solo- e determina quais são relevantes.
Ninguém sabe como serão usadas as previsões solares quando elas forem
aperfeiçoadas, mas Coimbra acha que suas viagens de motocicleta serão
beneficiadas: "Vou saber o quanto posso ir antes de a chuva chegar."
FONTE: Folha.com/Ambiente
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