Ambiente
Por que chove tão pouco no Nordeste?
As dramáticas secas da região acontecem por duas razões
principais. Primeiro, os ventos que refrescam o sertão não conseguem
trazer a umidade que causa chuvas nas áreas vizinhas, seja o litoral do
Nordeste, o Sudeste do país ou a região amazônica. Segundo, o semi-árido
quase não tem lagos e rios volumosos, que poderiam induzir a formação
de aguaceiros locais. Alguns estudiosos ainda relacionam os períodos de
estiagem com a ocorrência do El Niño, o fenômeno de aquecimento das
águas do oceano Pacífico que bagunça todo o clima global. Por aqui, a
hipótese é que o efeito enfraqueceria a brisa do Atlântico Sul, fazendo
com que ainda menos umidade chegasse ao sertão nordestino. "Mas não
parece haver relação direta entre as duas coisas. Um levantamento feito
entre 1849 e 1985 mostra que, para 29 anos de El Niño, só 12 foram
associados com secas na região", diz o pesquisador de clima José Antonio
Marengo, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), de
Cachoeira Paulista (SP).
O sertão nordestino realmente recebe pouca chuva, concentrada
principalmente nos meses de abril e maio. O índice médio fica entre 500 e
800 milímetros por ano - só para comparar, uma cidade como Brasília
costuma ter 1 500 milímetros de chuva anualmente. As secas mais graves,
que acontecem quando o índice médio cai pela metade, aparecem em
registros históricos desde o século 16 e são comuns. Calcula-se que a
cada 100 anos há entre 18 e 20 anos de falta de chuvas. Até agora, o
século 20 foi um dos mais áridos, registrando nada menos que 27 anos de
estiagem. A seca mais longa começou em 1979. Na "terra ardendo qual
fogueira de São João", 50% do gado morreu por falta d’água, a
desnutrição explodiu e milhares de pessoas morreram de sede e fome. O
verde da plantação só começou a brotar novamente com o retorno das
chuvas cinco anos depois, em 1983.
Forno natural
Ventos fracos não levam ao sertão a umidade das regiões vizinhas
1. UMIDADE LOCALIZADA
O clima quente e a umidade abundante fazem da Amazônia a região mais
úmida do país. A área de clima equatorial é cortada por rios volumosos
que facilitam as constantes tempestades. Esse tipo de aguaceiro, porém,
não tem força para chegar ao sertão nordestino. No máximo, os ventos
úmidos alcançam o oeste do Maranhão. No resto do estado, o clima e a
vegetação refletem a transição entre a floresta equatorial e a caatinga
do semi-árido
2. SOPRO DESNUTRIDO
No litoral nordestino, o índice de chuvas é maior por causa da
umidade que vem do oceano Atlântico. O mesmo vento poderia levar água
para o sertão, já que o semi-árido nordestino não é cercado por cadeias
de montanhas que barrem os ventos úmidos. Entretanto, a brisa marítima
não é forte o suficiente para provocar chuvas numa região maior que os
100 quilômetros da faixa costeira
3. FRIO BLOQUEADO
Nas regiões Sul e Sudeste, as frentes frias que nascem no sul da
América abaixam a temperatura rapidamente no inverno e causam torós
poderosos na primavera e no verão. Entretanto, por causas de mudanças na
circulação atmosférica, essas massas de ar ficam "presas" no Sul,
descarregando toda a chuva nessa área. As frentes frias quase nunca
chegam ao Nordeste — as mais intensas atingem o sul da Bahia, mas são
pouco freqüentes
4. PROCURAM-SE RIOS
A parte mais afetada pela falta de chuvas é o chamado Polígono das
Secas, uma área de mais de 1 milhão de km2, espalhados por oito estados
nordestinos (só o Maranhão fica fora) e pelo norte de Minas Gerais.
Nessa região, onde vivem 27 milhões de pessoas, não há rios cauladosos
ou grandes lagoas capazes de fornecer umidade para provocar chuvas
locais
FONTE: Revista Mundo Estranho
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