O que foi o cangaço?
por Roberto Navarro
Foi uma onda de banditismo, crime e violência
que se alastrou por quase todo o sertão do Nordeste brasileiro entre o
século 18 e meados do século 20. Para alguns especialistas, o cangaço
teria nascido como uma forma de defesa dos sertanejos diante da
ineficiência do governo em manter a ordem e aplicar a lei. Mas o fato é
que os bandos de cangaceiros logo se transformaram em quadrilhas que
aterrorizaram o sertão, pilhando, assassinando e estuprando. Para
combatê-los, o governo reagia com as "volantes", grupos de policiais
disfarçados de cangaceiros, que muitas vezes eram mais brutais que os
próprios cangaceiros. O maior de todos os cangaceiros, Virgulino
Ferreira da Silva, o Lampião, começou a atuar em 1920. Estima-se que sua
gangue chegou a matar mais de mil pessoas. As primeiras mulheres
juntaram-se ao cangaço a partir de 1930 - a pioneira foi Maria Bonita,
companheira de Lampião. O sucesso de seus ataques contra fazendas e
vilarejos fez a polícia intensificar os esforços para enfrentá-los,
usando armamentos que os cangaceiros jamais conseguiram comprar, como
submetralhadoras. Em 1938, Lampião e Maria Bonita foram mortos por uma
volante. Um dos sobreviventes, Corisco, tentou assumir o lugar do chefe,
mas foi morto pela polícia em 1940, num ataque que encerra o cangaço.
PCC do sertão
Ataque a povoados rolava de repente e podia durar mais de um dia
DESEMBARQUE SURPRESA
Primeiro, um cangaceiro disfarçado visitava um povoado para checar a
quantidade de policiais (em geral, poucos) e avaliar sua capacidade de
resistência (em geral, nenhuma). Acertada a invasão, o bando chegava de
súbito, sem muita tática e com alarde para causar pânico geral
CHAME O LADRÃO
Nos vilarejos do sertão, a força policial costumava resumir-se a um
punhado de homens, com armas antiquadas e pouca munição. Inferiorizados
numericamente por um bando de cangaceiros armados com rifles poderosos,
só restava aos policiais fugir
BOB ESPONJAS
O estoque de bebidas alcoólicas do armazém local era confiscado pelos
cangaceiros, que promoviam enormes bebedeiras. Eles também aproveitavam
para reabastecer de cachaça seus cantis e fazer reservas para consumir
durante suas andanças pelo sertão
DEDOS LEVES
Sem a resistência policial, cangaceiros dedicavam-se a saquear o
vilarejo, roubando tudo o que tivesse algum valor e pudesse ser
carregado. Mas costumavam respeitar bens, jóias e dinheiro pertencentes à
igreja local, evitando agredir padres e sacristãos
CORDA NO PESCOÇO
Antes de sair dos povoados, os cangaceiros podiam enforcar
autoridades ou suspeitos de colaborar com a polícia. Antes de partir, os
bandidos advertiam a população de que qualquer ajuda ao governo seria
punida com a morte na invasão seguinte
COVARDIA SEXUAL
As mulheres do vilarejo, em especial as mais jovens, estavam sujeitas
a abusos sexuais e estupros. Mas alguns chefes de bandos faziam questão
de manter o respeito às mulheres da vila capturada, chegando a punir
cangaceiros que praticassem violências contra elas
O cangaceiro
Kit básico incluía rifle, cantil, roupas contra o sol - e uma pinguinha, huihui
CHAPÉU
De couro ou feltro grosso, com abas largas dobradas
CARTUCHEIRAS
Eram até 18 quilos de munição
ARMAS
A principal era o rifle Winchester 44
CAPANGA
Uma bolsa com remédios, fumo e brilhantina
LENÇO
Protegia boca e nariz contra a poeira
ROUPA
Resistente, tinha mangas compridas contra o sol
CANTIL
Um tinha água, recolhida da chuva. O outro, pinga
FONTE: Revista Mundo Estranho
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