30/06/2011
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07h39
Aves voltam a mata amazônica 20 anos após extinção local
GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
As aves da Amazônia são mais resistentes do que os cientistas
imaginavam. Espécies consideradas extintas em certas áreas da floresta
reapareceram após mais de 20 anos de sumiço.
A constatação é de um dos mais longos e abrangentes estudos sobre
impacto da destruição das matas nas populações de aves da região.
Desde o início da década de 1980, pesquisadores americanos e do Inpa
(Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) estudam 11 fragmentos de
floresta, com tamanho entre 1 hectare e 100 hectares, perto de Manaus.
Essas áreas funcionam como "ilhas de floresta" em meio a propriedades
desmatadas para receber atividade agropecuária. Elas existem porque,
para autorizar o desmatamento, exigia-se que os produtores mantivessem
um pedaço da mata nativa.
Os pesquisadores monitoraram essas aves e as áreas que elas habitavam
antes que as árvores do entorno começassem a ser derrubadas. Depois, a
partir de 1985, fizeram novas medições a cada sete anos.
CONSEQUÊNCIAS
No primeiro ano após o desmatamento, a maioria das das espécies de aves
simplesmente desapareceu desses fragmentos. Algumas migraram para outras
regiões, enquanto outras, sem alternativa, acabaram morrendo.
Por fim, aconteceu o que os cientistas chamam de "extinção local": as
espécies de aves desapareceram completamente daquelas áreas.
As perdas de espécies variaram conforme o nível de perda de cobertura
florestal e integração com o entorno. Elas foram entre 10% nas áreas
grandes e menos fragmentadas até 70% nas menores e mais isoladas da
amostra.
REGENERAÇÃO
Segundo os pesquisadores, com o tempo, a atividade agropecuária
desacelerou e a floresta voltou a crescer e a se recuperar no entorno de
alguns dos fragmentos.
Com isso, houve um processo de recolonização, com boa parte das aves retornando a suas áreas iniciais.
Em 2007, quando foi feita a última medição, 97 das 101 espécies de aves
monitoradas haviam voltado a pelo menos um dos fragmentos.
"Nossos exemplos são fotografias no tempo. Eles mostram que os
fragmentos de floresta têm potencial para recuperar sua biodiversidade
se eles estiverem inseridos em uma paisagem que possa ser reintegrada",
afirmou o ornitólogo Philip Stouffer, da Universidade do Estado da
Louisiana (EUA).
A pesquisa, paga pela Fundação Nacional de Ciência dos Estados Unidos,
considerou só as aves do sub-bosque -que voam em uma altura
intermediária na floresta- e não incluiu as das áreas mais altas ou mais
baixas.
"Embora uma pequena fração das espécies seja extremamente vulnerável à
fragmentação e previsivelmente acabe extinta, desenvolver uma segunda
geração de florestas em volta desses fragmentos estimula a
recolonização", avalia Stouffer, que chefiou o trabalho publicado na
revista especializada de acesso livre "PLoS One".
Na opinião dos cientistas, o processo de recuperação que foi mostrado
agora na floresta amazônica brasileira poderia acontecer também em
outros ecossistemas com matas tropicais no mundo.
FONTE: Folha.com/Ambiente
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